O discurso de Greta Thunberg e a participação do Brasil na COP25

O discurso de Greta Thunberg e a participação do Brasil na COP25

Entre os dias 2 e 13 de dezembro de 2019, acontece a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – a COP25. Líderes mundiais e representantes de mais de 200 países se reúnem em Madrid, na Espanha, para discutir sobre a situação do clima no planeta e encontrar soluções sustentáveis para o aquecimento global.

Os governos têm enfrentado uma crescente pressão da sociedade, principalmente das gerações mais jovens, para que medidas mais ambiciosas sejam tomadas. Liderados por Greta Thunberg, jovens do mundo todo têm protestado pelo clima, e suas manifestações tem ganhado repercussão mundial e o apoio de ativistas e celebridades.

Jovens protestam pelo planeta. Foto: Shutterstock

Greta, uma adolescente sueca de 17 anos, ficou conhecida após faltar às aulas todas as sextas-feiras em um ato de protesto contra a falta de atitude do governo para frear o aquecimento global. Sua atitude inspirou outros jovens pelo mundo a fazer o mesmo. Na edição anterior da conferência, a adolescente fez um discurso que impulsionou ainda mais as manifestações.

“Não se resolve uma crise sem a tratar como crise. E se as soluções dentro do sistema são tão impossíveis de encontrar, talvez tenhamos de mudar o próprio sistema. Não estamos aqui para implorar aos líderes mundiais que cuidem. Ignoraram-nos no passado e voltarão a ignorar-nos. Esgotaram as desculpas e estamos a ficar sem tempo. Estamos aqui para vos dizer que a mudança está a chegar, quer queiram quer não. O verdadeiro poder pertence às pessoas”, clamou Greta no final de seu discurso.

Dica de leitura: A paz corre risco em um mundo de extremos climáticos, por Ricardo Voltolini

A jovem Greta também participa da COP25, e seu discurso foi um dos momentos mais aguardados do encontro.

O discurso de Greta e a presença em massa de jovens ativistas na COP25

Na manhã do dia 09 de dezembro, Greta e outros jovens ativistas discursaram na COP25. “Mudanças climáticas não são algo que causarão impacto no futuro, pois elas já afetam as pessoas que vivem hoje”, afirma Greta.

Antes de passar a palavra para a moderadora Luisa Neubauer e a outros jovens, Greta se pronunciou. “Nós, Luisa e eu, não falaremos hoje. Somos privilegiadas, pois nossas histórias já foram contadas, e não são as que devem ser ouvidas, mas as de outras pessoas, especialmente do Hemisfério Sul e das comunidades indígenas. Criamos esse evento como uma plataforma para compartilhar as histórias que precisam ser conhecidas”.

Greta cedeu seu espaço para que crianças de todo o mundo expusessem como o aquecimento global já tem influenciado em suas comunidades, como um garoto das Ilhas Marshall, onde lutam contra a subida das águas do mar; um ativista russo que contou sobre repressão de pessoas em manifestações pelo clima; e uma jovem nativo-americana que lembrou as contínuas lutas contra a exploração dos territórios indígenas.

A situação do Brasil

Além dos Estados Unidos, cujo presidente Trump retirou do Acordo de Paris, principal acordo mundial para redução dos gases de efeito estufa, o Brasil também foi destaque, de modo negativo, na Conferência.
O mal-estar do país com a COP25 vem desde a época pós-eleitoral em 2018, quando o governo de transição decidiu retirar a candidatura do Brasil para sediar a Conferência da ONU. Já em 2019, com o novo governo empossado, foi crescente a má reputação do país frente ao esforço global pelo cuidado e proteção do meio ambiente. Além de criticar duramente a atuação de ativistas e ONGs, o governo ainda chegou a acusá-los de crimes ambientais, como no caso dos incêndios florestais na Amazônia.

O ano brasileiro também foi marcado por grandes desastres socioambientais, como o rompimento da barragem de Brumadinho, o aumento de invasões e ataques a terras e povos indígenas, o incêndio na Amazônia que representa uma das maiores queimadas da história na floresta, e o vazamento de óleo nas praias do Nordeste. A situação se complica, ainda, pelo posicionamento do governo brasileiro, que adota uma postura não coerente com as discussões sobre meio ambiente – como aumentar o número de agrotóxicos permitidos no país – e por tentar suavizar, no discurso, os impactos causados por esses acontecimentos, além de culpabilizar ONGs com atuação ambiental por  crimes como incêndios na floresta amazônica. E até para o ator e ativista Leonardo DiCaprio sobrou acusações.

Por esses motivos, o Brasil tem estado no centro das atenções durante a convenção. O país ganhou, já no início da conferência, o troféu “Fóssil do Dia”, irônico prêmio organizado pela Climate Action Network (CAN) e concedido por ONGs para as nações que “estão fazendo o seu melhor para bloquear o progresso nas negociações sobre o combate ao aquecimento global”. A rede ainda critica o país pelo desmantelamento da política ambiental e do Fundo Amazônia e pelo aumento da exploração ilegal de madeira e da violência contra povos indígenas.

Ministro do ambiente se reúne com ONGs

A comitiva brasileira participou da COP25, porém com uma postura mais defensiva. No dia 09 de dezembro pela manhã, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, participou de uma reunião com ONGs. O encontro marca a primeira vez que o ministro se reúne com organizações da sociedade civil. Salles afirmou a necessidade de se buscar pontos convergentes, entretanto, saiu logo após sua fala, antes que as discussões se encerrassem.

O ministro ainda propôs arrecadação de fundos para desenvolvimento da Amazônia. “É preciso monetizar os serviços ambientais. Precisam de recursos para serem valorizados. A nossa vinda à COP neste ano tem tudo a ver com isso”, disse. Salles defende que os países poluidores paguem aos que ainda têm florestas para que as preservem.

Ricardo Salles, atual ministro brasileiro do Meio Ambiente. Foto: divulgação

Também estiveram presentes no encontro as ex-ministras do Meio Ambiente, Marina Silva e Izabella Teixeira, que se pronunciaram após a fala – e saída – do atual, Ricardo Salles. Marina e Izabella criticaram a atual gestão ambiental no país e cobraram ações efetivas para preservação do meio ambiente.

“O Brasil, que já foi visto como parte da solução, agora se constitui em um grande problema, que está configurado inclusive em algo muito triste, de termos o assassinato de mais duas lideranças indígenas do povo guajajara quando há pouco tempo teve o assassinato dos guardiões. A violência na Amazônia tem aumentado sobremaneira. O desmatamento aumentou quase 30% depois de ter caído por 10 anos em 83%, mesmo em um país que crescia a uma média de 3 a 4% e agora estamos quase em recessão e o desmatamento aumenta”, disse Marina Silva. Já Izabella Teixeira questiona: “Aqui não é lugar de barganha, é lugar de construção”.

Leia também: Sustentabilidade é estratégia para vencer a crise

Uma década para Agenda 2030

A COP25 é a última conferência da ONU antes da década de 2020, quando passa a faltar apenas 10 anos para o cumprimento da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Segundo relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), para que seja alcançada a meta de manter o aumento da temperatura média global em 1,5°C em relação aos níveis da era pré-industrial, as emissões de gases de efeito estufa precisam diminuir mais de 7% ao ano no período entre os anos de 2020 e 2030.

Para cumprir a meta, é necessário uma união entre todos os setores da sociedade, como governos, empresas, universidades e ONGs. As empresas, contudo, podem contribuir muito com o cumprimento dos ODS e com a diminuição do aquecimento global, sobretudo em países onde a política adotada pelos governos caminha em sentido oposto ao movimento global de preocupação com os ecossistemas e com o clima do planeta.

Uma ação organizada pelo Pacto Global, iniciativa proposta pela ONU para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, incentiva empresas a assumirem um compromisso público com a redução de gases de efeito estufa, através da campanha Our Only Future.
No Brasil, algumas empresas já aderiram à campanha e se comprometeram a reduzir drasticamente suas emissões. Uma delas foi a Cervejaria Ambev, cujo presidente da operação brasileira assinou o documento do Pacto Global durante o CEO com Propósito 2019, encontro da Plataforma Liderança com Valores que reuniu líderes empresarias para discutir ativismo empresarial.

Saiba mais: Cervejaria Ambev assina compromisso com a campanha Our Only Future
 
 
Escrito por Marcos Cardinalli

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