O que é sustentabilidade empresarial? Entenda como surgiu esse conceito e como ele evoluiu ao longo do tempo

O que é sustentabilidade empresarial? Entenda como surgiu esse conceito e como ele evoluiu ao longo do tempo

A sustentabilidade é uma ideia contemporânea cada vez mais abordada em todos os setores da sociedade mundial, de modo especial no universo corporativo. Mas você sabe o que é sustentabilidade empresarial e como esse conceito tem evoluído ao longo dos anos? Entenda, no texto a seguir, como surgiu o termo desenvolvimento sustentável e por que as empresas incorporaram a sustentabilidade na sua estratégia de negócio.

Como tudo começou

Os primeiros ensaios sobre o conceito remontam aos anos 1970, mais precisamente a 1972, quando o termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado, pela primeira vez, durante a Conferência de Estocolmo, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na capital sueca. Em 1987, voltou a ser abordado no Relatório Brundtland, coordenado pela ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Desde então, o conceito de sustentabilidade vem evoluindo e ganhando contornos adaptados às realidades de governos e empresas.

Como desdobramento de reuniões e conferências da ONU, o termo “sustentabilidade” difundiu-se rapidamente entre os setores da sociedade e foi incorporado ao vocabulário das corporações, da imprensa e das organizações da sociedade civil.

A noção mais moderna de sustentabilidade nasce da compreensão de que é necessário equilibrar os resultados econômicos com a preservação ambiental e desenvolvimento social. Essas três dimensões correspondem exatamente ao triple bottom line (tripé da sustentabilidade), conceito cunhado pelo consultor britânico John Elkington no final da década de 1980. Elkington defende que só se pode falar em sustentabilidade se existir equilíbrio entre cada um dos vértices do tripé.

  • – econômico: um empreendimento sustentável deve ser financeiramente eficiente, ou mais propriamente dito, ecoeficiente
  • – ambiental: modelos de produção e consumo que assegurem que os ecossistemas tenha condições de se autorregenerar
  • – social: contempla as condições para que todas as pessoas tenham acesso aos recursos necessários para uma vida saudável e bem-estar, estando implícita a erradicação da pobreza.

Linha do Tempo da Sustentabilidade Empresarial

A consultoria Ideia Sustentável levantou os principais momentos da história da Sustentabilidade Empresarial e os dividiu em 4 fases, que explicam a mudança de mindset para os valores da sustentabilidade.

1° Estágio: Indiferente

Período em que especialistas e chefes de estado inseriram as preocupações ambientais em sua agenda, mas com baixa ou nenhuma ressonância nas empresas.

  • – 1968 – CLUBE DE ROMA: Fundado pelo industrial italiano Aurelio Peccei e pelo cientista escocês Alexander King, reunia personalidades influentes para discutir questões ligadas à política, economia internacional e seus impactos no meio ambiente. Em 1972, com a publicação do relatório Os Limites do Crescimento, ampliou a ressonância de suas discussões pelo mundo.
  • – 1987 – RELATÓRIO BRUNDTLAND: Documento elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, chefiada pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. O documento aponta a necessidade de utilizar os recursos naturais com responsabilidade, preservando-os. Intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future), o relatório apresentou a primeira definição do conceito de Desenvolvimento Sustentável: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.”
  • – 1992 – CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (ECO 92): Conferência que reuniu os principais chefes de Estado do mundo para discutir desafios ambientais. Organizada pelas Nações Unidas e realizada na cidade do Rio de Janeiro, visava disseminar a ideia de um modelo de crescimento econômico menos consumista e impactante ao equilíbrio ecológico.
  • – 1994 – DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE TRIPLE BOTTOM LINE: O consultor britânico John Elkington define as bases para a economia do futuro, que deveria ser orientada não mais exclusivamente pelo resultado econômico das atividades empresariais, mas por uma ideia de “tripla” prosperidade: econômica, social e ambiental. Para Elkington, uma organização sustentável é aquela financeiramente viável, socialmente justa e ambientalmente responsável. Trata-se do “tripé da sustentabilidade”: econômico, social e ambiental; ou, em inglês: 3Ps: People, Profit and Planet.

2° Estágio: Filantropia Empresarial

A partir do Triple Bottom Line, as empresas começam a entender que suas atividades geram impactos (ou externalidades) no ambiente e na sociedade. Nessa época, ganha força uma cultura de doação, como se a “ajuda” a instituições compensasse os danos causados no ambiente pelas atividades empresariais.

  • – 1998 – CRIAÇÃO DO INSTITUTO ETHOS: Criado por um grupo de empresários e executivos da iniciativa privada, o Instituto Ethos tem como objetivo aprofundar o compromisso das organizações brasileiras com o desenvolvimento sustentável, por meio da produção de conhecimento, troca de experiências e de ferramentas para apoiar empresas na análise de suas práticas sociais e ambientais.
  • – 1999 – ÍNDICE DOW JONES DE SUSTENTABILIDADE: O Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) é um conjunto de indicadores de avaliação de desempenho em sustentabilidade de milhares de empresas de capital aberto. Com o DJSI, as questões socioambientais ganham peso nas análises de investidores.

3° Estágio: Responsabilidade Social

As empresas passam cada vez mais a se preocupar com as questões socioambientais, mas ainda de forma “à parte” do negócio, em projetos pontuais. Começam, então, a surgir movimentos com o objetivo de promover a integração do tema com o negócio.

  • – 2001 – RELATÓRIO GRI: Idealizado pela Global Reporting Initiative, organização internacional independente, o relatório GRI estabelece um padrão de formato e indicadores que permitem o reporte de resultados econômicos, sociais e ambientais de empresas, governos e outras organizações. Este padrão visa contribuir com a gestão de questões atuais, como mudanças climáticas, direitos humanos e corrupção, e permite a comparação do desempenho de instituições de diferentes portes e setores.
  • – 2003 – PRINCÍPIOS DO EQUADOR: Regras de concessão de crédito que levam em conta questões sociais e ambientais. Foram definidas por dez dos maiores bancos em financiamento internacional de projetos (entre eles ABN Amro, Citigroup, Crédit Suisse, Rabobank e Royal Bank of Scotland), que se mobilizaram para garantir a responsabilidade nos investimentos, especialmente nos mercados emergentes, onde nem sempre há legislações rígidas em defesa do meio ambiente e direitos humanos.
  • – 2006 – CRIAÇÃO DO SISTEMA B: Movimento global que busca alinhar negócios e impacto positivo, disseminando uma nova visão de sucesso no mercado. As empresas integrantes usam sua influência e capacidade para solucionar desafios socioambientais. Ao se adequar aos requisitos do Sistema B, as organizações tornam-se “B-Corp” e passam a integrar oficialmente a iniciativa.
  • – 2007 – PAINEL DO IPCC: Criado em 1988 no âmbito das Nações Unidas, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem como objetivo estudar e disseminar conhecimento avançado sobre mudanças climáticas. Em 2007, o IPCC lançou quatro capítulos de um estudo completo sobre aquecimento global, que se tornou a maior referência na questão.

4° Estágio: Sustentabilidade Estratégica

Os conceitos e movimentos criados nos anos anteriores desencadearam o processo de busca pela inserção da sustentabilidade na estratégia dos negócios, tirando-a da pauta de projetos pontuais ou periféricos.

  • – 2011 – GERAÇÃO DE VALOR COMPARTILHADO: O conceito cunhado por Michael Porter e Mark R. Kramer busca colocar no centro dos negócios a ideia de que uma empresa deve gerar valor não só para ela mesma, mas também para a sociedade, reconectando a visão de sucesso corporativo com a de progresso social.
  • – 2012 – RIO+20: Oficialmente intitulada Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 marcava os 20 anos da ECO-92, também realizada no Rio de Janeiro. Seu principal objetivo era a renovação do compromisso político global com o desenvolvimento sustentável.
  • – 2014 – 5º RELATÓRIO DO IPCC: Trata-se da mais recente atualização das atividades do IPCC, com apontamentos e sínteses de pesquisas de milhares de cientistas do mundo todo, cujos achados confirmaram, ainda com mais solidez, a influência das atividades humanas sobre o aumento do aquecimento global.
  • – 2015 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: Acordo firmado na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, com 17 objetivos (os 17 ODS) e 169 metas, envolve temáticas diversificadas. Os ODS devem orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos 15 anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
  • – 2018 – CARTAS DE LARRY FINK: Anualmente, Laurence Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, com mais com mais de US$ 6 trilhões sob sua administração, publica uma carta para seus investidores. Em 12 de janeiro de 2018, ele afirmou no documento, intitulado A Sense of Purpose, que vem refletindo sobre desafios socioambientais e a responsabilidade das empresas de incluírem as preocupações com sustentabilidade nas suas agendas, uma vez que os governos têm falhado na condução desses problemas.

A evolução do triple bottom line e o conceito ESG

Mais recentemente, com a ascensão do conceito ESG (environmental, social e governance), a dimensão econômica do tripé passou a abrigar, por demanda de investidores e acionistas, outros temas além das questões financeiras, como ética, compliance e transparência, que têm impacto direto nos negócios e na reputação da corporação. Cada vez mais, não só o público consumidor, mas os próprios investidores têm exigido que as companhias nas quais aplicam seus recursos financeiros sejam reconhecidas como empresas sustentáveis e com propósito. Já existem diversos indicadores nas bolsas de valores pelo mundo que apontam as corporações mais comprometidas com o desenvolvimento sustentável, como o Dow Jones (bolsa de Nova York) e o Índice de Sustentabilidade Empresarial (B3, a bolsa oficial do Brasil).

Saiba mais: Investidores assinam manifesto por ações corporativas contra desmatamento

Já na dimensão social, temas antes considerados menores, como diversidade e inclusão, passaram a ter importância fundamental em tempos de employer branding (reputação do empregador).
Esses novos temas e abordagens decorrem da pressão feita pelos millennials – pessoas nascidas a partir da década de 1980 -, que representam cerca de 35% da força de trabalho atual e movimentam 40 trilhões de dólares anuais na economia do mundo. Eles já se decidiram em que empresas querem trabalhar, de quais querem comprar e nas quais querem investir: as mais sustentáveis.

Apesar de toda a sua riqueza, ainda é comum que muitas pessoas dentro e fora das empresas reduzam a sustentabilidade apenas às questões ambientais. Ela, contudo, integra também as questões econômicas, sociais e culturais que possam oferecer aporte sobre demandas voltadas às relações humanas dentro das organizações.

CEO da Ideia Sustentável e um dos principais especialistas brasileiros em sustentabilidade empresarial, o consultor Ricardo Voltolini criou um conceito próprio para o termo:

“Sustentabilidade é um modo de pensar e fazer negócios com ética, transparência, integridade, responsabilidade, respeito ao outro e à diversidade em todos os seus aspectos e cuidado com o meio ambiente”.

Dica de leitura: 5 benefícios da diversidade para as empresas
 

Agenda 2030 e ODS

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram instituídos pela ONU como um apelo universal para proteger o planeta e garantir que todas as pessoas tenham dignidade. Eles compõem a Agenda 2030, um conjunto de programas, ações e diretrizes que conduzem os trabalhos da ONU e dos países membros rumo ao desenvolvimento sustentável e à paz universal. A Agenda 2030 substitui a antiga Agenda 21, e tem um prazo para ser cumprida até o ano de 2030.

Os ODS foram criados no Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro, em 2012, mas as discussões que levaram ao lançamento da Agenda 2030 – e de suas 169 metas – finalizaram em 2015, em uma reunião em Nova York dos 193 Estados-membros da ONU, com a oficialização do documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. Os ODS orientam governos, empresas e sociedades para um mundo mais sustentável e servem como diretrizes para que os países superem os desafios ambientais, políticos, sociais e econômicos mais urgentes.

Clique aqui para saber mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

O órgão da ONU responsável por estimular empresas a adotarem os ODS é o Pacto Global, iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade.

O papel da liderança na promoção da sustentabilidade

Segundo Ricardo Voltolini, os líderes têm papel fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável. Afinal, são eles quem tomam as decisões e influenciam nos negócios. Contudo, há um perfil de liderança mais comprometida em colocar em prática os valores da sustentabilidade:

“É impossível falar de liderança para a sustentabilidade sem falar de liderança com valores. O líder sustentável não é um líder apenas pragmático, que só olha para números, planilhas e toma decisões importantes. Para ele, as decisões não são apenas técnicas, envolve valores. Ele mesmo tem valores, que podem ter sido herdados do núcleo familiar, na primeira infância, ou reforçados por suas experiências ao discutir mais sobre sustentabilidade. Respeitam a diversidade, o outro, o meio ambiente, a transparência e a ética. Quando o líder se deixa conduzir por esses valores, ele tem mais chances de se tornar um líder sustentável”.

A partir da observação de que havia um fator em comum nas empresas orientadas por valores de sustentabilidade na segunda metade dos anos 2000 – a presença de líderes que atuam com ética, transparência, integridade, promoção da diversidade, respeito ao outro e cuidado com o meio ambiente -, Voltolini fundou a Plataforma Liderança com Valores (PLV), um movimento que reúne líderes empresariais para discutir sustentabilidade e gerar conteúdo sobre os temas de ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) que hoje definem mais modernamente a sustentabilidade empresarial.

Lançada em 2011, a Plataforma tem como objetivo identificar, selecionar, registrar e compartilhar histórias de empresas e líderes que vêm promovendo a mudança para modelos de gestão orientados por valores e, portanto, mais sustentáveis. E faz isso usando a técnica de storytelling, com o apoio de livros, revistas e vídeo-palestras.

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