Dossiê – Greenwashing no Brasil

Dossiê – Greenwashing no Brasil

Estes símbolos querem dizer a mesma coisa? Não!
Apesar de parecidos, possuem significados diferentes que, se mal comunicados, podem confundir o consumidor.
Alguns são aplicados de maneira correta conforme a ISO 14021. Mas nem sempre o consumidor conhece as regras por trás da simbologia.  Sem alguma explicação, o símbolo pode enganar o comprador, incorrendo assim no Pecado da Incerteza.
Outros Exemplos:
– “Não tóxico” – Tudo é tóxico em dosagens suficientes. Água, oxigênio, sal são todos potencialmente perigosos.
– “Natural” – Arsênio, urânio, mercúrio, formaldeído são todos naturais, mas venenosos.
– “Verde”, “Amigo do Meio Ambiente”, “Ecologicamente Correto” (e mais outras variações de terminologia) são algumas características sem significado se não contiverem alguma explicação.
O Pecado da Incerteza é o mais comum entre os produtos brasileiros, correspondendo a 46% de todos os pecados cometidos e percebido em 55% de todos os produtos com apelos ecológicos verificados.
 

Em comparação com outros países, o percentual brasileiro em relação ao total de pecados é significativamente maior. Mas se tratado no conjunto de produtos que apresentam o Pecado da Incerteza, fica no mesmo nível percentual das demais nações. Sobressai o Reino Unido, com 62%.
4 – O Pecado do Culto a Falsos Rótulos
Ocorre sempre que um produto, por meio de palavras ou imagem, transmite a impressão de que seu atributo socioambiental teve o endosso de uma terceira parte sem, de fato, contar com ele. Ele se baseia nos falsos rótulos.
Algumas marcas de desodorantes e outros produtos spray/aerosol, por exemplo, costumam trazer nas embalagens mensagens do tipo “Não contém CFC – Inofensivo à Camada de Ozônio”. Na verdade isso é apenas uma imagem e não resultado oficial de uma certificação feita por terceiros.
No Brasil, o Culto a Falsos Rótulos soma 9% de todos os pecados cometidos.
Na comparação com outros países, o Pecado do Culto a Falsos Rótulos também aparece de forma menos frequente nas embalagens dos produtos brasileiros (14%).
Com o aumento de produtos que se dizem ecologicamente corretos no mercado, a certificação por terceiros passou a ter cada vez mais importância na comunicação de produtos e serviços, uma vez que estes selos enaltecem o produto, assegurando a veracidade dos critérios de responsabilidade social e ambiental pontuados em seu rótulo. Infelizmente, alguns produtos adotam estratégias para enganar os consumidores, utilizando-se de símbolos e selos que parecem – mas não são – certificados de terceiros.
5- O Pecado da Irrelevância
Comete-se esse pecado quando se utiliza de uma declaração ambiental que, apesar de verdadeira, não chega a ser importante ou útil para os consumidores que buscam produtos ecologicamente preferíveis. Pelo fato de ser irrelevante, distrai o consumidor na busca por opções mais verdes.
O exemplo mais frequente de apelo irrelevante está relacionado ao Clorofluorcarboneto (CFC) – uma substância que contribui para a destruição da camada de ozônio. Apesar de banida por lei há 30 anos, muitos produtos ainda comunicam o apelo “não contém CFC” como sendo uma aparente vantagem ambiental. Cerca de 8% dos produtos cometem o Pecado da Irrelevância, totalizando 5% do total de apelos verificados.

6- O Pecado do “Menos Pior”
Corresponde a declarações ambientais que podem ser verdadeiras na categoria do produto, mas que costumam distrair a atenção do consumidor do maior impacto ambiental da categoria do produto como um todo.
Os cigarros orgânicos constituem um bom exemplo. Até podem ser uma escolha mais responsável para fumantes, mas não seria mais recomendável desencorajar o hábito de fumar? O mesmo raciocínio vale para inseticidas e pesticidas que se apresentam como ecologicamente mais corretos.
No Brasil não foi encontrado nenhum produto que cometesse o Pecado do “Menos Pior”. Nos demais países sua incidência também é pequena.
7- O Pecado da Mentira
Como o nome revela, baseia-se em declarações ambientais falsas. Apenas no Brasil (cinco itens) e no Canadá (13) foram encontrados produtos que alegaram atributos socioambientais inexistentes.
Comparando os apelos por categoria de produto do Brasil com a média dos outros quatro países, o segmento de cosméticos e higiene pessoal foi o que apresentou a maior frequência de apelos mentirosos.
Nesse pecado, o Brasil difere da média mundial principalmente em uma categoria. No setor de construção, foram encontrados apenas 3% de todos os apelos. No restante dos países, esse percentual sobe para 19%.
Se por um lado há alinhamento do Brasil com o que ocorre em mercados dos países desenvolvidos quanto às duas categorias com grande incidência de apelos ecológicos (cosméticos e produtos de limpeza), por outro observa-se uma diferença importante em relação ao tipo de pecado cometido.
Enquanto no Brasil essas categorias apresentam o Pecado da Incerteza com frequência muito maior, nos outros países o Pecado do Custo Ambiental Camuflado é o que sobressai em relação aos demais.

Essas categorias impactam a saúde humana na medida em que cosméticos e produtos de limpeza entram em contato com o corpo das pessoas.  Logo, comunicar informações precisas é imprescindível para validar seu verdadeiro impacto ambiental e as garantias de segurança individual.
Entre todos os apelos apresentados de forma escrita nas embalagens dos produtos brasileiros, a preocupação com a reciclagem do produto ou sua embalagem é a que aparece com maior frequência. Para uma parcela importante de fabricantes, o posicionamento sustentável da sua oferta passa por, apenas, declarar a capacidade de reciclagem das embalagens e/ou seus conteúdos.
Outro apelo também bastante comum diz respeito à ausência de clorofluorcarbonetos (CFC) junto com a promessa contida na frase “Inofensivo à Camada de Ozônio”. A incidência desse tipo de apelo, considerado irrelevante – muitas vezes colocado nos rótulos em letras maiúsculas ou junto com algum tipo de selo demonstrando aprovação (culto a falsos rótulos) – acaba por desviar a atenção de consumidores genuinamente interessados na preservação ambiental.

Procure por certificações de terceiros
A rotulagem ambiental padronizada pela norma ISO 14021 e reconhecida em todo o mundo surgiu como uma resposta para os esforços de contenção do greenwashing, servindo como uma das ferramentas mais úteis na luta contra este fenômeno. Informe-se e prefira produtos certificados por terceiras partes que atestam a qualidade.
Procure por evidências de qualquer um dos Sete Pecados da Rotulagem Ambiental fazendo as seguintes sete perguntas:
1. O apelo ecológico está se referindo a apenas uma questão ambiental restrita? (Custo Ambiental Camuflado) Se sim, levante informações adicionais que possam lhe fornecer uma visão mais clara do impacto ambiental do produto.
2. O apelo fornece mais informações sobre sua proveniência? (Falta de Prova) Uma estratégia correta de marketing ambiental ajuda o consumidor a encontrar evidências e aprender mais sobre tal atributo. Web sites, certificados de terceiros, telefones gratuitos (0800) são instrumentos efetivos de informação.
3. O apelo ambiental é autoexplicativo? Se não, apresenta alguma explicação sobre seu significado? (Incerteza) Sem a devida explicação, produtos que se apresentam como “ecologicamente corretos” ou “amigo do planeta” são vagos.
4. Poderiam todos os produtos desta categoria apresentar o mesmo apelo? (Irrelevância) Lembre-se da história do CFC.
5. Quando checo o apelo feito, ele é verdadeiro? (Mentira)
6. O apelo tenta fazer o consumidor se sentir mais “verde” em relação à categoria de um produto que tem seu benefício ambiental questionado? (Menos Pior) Consumidores preocupados, por exemplo, com os efeitos colaterais do tabaco e do cigarro seriam mais responsáveis se parassem de fumar do que se comprassem cigarros orgânicos.
7. O certificado apresentado pelo produto é realmente endossado por terceiros? (Culto a Falsos Rótulos) Procure se informar sobre os verdadeiros selos de certificação ecológicos para não ser enganado por simples imagens ou selos sem lastro.
Em quê a empresa deve pensar
O objetivo dos “Sete Pecados da Rotulagem Ambiental” não é garantir que apenas produtos “verdes” sejam lançados no mercado como “ambientalmente preferíveis”. O Marketing Ambiental é uma oportunidade de negócios e deve continuar sendo; quando aplicado de modo responsável, consiste em ferramenta importante para a sustentabilidade.  A valorização das questões ambientais  se dá aos poucos. Os consumidores deverão recompensar as empresas que as consideram.
O Monitor de Responsabilidade Corporativa 2010, realizado pela Market Analysis, concluiu que, nos últimos 4 anos, a proporção de brasileiros interessados em premiar corporações por seus comportamentos socioambientalmente responsáveis subiu de 12% para 22%, enquanto os que alegam punir se manteve estável (variando dentro da margem de erro, de 12% em 2008 para 10% em 2010).Além disso, tal dado remete para a importância da comunicação do compromisso com a sustentabilidade por parte das empresas a partir do uso do canal mais próximo na hora da compra, ou seja, o próprio produto e a sua embalagem. Sabe-se que o consumo ético está crescendo.
Há caminhos práticos e de aplicação imediata que podem ajudar as empresas a não incorrer nos pecados da rotulagem ambiental.
1. Para evitar o Pecado do Custo Ambiental Camuflado:
– Entenda bem todos os impactos ambientais do seu produto durante todo o seu ciclo de vida.
– Dê ênfase a atributos específicos (especialmente se seus consumidores se importam com eles), mas não os use para distrair a atenção do consumidor em relação a outros impactos.
– Não valorize um benefício ambiental sem saber quais são os outros impactos por trás do produto e sem compartilhar essa informação com os consumidores.
– Procure sempre melhorar a imagem ambiental do seu produto (considerando todo o seu ciclo de vida) e encoraje os consumidores a acreditar e valorizarem os atributos.
2. Para evitar o Pecado da Falta de Prova
– Entenda e confirme o embasamento científico por trás de cada apelo verde/sustentável.
– Forneça informações aos consumidores, de forma que possam tirar suas dúvidas a partir de uma simples leitura; ateste seu produto por meio de certificações de terceiros, cujos padrões e procedimentos estejam disponíveis publicamente.
3. Para evitar o Pecado da Incerteza
– Utilize-se de uma linguagem de fácil entendimento para os consumidores; seja verdadeiro.
– Não adote termos vagos, como “amigo do meio ambiente”, sem fornecer explicações precisas do seu significado.
4. Para evitar o Pecado do Culto a Falsos Rótulos
– Se o endosso por terceiros é importante, corra atrás dele, não o invente!
– Prefira rótulos reconhecidos que tratem de todo o ciclo de vida do produto.
5. Para evitar o Pecado da Irrelevância
– Não utilize nenhum apelo que não seja um ponto legítimo de diferenciação competitiva.
– Não faça alegações pró-ambientais compartilhadas por todos ou pela maioria dos seus concorrentes.
6. Para evitar o Pecado do Menos Pior
– Ajude o consumidor a encontrar o produto ideal para ele baseado em suas necessidades e desejos.
– Não tente fazer com o que o consumidor se sinta “ambientalmente correto” a partir de uma escolha perigosa ou desnecessária.
7. Para evitar o Pecado da Mentira
– Sempre diga a verdade!
Conteúdo publicado na edição nº 21 da revista Ideia Sustentável Dossiê Verde – nº8 – Greenwashing(*) no Brasil

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