Potencial turístico explorado em benefício do desenvolvimento sustentável

6 de maio de 2008

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Por Juliana Campos Lopes
O turismo representa 7,5% da economia brasileira com uma arrecadação de US$ 4,953 bilhões que o Ministério do Turismo espera saltar para US$ 7,7 bilhões até 2010. Para alcançar esse objetivo, a sustentabilidade ocupa lugar de destaque entre as diretrizes estabelecidas no Plano Nacional de Turismo 2007-2010.
Com a tendência de crescimento do turismo no Brasil e as expectativas otimistas dos empresários, o momento atual não poderia ser mais oportuno para disseminar a prática da sustentabilidade no setor. Segundo dados do Banco Central, as divisas geradas pelo turismo atingiram US$ 600 milhões em janeiro de 2008. O desempenho é o melhor já obtido desde 1969, quando teve início a série histórica da pesquisa de indicadores de crescimento do turismo. Os números são vistos com otimismo pelos empresários do ramo. Segundo Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo, 70% dos executivos do setor de turismo apostam no crescimento da economia brasileira.
Cresce também a percepção junto ao empresariado de que a sustentabilidade contribui diretamente para a perenidade do negócio. Uma prova disso é a corrida para obtenção de certificações como a ABNT NBR 15401 que atesta o turismo sustentável em meios de hospedagem.
No entanto, a efetivação de um novo modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade depende ainda da adesão dos diferentes níveis de governo e da sociedade civil. “Não adianta o Ministério do Turismo dar o norte em relação a todos os cenários de sustentabilidade, se não houver a capacitação dos recursos humanos nos níveis federal, estadual e municipal do governo, assim como do setor privado para desenvolvimento da visão sistêmica. Do contrário, continuará se reproduzindo um modelo baseado em uma visão de curto prazo, pouco sustentável, que pode inviabilizar a atividade turística no destino”, afirma Mário Beni, Conselheiro Titular do Conselho Nacional de Turismo.

Regionalização do turismo

Para fomentar o turismo como indutor do desenvolvimento sustentável do País, foi criado o Programa Nacional de Municipalização do Turismo em 1994. O PMNT visa à conscientização, estímulo e capacitação nos municípios para que despertem e reconheçam a importância do turismo como gerador de emprego e renda, conciliando o crescimento econômico com a preservação dos patrimônios ambiental, histórico e cultural.
Em um primeiro levantamento, foram identificados 1.800 municípios com potencial turístico. Neles, realizaram-se oficinas de capacitação para elaborar um pensamento estratégico coletivo e traçar um cenário ideal para o desenvolvimento da atividade turística.
Em 2007, passou a se chamar Programa de Regionalização do Turismo e estabeleceu 65 destinos turísticos que serão priorizados para receber investimentos técnicos e financeiros. Eles possuem infra-estrutura básica e atrativos qualificados para atrair e distribuir turistas para seu entorno, assim como dinamizar a economia da região em que está inserido.

Superar a sazonalidade
Localizada entre o Vale do Paraíba e o litoral norte, Ilha Bela (SP) foi um dos destinos escolhidos como prioritários no Programa de Regionalização do Turismo.
A atividade surgiu como alternativa natural para o município, em que 85% do território corresponde ao Parque Estadual de Ilha Bela, um dos poucos remanescentes de mata atlântica do estado de São Paulo.
“A atividade agrícola entrou em decadência na cidade a partir da década de 30. Com isso a população de Ilha Bela caiu de 25 mil para 50 mil habitantes. A partir de 1960, acompanhando o movimento de pessoas da capital de São Paulo para o litoral sul e norte, começou a atividade turística no município”, afirma Eduardo Espiaut, diretor de turismo de Ilha Bela.
O principal desafio para o município é equilibrar a sazonalidade do turismo. “Para evitar a superlotação da ilha precisamos distribuir os turistas ao longo dos 12 meses do ano, o que também favoreceria a economia da cidade. Para tornar isso possível, estamos divulgando Ilha Bela em outros mercados que têm períodos de férias diferentes dos brasileiros. Já participamos de feiras em Berlim, Estocolmo, Copenhague e vamos participar agora de um workshop em Buenos Aires”, afirma Espiaut.
Em 2005, o município elaborou o Plano Gestor de Turismo. Após a realização de estudos e reuniões com o setor privado, comunidade local e representantes da prefeitura, definiu-se como elementos-chave para o desenvolvimento do turismo questões referentes à infra-estrutura, modelos de gestão mais integrados e mecanismos de adequação da oferta à demanda turística.
A lei de preservação ambiental foi a primeira medida decorrente do plano. Ela tem como objetivo restringir a entrada de automóveis na ilha a 10 mil unidades por dia e arrecadar recursos para minimizar os impactos causados por cerca de 1,2 milhões de turistas que visitam o município anualmente.
As tarifas variam de R$2 para motos e automóveis até R$300 para vans. Os recursos obtidos serão destinados a projetos de educação ambiental e conservação do Parque Estadual de Ilha Bela.
“O atrativo turístico da cidade é a qualidade e não a quantidade. Qualidade em todos sentidos, em relação ao meio ambiente, aos serviços e atendimento prestados ao turista”, ressalta Espiaut.
Como destino prioritário selecionado no Programa de Regionalização do Turismo, Ilha Bela tem a responsabilidade de multiplicar experiências bem-sucedidas para outros municípios. Reconhecida pelas operadoras por ter o melhor porto de parada, a cidade dará suporte a Ubatuba para recepcionar cruzeiros marítimos.
Em busca de novos mercados

Com a construção da hidroelétrica de Itaipu, na década de 70, muitas terras de Foz do Iguaçu (PR) foram alagadas, inviabilizando a agricultura e a pecuária, atividades desenvolvidas na época. Segundo Felipe Gonzalez, secretário de turismo do município, o empreendimento trouxe 40 mil trabalhadores para Foz do Iguaçu e fez com que a população da cidade saltasse de 25 mil para 150 mil habitantes em três anos. “A construção de Itaipu causou uma mudança no perfil econômico de Foz do Iguaçu que passou a se dedicar ao comércio e à prestação de serviços. O desenvolvimento do turismo veio por conseqüência em função dos atrativos naturais da cidade que abriga o Parque Nacional do Iguaçu e tem posição geográfica estratégica, pois faz fronteira com Paraguai e Argentina”, afirma.
Em 1986, Foz do Iguaçu teve seu primeiro plano de desenvolvimento turístico. A partir de então, as questões relativas à sustentabilidade passaram ser incorporadas à gestão do turismo. Em 1989, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) fez um estudo que identificou a necessidade de estabelecer critérios para a visitação ao Parque Nacional do Iguaçu. Em 2000, foi criado o plano de manejo, executado desde então por meio de uma PPP (Parceria Público Privada).
“A visitação passou a ser controlada. A entrada de veículos particulares foi proibida e criou-se um sistema de transbordo, em que os visitantes vêm até a parte externa do parque e são transportados em um ônibus de dois andares com capacidade para 72 pessoas em uma visita monitorada. Assim, o turista tem mais oportunidade de interação com a natureza”, ressalta Gonzalez.
Foz do Iguaçu também é um dos 65 destinos selecionados pelo Programa de Regionalização do Turismo. Junto com São Paulo e Rio de Janeiro, figura entre as cidades brasileiras que mais recebem turistas estrangeiros interessados em lazer, segundo a pesquisa “Caracterização e Dimensionamento do Turismo Internacional no Brasil”, elaborada pela Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e Universidade de São Paulo (USP).
Em agosto de 2007, teve início o projeto “Foz do Iguaçu Destino Mundial”, cujo objetivo é desenvolver novos mercados a partir da divulgação do município em eventos internacionais de turismo. A iniciativa envolve a prefeitura, o Conselho Municipal de Turismo, a Itaipu Binacional, o Instituto Chico Mendes – instituição sem fins lucrativos – e o Iguassu Convention & Visitors Bureau – organização que reúne empresas do setor turístico.
Foz do Iguaçu recebeu 1,77 milhão de visitantes em 2007, representando um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. Até 2011, pretende-se atingir 2 milhões de visitantes.
“O principal desafio é conciliar o crescimento com a preservação das características ambientais e sociais do município, que sustentam o turismo. Por isso, o aumento do número de turistas deve ocorrer de forma organizada e sustentável”, ressalta Gonzalez.

Experiências pelo mundo

Trocar informações com países que já têm resultados positivos em relação ao desenvolvimento sustentável do turismo é um dos objetivos do projeto de benchmarking “Excelência em Turismo – Aprendendo com as Melhores Experiências Internacionais” realizado pelo Ministério do Turismo, Sebrae e Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).
Nova Zelândia e Cancun apresentam experiências bem-sucedidas que podem auxiliar o Brasil a se tornar mais sustentável e competitivo no mercado internacional de turismo.

Box 1: Nova Zelândia

O turismo contribui, direta e indiretamente com quase 10% do PIB e é responsável por quase um em cada 10 empregos.  Existem cerca de 10 grandes companhias com ações na bolsa de valores, mas, a imensa maioria das empresas do setor de turismo (cerca de 18.000) é de pequeno e médio porte, realidade parecida com a do Brasil.
Foi o primeiro país a ter um Ministério do Turismo (1901).
A partir de 90, o país apostou em uma tendência de consumo baseada em tradições, cultura, aventura e contato com a natureza e tornou-se referência mundial em Ecoturismo e Turismo de Aventura.

Box 2: Cancun
Situada em Quintana Roo, recebe cerca de 3 milhões de visitantes por ano. De desconhecida aldeia de pescadores há 40 anos, tornou-se o principal destino turístico do México e Caribe graças a um programa governamental que começou nos anos 60.
Os Ministérios de Turismo e Educação do México dotaram a aldeia da infra-estrutura necessária e prepararam os moradores de Cancun desde o ensino básico para desenvolverem habilidades e competências voltadas para o turismo. Essas condições favoráveis para o desenvolvimento da atividade, atraíram investimentos internacionais.
“Nas décadas de 70 e 80, grandes grupos hoteleiros se instalaram na região e esse crescimento econômico foi acompanhado pela inclusão social de mais de 60% da população local. A qualificação da população foi o fator que determinou o sucesso do processo de massificação do turismo em Cancun”, afirma o consultor de turismo Mário Beni.

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