A crise da Covid-19 acelerou um processo de ressignificação das empresas e do seu papel na sociedade. Nunca se discutiu tanto no mundo corporativo a importância da empatia, da solidariedade, das relações humanas, da cooperação, do respeito aos indivíduos, da transparência, da visão de interdependência e da necessidade de ser agente de mudança a favor do coletivo.
A sensação de vulnerabilidade geral, a urgência do isolamento social e a dura constatação de históricas desigualdades sociais no meio de uma pandemia, com efeitos nunca antes experimentados, provocaram as empresas a assumirem, de vez, uma responsabilidade que já vinha em discussão de ser “parte da solução” e não mais “parte do problema”. Convocadas a atuar, em regime de emergência, muitas, felizmente, passaram no teste da coerência entre discurso e prática de ESG/sustentabilidade.
Com base nas conclusões feitas em nosso estudo “11 Tendências de Sustentabilidade empresarial no ‘outro normal'”, elencamos os 8 Princípios dos Negócios Sustentáveis. A ideia é que eles sejam uma fonte de inspiração e de causas para todos os que estão à frente de empresas, querendo acelerar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
Confira quais são os 8 Princípios dos Negócios Sustentáveis:
1 – O mundo precisa de empresas capazes de colocar o propósito antes do lucro.
A crise tem contribuído para revisar a ideia de empresa, fortalecendo novos conceitos como o do “capitalismo de stakeholder”, defendido recentemente no Fórum Econômico Mundial. Cada vez mais o que a sociedade espera é que as empresas cumpram o seu papel principal – solucionar problemas – e que sejam competentes em gerar valor e distribuir resultados para todas as partes interessadas, assumindo a responsabilidade de serem agentes de transformação em benefício do coletivo.
2 – O mundo precisa de empresas que tratem os humanos como humanos e não apenas recursos.
O principal ativo das empresas são as suas pessoas. Colaboradores são pais, mães, maridos, esposas, filhos. Integram famílias, comunidades, sociedades. E por isso têm direito a uma vida cujo valor não pode ser determinado apenas pelo trabalho. Os humanos estão também nas comunidades. Humana é a diversidade. Cada vez mais os indivíduos vão querer investir, comprar de e trabalhar em organizações
cujos valores se afinam com os seus e que demonstrem cuidado individualizado, escuta afetiva, respeito às diferenças e preocupação genuína com o bem-estar e qualidade de vida.
3 – O mundo precisa de empresas mais preocupadas em cooperar do que competir na construção de respostas para os dilemas da sociedade.
A crise reforçou a importância do ODS 17, que trata das parcerias entre diferentes atores da sociedade. A compreensão maior de nossa vulnerabilidade aumentou a empatia, a solidariedade e o senso de
responsabilidade. Se foi possível a empresas concorrentes atuarem em cooperação durante a pandemia, será possível, também, fora dela trabalharem em conjunto, de modo planejado e sistêmico, para enfrentar as mudanças climáticas e suprir déficits históricos de bem-estar social.
4 – O mundo precisa de empresas mais sensíveis à noção de interdependência.
A crise nos mostrou que tudo e todos estamos conectados. Impossível pensar na prosperidade de uma empresa sem considerar a prosperidade de todos os grupos impactados por ela, especialmente os mais vulneráveis. Impôs-se uma nova consciência segundo a qual nossas atitudes e escolhas individuais determinam coletivamente o mundo que queremos hoje e para as próximas gerações.
5 – O mundo precisa de empresas mais éticas, cuidadoras e transparentes.
Transparência fortalece a confiança. Em tempos de crise, nos quais colaboradores, fornecedores, parceiros de negócio e comunidades esperam por cuidado e proteção, cresce a necessidade por informações precisas, posicionamentos firmes e valores claros. Empresas que compreenderam a importância da transparência, comunicaram-se adequadamente com os seus stakeholders e prestaram contas à sociedade saíram mais fortes.
6 – O mundo precisa de empresas interessadas não só em zerar impactos, mas regenerar.
Apenas eliminar impactos socioambientais negativos, já se sabe, não será suficiente para conter um processo acelerado de mudanças climáticas e esgotamento de recursos naturais. Desafia-nos a necessidade de investir em tecnologias, processos disruptivos de produção e novos modelos de negócio
capazes de gerar impactos positivos para o meio ambiente e as comunidades afetadas pelos negócios.
7 – O mundo precisa de empresas com mais líderes orientados por valores.
A crise da Covid-19 ressaltou a importância de um novo tipo de liderança, orientada por valores e preparada para fazer a transição de um modelo convencional de negócios para outro mais ético, transparente, justo, íntegro e respeitoso em relação à diversidade, às pessoas e ao meio ambiente. Trata-se de um líder mais empático, cuidador, atento e ecocêntrico.
8 – O mundo precisa de empresas que sejam parte da solução e protagonistas de uma nova economia.
A crise abriu importantes janelas de oportunidade para acelerar a agenda de sustentabilidade, intensificar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e promover uma economia menos intensiva em uso de recursos naturais e emissões de carbono. Bancos centrais, bancos e governos podem utilizar o seu poder de conceder empréstimos e isenções fiscais para estimular, como contrapartida, investimentos na adoção de energias renováveis, preservação da floresta em pé, economia circular, geração de trabalho e renda, regeneração de ambientes degradados, saúde, segurança e bem-estar de pessoas e comunidades.
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