Entrevista Elisa Prado 2024

outubro de 2024

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Entrevista Elisa Prado 2024 - Ideia Sustentável

Da economia circular à prevenção de riscos em ESG

Elisa Prado trabalha como consultora de empresas para prevenir crises, especialmente na temática ESG. Ela compartilha sua experiência em sustentabilidade e aponta a importância da liderança para mudanças estruturais nas empresas. Atualmente se prepara para lançar um livro sobre inteligência artificial.

Com uma carreira consolidada em comunicação corporativa e vasta experiência em empresas globais, Elisa Prado assumiu um novo desafio: prevenir crises e mapear riscos na temática ESG. Ex-diretora de grandes corporações, como Tetrapak e Vivo, Elisa é hoje consultora, treinadora e escritora, trazendo à tona discussões sobre sustentabilidade e gestão de reputação.

“Sou uma mulher casada com o mesmo marido, com quem tive três filhos que já estão crescidos e bem-sucedidos. Há um ano, deixei uma longa carreira profissional no mundo corporativo para cuidar de uma agenda que considero muito importante para o mundo e para as pessoas. Sustentabilidade está nessa agenda”, conta.

Nesta conversa, ela relata sua trajetória, o impacto da economia circular e como a liderança é primordial para transformações no mundo corporativo.

 

Ideia Sustentável: Como a incorporação das pautas de sustentabilidade e ESG impactou sua trajetória profissional? Que diferenças você enxerga na sua carreira, caso esses conceitos não tivessem sido parte do seu trabalho?

Elisa Prado: O impacto foi muito grande na minha vida pessoal e profissional. Comecei a trabalhar com esse tema quando entrei na Tetrapak, em 1993, porque acabava de acontecer a Rio-92 e a empresa estava muito voltada para esse objetivo. Por ser uma empresa de embalagens que tem a sustentabilidade, de verdade, no seu DNA, eu tive que entrar de cabeça no assunto. Foi um grande aprendizado, afinal, eu já tinha tido anos de experiência com investimentos na área social e cultural, já na temática ambiental foi na Tetrapak que aprendi e estudei muito. Para mim, foi um divisor de águas quando comecei a entender a importância da sustentabilidade para os negócios, para os líderes e para o mundo. Eu tive o prazer de estar em uma empresa global, que me deu oportunidade de visitar o mundo todo e falar sobre a questão ambiental. Estive durante muito tempo na Alemanha e em diversos países, conhecendo o processo produtivo e o de reciclagem. Trouxemos para o Brasil todo o conhecimento e a tecnologia que vimos.

 

IS: Você liderou um trabalho importante na criação de modelos de economia circular, especialmente no desafio de transformar a reciclagem das embalagens pós-consumo. Como foi sua percepção e experiência durante esse processo de implementação da economia circular?

EP: Nós percebemos a importância da economia circular quando entendemos a necessidade de conscientizar as pessoas sobre a relevância da reciclagem dos resíduos. Já tínhamos a tecnologia, trazida de fora e também desenvolvida aqui no Brasil com apoio da Klabin, ou seja, podíamos dar conta do resíduo da nossa produção. Foi então que percebi que a comunicação poderia ter um grande papel, ao trabalhar com os catadores para que eles enxergassem valor na embalagem, bem como mostrar aos consumidores informações para realizarem a separação dos resíduos para reciclagem. O time do Fernando Von Zuben desenvolveu, com o Google, a Rota da Reciclagem. Além dessa plataforma, que já tem mais de 15 anos, percebemos que era necessário trabalhar de forma mais ampla com o consumidor. Na época, fizemos um merchandising com a Rede Globo, para explicar sobre embalagens recicláveis e recicladas. Desenvolvemos um trabalho de conscientização, utilizando uma personagem da novela Rainha da Sucata.

 

IS: Vamos conversar sobre uma situação hipotética: um jovem executivo entra em uma empresa e percebe que ela tem algumas questões a melhorar em relação à reciclagem, principalmente de seus produtos pós-consumo. Qual é o caminho a percorrer?

EP: Se esse executivo é consciente, o principal caminho é trabalhar a liderança. Esse tipo de trabalho não se consegue fazer de baixo para cima, é a liderança que tem que fazer com que as coisas aconteçam. Eu diria a esse líder para ele montar um estudo sobre a reciclabilidade do produto, mostrando quais são os impactos para a sociedade e o meio ambiente. Então, sugiro que ele monte uma apresentação e mostre para o presidente ou o CEO – é a partir daí que as mudanças podem acontecer.

 

IS: Muita gente reclama que não consegue mudar as questões dentro das empresas, seja pelo tamanho, seja pela dor de cabeça que a mudança vai gerar. Parece uma muleta dizer que não dá para mudar. Você já deve ter ouvido muito isso, mas na verdade quase sempre dá para mudar, né?

EP: Sim, e não precisa de muito dinheiro, viu? Não é, muitas vezes, uma questão financeira, mas uma questão de ideologia, de positividade e de convencimento, conscientização e educação das pessoas para olhar para a questão ambiental com seriedade, com responsabilidade. Naquele momento na Tetrapak, também percebemos que era necessário fazer o trabalho de advocacy para gerar realmente um impacto na sociedade. Foi então que chegamos à conclusão de que precisávamos trabalhar para apoiar a construção da Política Nacional de Resíduos Sólidos, defendendo uma causa, sem ser partidário. Foi uma construção conjunta entre empresas, governo e sociedade em geral. Eu me orgulho muito de ter feito parte disso. É uma pena vermos que ainda existem gaps, como os lixões que não foram fechados no Brasil.

IS: Depois do período na Tetrapak, você foi para uma empresa de telecomunicações, e liderou uma grande campanha de reciclagem a partir da coalizão de indústrias. Sabemos que iniciativas como essa sobrevivem enquanto houver alguém que as mantém vivas. Como você avalia isso?

EP: Eu trabalhei na TV1 como diretora de Relações Públicas e participei de uma importante campanha de reciclagem, iniciativa do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), que criou uma coalizão de indústrias para tratar do assunto. Vejo que, infelizmente, tem que ter uma liderança engajada, é preciso leis para dar responsabilidade às empresas e incentivar que elas se posicionem e trabalhem em tecnologia. Essa coalizão existe ainda, só não sei com que força.

 

IS: Como foi sua passagem pela Vivo?

EP: Eu atuei como diretora de Comunicação Corporativa na Vivo e, dentre outras atividades, conseguimos montar um squad ESG, com base em uma metodologia de trabalho que consiste na formação de equipes multidisciplinares e autogerenciadas. Colocamos várias áreas juntas para construir o posicionamento da empresa, primeiro com conscientização interna e, depois, colocamos essas informações para fora da empresa.

 

IS: E hoje, o que você está fazendo?

EL: Minha decisão de sair da Vivo foi para ter uma agenda própria, voltada para a gestão de reputação e, também, falar de prevenção de crises, que eu avalio como até mais importante do que a gestão em si. Eu tenho trabalhado muito nos temas ESG, que infelizmente trazem diversas crises para as empresas. Hoje os negócios enfrentam muitos problemas, por exemplo, nas questões de gênero e raciais. O que eu tenho feito é trabalhar como consultora de empresas para prevenção de crises, treinando funcionários e terceiros, mapeando riscos para que essas crises não aconteçam mais. Também dou aulas nessa temática, para conscientizar líderes de que algumas atitudes que eram aceitas pela sociedade antigamente hoje não são mais.

 

IS: E a escritora Elisa Prado, está fazendo o quê?

EP: Estou escrevendo um livro para contar como nós, da comunicação corporativa, podemos utilizar a inteligência artificial e a tecnologia para o nosso bem. Assim como no início da internet, em que havia muita crítica, sabemos que a IA pode trazer riscos para a sociedade, então estou olhando para como ela pode nos ajudar. Logo essa publicação chega ao mercado.

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