Especial – O que vem depois de Copenhague?

Especial – O que vem depois de Copenhague?

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Realocação tributária. É um caminho?
Estabelecer meios eficazes de incluir as externalidades nos cálculos econômicos, sobretudo, os custos associados às emissões de carbono,  é o próximo grande desafio a ser enfrentado por governos e empresas. Foi tema de debates acalorados na Convenção do Clima. E deve ser mote para muita polêmica nos próximos anos. “Uma coisa é saber quanto as empresas estão emitindo, outra é quantificar em termos financeiros o impacto das mudanças climáticas para a sociedade. Essa é uma discussão mais ampla, que as ecompanhias não podem fazer sozinhas”, afirma Theoto.
Alguns economistas defendem a criação de um imposto do carbono que incorpore, por exemplo, os custos do aumento em gastos indiretos, resultantes das mudanças climáticas, com o objetivo de encorajar o investimento em fontes de energia limpas e renováveis. Boa na teoria, complexa na prática, essa ideia circulou, sem grande repercussão nos encontros da programação paralela da Cop 15.
O ambientalista Lester Brown, voz mundialmente respeitada, é um dos defensores dessa tese que causa arrepios nos mais conservadores. Em seu livro Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização, ele faz uma interessante análise dos custos indiretos da gasolina a partir de informações do Centro Internacional de Avaliação Tecnológica. Os vários custos indiretos para a sociedade – incluindo as mudanças climáticas, subsídios e reduções fiscais para a indústria petrolífera, a proteção ao suprimento de petróleo, e o tratamento de doenças respiratórias associadas às emissões automobilísticas – totalizam US$ 3,17 por litro de gasolina, valor ligeiramente maior do que fumar um maço de cigarros. “Se este custo externo, ou social, for adicionado ao preço de quase US$ 1 por litro de gasolina nos EUA, o litro passaria a custar mais de US$ 4. E este é o custo real. Alguém terá que pagá-los. Se não formos nós, serão nossos filhos”, ressalta Brown do alto da experiência de quem já participou de muitas COPs, e preferiu, cautelosamente, acompanhar a última pela televisão, de sua casa, em Washington, nos EUA.
Para Aileen Ionescu-Somers, vice-diretora do Centro de Gestão de Sustentabilidade Corporativa do IMD, a famosa escola de negócios suíça, as perspectivas para a taxação das emissões de gases de efeito estufa não são animadoras, pelo menos no curto e médio prazos. “As economias europeias, por exemplo, já enfrentam problemas de concorrência em relação aos países asiáticos. Muitas atividades fabris foram transferidas para a China e Índia. Se começarmos a colocar em prática mais impostos e, se isso não ocorrer em uma base internacional, teremos um sério problema de competitividade”, ressalta.
Destruição criativa para uma nova economia
Em meio ao cenário de incertezas que se seguiu à desmoralizada COP 15, arriscar projeções tornou-se tarefa inglória. Isso explica a cautela adotada pela maioria dos analistas ambientais tanto em relação à viabilidade do acordo adiado para o México (tida como improvável para muitos!) quanto ao cumprimento das metas voluntárias pelos países mais ricos em tempos de convalescença de crise econômica. Sobre o “acordinho” costurado, ás pressas e para constar, no final da Convenção de Copenhague, vale destacar que apenas há um mês os EUA resolveram assiná-lo. China e Índia seguem, a rigor, fora dele. Cumpridas as metas que os países encaminharam à Convenção do Clima, o aquecimento global chagará a 3,9% contra os 2% recomendados pela ciência.
Entre reticentes e céticos, os especialistas ouvidos por Ideia Socioambiental, durante a Convenção e depois dela, aqui no Brasil, concordam, no entanto, em um ponto: dada a sua complexidade, o desafio das mudanças climáticas exigirá novos arranjos econômicos e políticos, o que significa dizer, mais cooperação interssetorial. Isso vale, sobretudo, para os esforços de inovação, que resultarão cada vez mais da ruptura com modelos de negócios passadistas. Mas vale também para governos que terão que definir, em diálogo com a sociedade, o tipo e os limites de crescimento econômico desejáveis para suas nações.
Esse novo modelo mental, evidentemente mais sistêmico, sujeito  a uma infinidade de variáveis típicas deste novo século, desafia a lógica do tradicional pensamento linear. O que, por exemplo, uma empresa farmacêutica na Dinamarca, líder na fabricação de insulinas e combate a diabete, pode oferecer em termos de soluções para as mudanças climáticas? Como uma companhia de embalagens, de origem sueca, pode estimular o investimento em energias renováveis na China? Que tipo de conhecimento uma ONG norte-americana pode partilhar com empresas interessadas em  reduzir emissões? Empresas, governos e ONGs terão de trabalhar juntos nesse quadro marcado por intrincadas conexões e conhecimento novo a ser ainda construído.
Um bom exemplo de novo arranjo é o projeto Climate Savers, da WWF, apresentado pelo IMD na CoP 15. Reunidas em torno dele, empresas como a Novo Nordisk, Tetrapack, HP, Lafarge, Sony e Johnson&Johnson têm buscado soluções para as mudanças climáticas em cooperação com governos e ONGs. “Apesar da ausência de um acordo efetivo em Copenhague,  aumentará a pressão sobre o que os negócios estão fazendo para reverter as mudanças climáticas. Por isso, as empresas devem se unir aos demais setores, uma vez que esse é um problema comum que afetará a todos, sem exceção”, explica Aileen do IMD.
Distâncias geográficas e diferenças culturais não impediram, por exemplo, que a dinamarquesa Novozymes e a brasileira Braskem reunissem forças. No meio da COP 15, as duas companhias anunciaram uma parceria para o desenvolvimento em larga escala do polietileno verde, visto como rica oportunidade de negócio na nova economia de baixo carbono.
Os planos das duas companhias são ambiciosos e miram a chamada bioeconomia. “Estamos caminhando para um mundo de petróleo limitado e caro. A indústria química procura alternativas para os seus produtos. A parceria com a Braskem é um movimento para uma economia verde, em que a cana de açúcar será o novo petróleo”, afirmou Steen Riisgaard, presidente da Novozymes, em anúncio da parceria, feito em dezembro de 2009.
Com base na análise do ciclo de vida do produto, a Braskem descobriu que o plástico verde reduz a emissão de 2,5 toneladas de CO2 para cada tonelada de produto. Enquanto que a utilização de enzimas, segundo dados da Novozymes, proporciona uma redução de 100 quilos de CO2 para cada quilo de enzima adicionada ao processo produtivo.  Isso é inovação a serviço do planeta.

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