A relação entre Cooperativismo e Sustentabilidade

A relação entre Cooperativismo e Sustentabilidade

Apesar dos primeiros modelos de cooperativas datarem do século XIX, o Cooperativismo tem ganhado maior importância na atualidade, especialmente com o aumento da consciência socioambiental e da busca por padrões mais sustentáveis de negócios. Entenda, nesse artigo, a relação entre Cooperativismo e Sustentabilidade, ainda que seus conceitos tenham surgido em épocas distintas.

Saiba mais: O que é sustentabilidade empresarial e como o conceito evoluiu ao longo do tempo.

Os Princípios do Cooperativismo e ESG

As primeiras instituições declaradamente cooperativistas surgiram por volta de 1840, como uma alternativa aos modelos capitalistas da época – marcados pelo período da Revolução Industrial, em que se buscava o lucro acima de tudo, sem se preocupar com as condições desumanas do trabalho e com o esgotamento dos recursos naturais.

Ainda que o conceito de desenvolvimento sustentável tivesse sido utilizado, pela primeira vez, mais de um século depois, o Cooperativismo é um movimento que já nasce com valores de sustentabilidade. Os seus princípios que regem o Cooperativismo estão alinhados com a ideia do triple botton line ou ESG:

  • Princípios da Adesão Voluntária e Livre e da Autonomia e Independência: cooperativas são socialmente justas e culturalmente diversas
  • Princípios do Interesse pela Comunidade e da Educação, Formação e Informação: cooperativas têm conduta ecologicamente correta
  • Princípios da Participação Econômica e Gestão Democrática pelos Membros: cooperativas são economicamente viáveis

Normalmente, as cooperativas são formadas por micro e pequenos empresários ou produtores, que não teriam, sozinhos, recursos suficientes para investir em suas empresas. O modelo de negócio, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), “busca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos”.

Os bons resultados da cooperação constituem uma prova de que é possível unir desenvolvimento social e econômico, sustentabilidade e produtividade, individual e coletivo. O cooperativismo beneficia as pessoas, o país e o planeta.

“Trabalhar com cooperativas pode ser um grande desafio para quem atua com sustentabilidade, mas temos, em nosso favor, os próprios princípios do Cooperativismo. Um deles fala sobre o cuidado e o respeito com a comunidade, e as cooperativas se baseiam nisso desde sua fundação”, afirma Maike Mohr, gerente de Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade na Unimed do Brasil, em uma palestra da Plataforma Liderança com Valores.

“E eu afirmo a vocês: é possível, sim, fazer a gestão da sustentabilidade independente do porte e do tamanho da empresa”

Maike Mohr, durante evento da Plataforma Liderança com Valores

Exemplo de boas práticas em sustentabilidade

A Unimed é maior sistema cooperativista de trabalho médico do mundo, e também é a maior rede de assistência médica do Brasil, presente em 83% do território nacional. De acordo com Maike, a companhia sempre teve muitos projetos voltados às questões sociais, mas foi em 2001 que foi identificada a necessidade de uma Política Nacional de Sustentabilidade para a cooperativa, sendo esse o primeiro grande avanço para internalizar a sustentabilidade na gestão do negócio. Em 2003, a Unimed lançou seus indicadores nacionais de sustentabilidade.

A área de sustentabilidade da Unimed é integrada à área de desenvolvimento humano. A companhia educa o médico antes dele se tornar um cooperado, para que ele compreenda desde o início o conceito e a importância da sustentabilidade, bem como os princípios do cooperativismo.

O grande desafio da Unimed, segundo Maike Mohr, é deixar de curar doenças para, além da prevenção, promover a saúde. “Assim, teremos uma sociedade melhor, com mais pessoas saudáveis e menor impacto ambiental e, mais do que isso, as pessoas poderão entender que é possível termos uma qualidade de vida melhor”, explica.

Olhar da ONU para as cooperativas

Com o crescimento exponencial de cooperativas pelo mundo, as Nações Unidas passaram a ter um olhar mais atento ao movimento. De acordo com a ONU, as cooperativas contribuem diretamente com sociedades mais inclusivas, além de serem protagonistas na execução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Em 2018, a OCB, o Serviço Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) assinaram e oficializaram um compromisso conjunto para que as cooperativas brasileiras se empenhem na construção de uma sociedade e economia mais justas, sustentáveis, equilibradas e com melhores oportunidades para todos. A partir do acordo, as ações das cooperativas brasileiras estarão mais alinhadas aos ODS e às metas globais da Agenda 2030.

“A ONU considera o cooperativismo uma ferramenta essencial para construir uma sociedade mais justa e sustentável. Onde uma cooperativa se instala, ali são disseminados os valores desse modelo de negócio e, o resultado disso é o fortalecimento dos direitos humanos em todos os níveis”, afirmou Niky Fabiancic, coordenador-residente do Sistema Nações Unidas no Brasil e representante-residente do PNUD, durante a ocasião.

Saiba mais: A importância do cooperativismo na promoção da sustentabilidade

Tendências de sustentabilidade no setor cooperativista

Em um estudo inédito realizado há dois anos, a consultoria Ideia Sustentável identificou seis desafios e oportunidades em sustentabilidade para uma cooperativa de crédito.

Foto do conteúdo apresentado por Ideia Sustentável no Anuário 2020 da MundoCoop. O título do conteúdo é Tendências de Sustentabilidade no Setor Cooperativista.

No esforço de realizar o estudo, a consultoria mapeou cooperativas pelo mundo e analisou rankings importantes, como o Coop International Co-operative Alliance e o Sustainable Co-op feito pela Corporate Knights – este último aponta as cooperativas mais sustentáveis de acordo com 12 critérios.

Além disso, analisou cooperativas nacionais dos 13 ramos de atuação, presentes em rankings reconhecidos, como Valor 1000, Maiores e Melhores, Melhores Empresas para Trabalhar, Guia Exame de Sustentabilidade e Corporate Knights.

Feito o mapeamento, a Ideia Sustentável avaliou cada uma delas a partir de variáveis como iniciativas ambientais e sociais, publicação de relatórios (GRI), presença do tema na estratégia, metas de sustentabilidade e modelo de governança.

Com base nos achados do estudo, a consultoria elencou seis desafios e oportunidades em sustentabilidade para cooperativas:

  • 1. Promoção da Diversidade e Inclusão: em muitos lugares do país, as cooperativas são as únicas instituições de seu setor de atuação; logo, elas interagem com públicos ainda mais diversos do que os das demais organizações, tornando a promoção da D&I um desafio, mais do que estratégico, urgente. A integração do tema à gestão e à cultura organizacional favorece a abertura ao diálogo e processos de inovação em produtos e serviços, orientados para os diferentes públicos, além de contribuir como fator importante de atração e retenção de talentos.
  • 2. Engajamento de stakeholders em sustentabilidade: para se criar e assegurar uma cultura de sustentabilidade, que leve associados, colaboradores e fornecedores a considerar, nas suas tomadas de decisão e no dia a dia dos negócios, valores como ética, transparência, respeito à diversidade e cuidado com o meio ambiente, é fundamental o desenvolvimento de programas customizados para formação de pessoas.
  • 3. Educação financeira: uma das externalidades negativas relacionada à atividade das cooperativas é o risco de endividamento dos clientes. Portanto, é papel das cooperativas implementar estratégias e processos claros para a disseminação de informações e conhecimento que contribuam para saúde financeira das famílias integrantes.
  • 4. Ética e transparência: as decisões do cotidiano das cooperativas devem priorizar os interesses coletivos dos associados e de outras partes interessadas no negócio. Por isso, o estabelecimento de relações confiáveis impactam diretamente na perenidade do negócio. Para isto, a implementação e o monitoramento de mecanismos que fortaleçam um modelo de governança democrático, transparente e participativo valoriza a reputação e dá legitimidade para sua atuação.
  • 5. Critérios socioambientais e operação ecoeficiente: as cooperativas têm papel relevante no desenvolvimento econômico. Elas devem integrar os riscos e oportunidades socioambientais nas tomadas de decisão em todos os níveis, no desenvolvimento de projetos, estruturação de processos e atividades ecoeficientes.
  • 6. Desenvolvimento de comunidades: as comunidades são fonte de oportunidades para fomento de negócios, parcerias, geração de emprego e renda. Há, também, necessidades de desenvolvimento em torno dos valores do Cooperativismo como liberdade, igualdade, democracia, respeito e transparência. Amadurecer este relacionamento possibilita, às cooperativas, a construção de conhecimento sobre particularidades específicas de cada localidade, que favorece a identificação de novas oportunidades de atuação, a inovação na oferta de produtos e serviços e, consequentemente, alavancam o desenvolvimento econômico.

O papel da liderança na promoção da sustentabilidade dentro do cooperativismo

Segundo Ricardo Voltolini, os líderes têm papel fundamental para a promoção do desenvolvimento sustentável. Afinal, são eles quem tomam as decisões e influenciam nos negócios. Contudo, há um perfil de liderança mais comprometida em colocar em prática os valores da sustentabilidade, conforme aponta Voltolini em um de seus artigos:

“É impossível falar de liderança para a sustentabilidade sem falar de liderança com valores. O líder sustentável não é um líder apenas pragmático, que só olha para números, planilhas e toma decisões importantes. Para ele, as decisões não são apenas técnicas, envolve valores. Ele mesmo tem valores, que podem ter sido herdados do núcleo familiar, na primeira infância, ou reforçados por suas experiências ao discutir mais sobre sustentabilidade. Respeitam a diversidade, o outro, o meio ambiente, a transparência e a ética. Quando o líder se deixa conduzir por esses valores, ele tem mais chances de se tornar um líder sustentável”.

No contexto das cooperativas, a formação de lideranças para a sustentabilidade tem um peso especial, uma vez que todos os cooperados são líderes de seu próprio negócio e trabalham em conjunto na tomada de decisões.

Em maio de 2020, Voltolini participou, junto a Luiz Edson Feltrim, superintendente no Instituto Sicoob para o Desenvolvimento Sustentável, e Oscar Antonio Trombetta, presidente da Diretoria Executiva da Fundação Aury Luiz Bodanese (Cooperativa Aurora), de um webinar organizado pelo portal MundoCoop sobre o papel social do Cooperativismo. Confira abaixo a conversa na íntegra:

Escrito por Marcos Cardinalli e publicado originalmente no Anuário Brasileiro do Cooperativismo 2020

Palestra sobre Cooperativismo e Sustentabilidade

Em 2017, sob encomenda de um cliente, Ideia Sustentável realizou um amplo estudo de cenários, tendências e melhores práticas do setor de cooperativismo. Desse material resultou um estudo e inúmeras palestras e workshops mostrando como este importante segmento de atuação tem trabalhado a sustentabilidade em sua gestão e estratégia.

Clique aqui para saber mais sobre as palestras e workshops realizados pela Ideia Sustentável.

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