Sustentabilidade no coração do negócio

Como as empresas estão inserindo o conceito na estratégia

Autor: Ricardo Voltolini

Ideia Sustentável/2015

Perante o obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.

Bertolt Brecht

Não existe vento favorável a quem não sabe aonde ir. 

Sêneca

Em 2015, ano de publicação do livro Sustentabilidade no coração do negócio, a equipe da Ideia Sustentável registrava grandes números: 61 mil jovens líderes já tinham participado dos encontros da Plataforma Liderança Sustentável e 1,1 milhão de pessoas tinham assistido as vídeo-palestras.

Ricardo Voltolini escreve que “cada companhia realiza a tarefa de inserção estratégica da sustentabilidade de um modo muito particular, que tem a ver, sobretudo, com os valores da cultura organizacional e a visão de mundo da liderança ou dos 10 principais acionistas”. O que elas têm em comum, ainda segundo o autor, é o fato de que a sustentabilidade dialoga intimamente com o planejamento estratégico, a ponto de influenciar missão, visão, objetivos, estratégias e metas, chegando, inclusive, na maioria, a afetar a remuneração variável dos líderes e colaboradores. 

Para dar voz aos líderes de empresas que estão inserindo a sustentabilidade na estratégia do negócio, Voltolini ouviu nove profissionais, sendo três ligados ao setor de energia, duas ligadas a mineradoras, dois de bancos, uma indústria de painéis de madeira, louças e metais sanitários e uma construtora. 

Depois de cada depoimento, Ricardo Voltolini incluiu um quadro contendo a definição do líder sobre sustentabilidade e também suas dicas para um jovem líder sustentável. O leitor ainda pode contar com uma contribuição “pedagógica”: uma análise técnica a respeito do que Ricardo Voltolini considera como diferenciais do caso e as razões pelas quais a empresa e o líder foram escolhidos como exemplo no tema da inserção da sustentabilidade no negócio.

Conheça quais foram os profissionais selecionados, o tema abordado e confira alguns trechos dos relatos:

• Tito Martins, da Votorantim Metais (Minerar com responsabilidade)
• Marcos Madureira, do Santander Brasil (Para valer, não para constar)
• Jorge Samek, da Itaipu Binacional (Energia responsável)
• Roberto Setubal, do Itaú Unibanco (A cultura de fazer bem-feito o que é certo)
• Antônio Joaquim de Oliveira, da Duratex (Da visão de compliance para a de gestão estratégica da sustentabilidade)
• Mathias Becker, da Renova Energia (Desenvolvimento local ao sabor do vento)
• Tânia Cosentino, da Schneider Electric (De líder de distribuição elétrica para especialista em gestão de energia)
• Carlos Terepins, da Even Construtora e Incorporadora (Dos canteiros responsáveis aos prédios mais ecoeficientes) 

Costumo dizer aos meus diretores que a máquina mais complicada de lidar se encontra entre a mesa e a cadeira da empresa. Gente é fator crítico, fonte de dilemas e soluções. A despeito de constituirmos uma empresa de engenheiros, metódica ao extremo e muito centrada em decisões técnicas, investimos continuamente no desenvolvimento dos empregados e na integridade do quadro funcional, movidos pelo desafio de criar as condições para que consigam fazer seu trabalho com excelência e voltem melhores para suas casas. 

Tito Martins, da Votorantim Metais

Hoje não apenas compreendemos a sustentabilidade de modo mais preciso como também entendemos melhor os seus impactos sobre o negócio. Com o amadurecimento, passamos a valorizar mais as relações comunitárias onde temos fábrica.

Quanto mais os stakeholders associam sustentabilidade com boas práticas, mais o tema cria valor para a marca.

Antônio Joaquim de Oliveira, da Duratex

A integração mais direta do conceito de sustentabilidade a estratégia do negócio pressupõe uma ruptura do modelo de gestão, na medida em que introduz variáveis novas, nunca antes consideradas, tornando mais complexas algumas tomadas de decisão. Exige mudanças de comportamento e revisão de processos, algo que, sabe-se, nunca ocorre de um dia para o outro e sem obstáculos. De qualquer modo, as barreiras foram pontuais, rapidamente superadas, e em nada atrapalharam o ritmo de evolução do tema. Atribuo a celeridade, mais uma vez, ao terreno cultural fértil. No Itaú Unibanco, nunca fazemos nada que não seja coerente com nossas atividades.

Roberto Setubal, do Itaú Unibanco

Há uns nove anos, quando começamos a discutir o assunto, não foram muitos os que perceberam que, em um país carente de mão de obra qualificada e para uma indústria como a da construção civil, que teve um crescimento súbito recente, a sustentabilidade gera um conjunto de valores capaz de tornar as companhias mais atrativas e com maior retenção de talentos. O que faz a diferença é o ambiente de seriedade, ética, respeito, proximidade e responsabilidade social. Quanto mais esclarecido o indivíduo, mais ele valoriza essas questões e mais difícil, portanto, é deixar a companhia.

Carlos Terepins, Even Construtora e Incorporadora