Ricardo Voltolini fala sobre os valores da sustentabilidade no Café Filosófico da TV Cultura

29 de julho de 2020

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Ricardo Voltolini fala sobre os valores da sustentabilidade no Café Filosófico da TV Cultura - Ideia Sustentável

Sustentabilidade foi o tema da primeira edição de agosto do Café Filosófico na TV Cultura, programa produzido pela emissora em parceria com o Instituto CPFL.

O convidado da vez foi o consultor e especialista Ricardo Voltolini, que tratou do tema “Por um mundo sustentável: como queremos viver depois desta pandemia?”. Foram debatidas ideias que se fortaleceram durante a crise causada pela covid-19, como a noção de que tudo e todos estão interligados, a revalorização da empatia, o aumento da cooperação entre setores, a revalorização do humano e a ressignificação do trabalho.

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Voltolini também questiona, durante a conversa, se essas questões contribuirão para um olhar mais cuidadoso sobre pautas como consumo consciente, desigualdades sociais, desmatamento da Amazônia, diversidade, direitos humanos e até mesmo os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, exigindo de todos um posicionamento menos egocêntrico e mais ecocêntrico.

Adaptando-se às recomendações dos órgãos de saúde, o programa foi captado em formato de live, à distância, e foi ao ar no dia 02/8. Pode ser assistido, na íntegra, no vídeo abaixo, e você também confere a seguir um resumo com os principais pontos discutidos.

Sustentabilidade no Café Filosófico

Confira, a seguir, uma síntese das principais ideias discutidas pelo consultor Ricardo Voltolini durante o programa Café Filosófico.

Como aprofundamento da discussão, a Ideia Sustentável recomenda o seguinte artigo do especialista: Como sentem, pensam e agem líderes com valores, não só nas pandemias

Como queremos viver depois desta pandemia?

Na primeira parte de sua reflexão no Café Filosófico, Voltolini aborda o conceito de crise, relacionando ao momento atual pelo qual passa a humanidade com a pandemia de covid-19 – que gerou não só uma crise de saúde pública, mas também econômica, política e social -, e como as pessoas e instituições respondem à situação.

“As crises não melhoram e nem pioram pessoas e instituições. Crises são fenômenos neutros, sem intencionalidade. O máximo que elas fazem é acelerar processos de reflexão que estão na origem de pequenas e grandes mudanças de valores e crenças, atitudes e comportamentos. Crises trazem consigo diferentes oportunidades para desaprender e reaprender”.

Segundo o consultor, com a crise do coronavírus não foi diferente, pois estimulou avanços e reflexões em temas que já estavam em evolução. Para Voltolini, o fato de a crise colocar a todos em uma situação de igual vulnerabilidade frente a um inimigo comum e invisível, e também de obrigar as pessoas a um confinamento nunca antes experimentado, foi possível a abertura de uma janela para reflexões importantes.

Os temas que ganharam relevância durante essa crise já possuem em si o potencial de transformar, para melhor, “o modo de se viver, sentir e interagir, conosco, com o outro e com o meio ambiente”. Contudo, o especialista aponta que cada pessoa possui estágios diferentes em sua vida e na sua relação com a sociedade e natureza, e que a evolução das discussões não significa que todas as pessoas e instituições se tornarão melhor. Além de uma escolha, há diversos fatores a serem considerados, como seus próprios valores e crenças.

De acordo com Ricardo Voltolini, esses temas que estão repercutindo durante a crise compõem os valores da sustentabilidade. São eles:

A relação da crise com as mudanças climáticas

No segundo bloco do Café Filosófico, Ricardo Voltolini faz uma reflexão sobre a relação entre o vírus e as mudanças climáticas. Para ele, a relação existe, mas ainda não foi compreendida ou não está sendo suficientemente discutida.

Retomando os valores de sustentabilidade mencionados do bloco anterior, o consultor questiona por que não usá-los também, partindo da noção de interdependência, para resolvermos questões como mudanças climáticas, desmatamento da Amazônia e consumismo.

Segundo dados apresentados pelo consultor, 4 milhões de pessoas morrem por ano no mundo por causa de doenças respiratórias causadas pela poluição. Além disso, pessoas com problemas respiratórios sofrem mais com doenças como a covid-19.

Citando o ecologista Tim Benton, Voltolini aponta que pandemias poderão ser comuns no futuro da humanidade devido às mudanças no clima do planeta, além de outras catástrofes como ondas de calor, incêndios, enfermidades ligadas à água contaminada, desnutrição entre os mais pobres e doenças transmitidas por vetores.

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A queima de combustíveis fósseis e a destruição de ecossistemas, por exemplo, tendem a aproximar o ser humano de espécies silvestres, o que pode acelerar mudanças genéticas que favorecem perspectivas para o surgimento de novas doenças, para as quais talvez o homem não esteja preparado, como é o caso do novo coronavírus.

Portanto, a humanidade precisa agir, e Voltolini indica algumas ações a serem tomadas pela sociedade:

“Nós somos a oitava maior economia do mundo, mas metade de nossa população não tem saneamento básico”

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E a economia?

A sociedade, sobretudo os Governos, precisam perceber a importância da sustentabilidade para a vida nas cidades, e notar o aprendizado que a pandemia proporcionou. Com o home-office forçado, diminui-se o tráfego de veículos pelas ruas, o que reduz a poluição e melhora a mobilidade urbana. Essa nova modalidade de trabalho deve ser vista com atenção, menciona Ricardo.

O consultor também fala de investimentos em áreas como energia, transporte, saneamento, melhorando a infraestrutura das cidades. E o momento para colocar isso em prática é agora, pois as empresas estão precisando de novos investimentos para retomar as suas atividades e superar a crise econômica causada pela pandemia.

Um novo olhar para o mundo

Já no terceiro bloco, Voltolini fala sobre os alertas que cientistas do mundo todo têm dado sobre a situação de emergência climática, e a necessidade da sociedade se reinventar e transformar seus modelos de produção e consumo.

“Olhando pelo filtro da interdependência, que é o tema abordado nessa reflexão, a doença que tem matado europeus, africanos, asiáticos e americanos é a mesma. De forma parecida, o mesmo aquecimento global também coloca em risco a vida de todas as pessoas do mundo”.

Dica de leitura: Investidores assinam manifesto por ações corporativas contra desmatamento e queimadas na Amazônia

O consultor também aborda a questão da Amazônia, que foi assunto bastante polêmico recentemente. Do mesmo modo que a floresta serva aos brasileiros como um grande regulador climático, também tem esse papel para o resto do mundo. A Amazônia, segundo apontam cientistas, pode virar um deserto se não preservada. É o processo de desertificação.

“A floresta em pé não deveria ser um projeto exclusivo de alguns heróis ambientalistas. Deveria ser preocupação de todos. É imperativo que nós nos sintamos parte da Amazônia, e isso ainda não acontece. Precisamos senti-la como uma extensão da nossa vida, do que é vivo em nós e que precisa seguir vivo. Mantê-la em pé é a única forma de mantermos o equilíbrio do clima que nos mantem vivos”.

Para o consultor, é papel de todas as pessoas zelar pela Amazônia, e isso pode ser feito sem grandes esforços no dia a dia de cada um, como repensar a forma de se consumir, como exemplo a redução de consumo de carne ou a escolha por não adquirir produtos feitos de madeira de origem desconhecida.

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Diferenças de posicionamento

Durante o Café Filosófico, Ricardo Voltolini cita dois tipos de posicionamentos tomados por líderes e empresas durante a pandemia, e que produziram efeitos diferentes para si.

Alguns líderes mais pragmáticos tomaram ações com a intenção de pressionar as autoridades públicas para terminar com as regras de isolamento, a fim de não parar com seus negócios. Entre suas ações, demitiram inúmeros funcionários e não respeitaram as recomendações dos órgãos de saúde. As empresas comandadas por esses líderes sofreram com campanhas populares furiosas nas mídias sociais e com o boicote de consumidores, o que as prejudicou ainda mais.

Por outro lado, empresas que respeitaram as recomendações dos órgãos de saúde, se preocuparam com seus stakeholders e apoiaram a sociedade com projetos e ações voltadas a reduzir os danos da pandemia ganharam o respeito do público, se fortaleceram e estão sendo recomendadas por seus consumidores e funcionários.

“Se durante a pandemia o poder de manifestação do publico puniu e premiou empresas, por que não utilizar desse poder para, depois da pandemia, também punir as que desmatam e destroem o meio ambiente e premiar as que protegem os ecossistemas e impactam positivamente a sociedade? Isso irá atingir as empresas em seu ponto mais sensível, que é a receita”.

Alta do conceito de sustentabilidade

Voltolini explica que a busca por sustentabilidade já estava em alta antes da pandemia. O especialista cita alguns fatos que demonstram que o conceito tornava-se pré-requisito para a sobrevivência de empresas.

Lucro a qualquer custo?

Retomando a alta do conceito de sustentabilidade e as recentes discussões e posicionamento de lideranças empresariais, no quarto bloco do Café Filosófico, Ricardo Voltolini faz uma reflexão acerca do capitalismo.

“O capitalismo é um sistema que gera riqueza – o que é inegável – mas também produz desigualdades. O sistema gera empreendedorismo mas, ao mesmo tempo trata o ser humano de forma muito absurdamente pragmática”.

Para o consultor, o capitalismo usa exageradamente os recursos naturais, e a sociedade agora sente o peso dessa exploração que esfalece o patrimônio ambiental. Contudo, há uma nova pressão formada principalmente pelos millennials de se mudar a estrutura capitalista e fazer com que o sistema se reveja.

“Quando mudamos o modelo de produção e consumo, mudamos também a vida de cada pessoa. Passamos a conter um processo de aquecimento global que coloca em risco a vida humana. Nenhuma espécie destrói o ambiente em que vive, a não ser o homem”.

De acordo com Voltolini, sustentabilidade não é uma discussão exclusiva de empresas, mas uma discussão civilizatória no século XXI. E no contexto de vulnerabilidade causada pela pandemia de covid-19, o tema ganha relevância ainda maior e não poderá retroceder.

Para o especialista, o lucro acima de qualquer custo é uma ideia em decadência e completamente em extinção. O lucro que passa a ser desejado pelas empresas, sobretudo as lideranças pelos millennials, é o que se gera em benefício de pessoas e meio ambiente. “As empresas já entenderam que é possível ter mais recursos destinados às questões sociais”, afirma Voltolini.

Dica de leitura: O mundo mudou. E o papel dos líderes empresariais também. Eis a era dos CEOs ativistas. Por Ricardo Voltolini

Há uma oportunidade de as empresas e governos se unirem para transformar a realidade da sociedade e resolver gaps de desenvolvimento e infraestrutura. E se essa união de investimento social privado com políticas públicas já estivesse em prática antes da pandemia, talvez o país estivesse passando pela crise de uma forma mais tranquila, segundo o consultor.

Sobre o Programa Café Filosófico

O Café Filosófico é um programa de televisão brasileiro, transmitido pela TV Cultura. É resultado de uma parceria entre a emissora e o Instituto CPFL. Consiste em uma série de encontros com especialistas de diferentes áreas do conhecimento, para tratar de variados temas da contemporaneidade.

Os encontros são transmitidos ao vivo, disponibilizados na rede, editados e exibidos na TV aberta. As gravações acontecem às sextas-feiras, no auditório do Instituto CPFL, em Campinas/SP, com transmissão ao vivo tanto pelo site quanto pelas redes sociais. Em tempos de pandemia, contudo, os encontros têm sido realizados à distância, respeitando o isolamento social e com todo o cuidado necessário recomendado pelos órgãos de saúde. O programa editado é exibido aos domingos na TV Cultura.

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Escrito por Marcos Cardinalli

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