Vida Solidária – O caçador de pipas – Parte 3

Vida Solidária – O caçador de pipas – Parte 3

Investindo em sustentabilidade
O que esperar do Prêmio Nobel da Paz de 2006 depois da ousada iniciativa de financiar mendigos de rua? Espere-se sempre mais –e uma regra que vale para este senhor. Ao contrário do que muita gente imagina, o pai do Grameen Bank não é homem de uma tese só – a do microcrédito.
Preocupado com as questões do aquecimento global, o banco que dirige tem feito investimentos em sustentabilidade. Para este esforço, criou  uma empresa chamada Grameen Energy, que atua com dois programas. Um promove a energia solar e o outro, o biogás. “Em Bangladesh, 70% das pessoas não têm energia elétrica em suas casas, o que evidentemente prejudica sua qualidade de vida. Por conta do programa de energia solar, já instalamos estruturas de painéis fotovoltaicos em 100 mil residências. O custo do equipamento hoje é de U$3 por watt. Se conseguirmos reduzir para U$ 1,5 poderemos instalar em todas as residências do país”, anima-se.
Na outra iniciativa, a de geração de biogás a partir dos dejetos do gado, o Grameen nada mais faz do que incentivar as famílias a produzirem gás para atividades cotidianas, como as de cozinha, e também fertilizantes para suas pequenas plantações.“ Tudo isso é um negócio comercial. Não damos nada a ninguém. As pessoas pagam mensalmente a instalação do equipamento”, explica
Pelo fim da pobreza, a empresa social é o futuro?
Um outro projeto, ousado e, por isso, controverso, tem ocupado boa parte da agenda de Yunus. É o que prevê a criação das chamadas “empresas sociais.” Este novo modelo de empresa faz oposição –segundo o professor — à teoria econômica dominante segundo a qual o único tipo de negócio existente é o que maximiza os lucros de seus donos. Yunus discorda. Considera que esse preceito se apóia na premissa errada de que seres humanos são máquinas de fazer dinheiro. “Não são. Seres humanos querem ser úteis. As empresas devem beneficiar as pessoas. Empresa social não é filantropia. Nem um pretexto para admitir perdas, baixa produtividade e prejuízos. Muito pelo contrário. É apenas um novo modo de pensar empresa.”, explica.
O primeiro filho do conceito de empresa social nasceu há alguns meses da joint venture que o Grameen fez com a Danone. Com o projeto desenhado, e o prestígio que seu nome evoca, Yunus chegou até o presidente da multinacional francesa de derivados de latícinio a quem propôs criar  uma empresa  produtora de iogurte fortificado, a um preço acessível, para as crianças de Bangladesh. “A empresa foi criada com um objetivo social muito claro. Combinamos que nenhum dos investidores (a Danone investiu cerca de R$ 1 milhão) vai extrair dividendos do negócio até que tenhamos atingido os resultados sociais esperados. Todos ganhamos. A população de Bangladesh, com um produto saudável e barato. Os investidores, com um empreendimento de médio e longo prazo”, explica. Para o professor,  diferença do dólar filantrópico para o investido na empresa social é que o primeiro se esgota nele mesmo enquanto o segundo tem uma vida infinita, porque gera benefícios ao longo do tempo.
A julgar pela crítica feita pelo vetusto (FT) Financial Times, ao seu mais recente livro (Criando um Mundo sem Pobreza: Empresa Social e o Futuro do Capitalismo), Yunus terá de suar para convencer o mundo capitalista da viabilidade da empresa social. Em tom jocoso, Alan Beattie, do FT, escreveu recentemente que “empresas sociais transitam entre a imaginação fértil e o quixotesco, pretendendo-se que constituam um novo setor da economia, formado por companhias administradas como negócio, mas sem fins lucrativos.” Na opinião dura do crítico, o projeto de Yunus se concentra em produtos e serviço descartados pelas empresas convencionais, por serem pouco lucrativos, como saúde, nutrição, habitação e saneamento para populações pobres. “São iniciativas baseadas na suposição de que os investidores ficarão felizes em ter retorno zero, desde que possam ver retornos sociais”, metralhou.
Yunus sabe que encontrará resistências ao conceito. Mas, impávido na sua fala mansa e decidida, diz estar mais do que preparado para a batalha. Move-lhe a firme convicção de que, em xeque, os paradigmas da velha economia estão, pouco a pouco, sendo revistos diante das novas pressões socioambientais do Planeta. “A empresa social muda paradigma. Com a sua expansão, será necessário rever instituições e modelos de pensamento. Será preciso criar uma bolsa de valores de empresas sociais cujos resultados sejam medidos a partir dos seus impactos para diferentes comunidades. E que atraiam investidores interessados em produzir outro tipo de resultado. Precisaremos também de um Wall Street Journal social que nos traga notícias sobre as empresas que estão contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para a erradicação da pobreza. Precisaremos de um MBA social para capacitar os novos dirigentes das empresas sociais para que sejam geridas com competência. A empresa social abre a possibilidade de um mundo livre da pobreza. No futuro, não haverá pobreza”, aposta.
Sendo ele Yunus, um senhor de incontáveis proezas, quem duvida que isso algum dia vai acontecer?

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