Tendências – Voluntariado corporativo estratégico

Tendências – Voluntariado corporativo estratégico

Diferente da idéia de assistencialismo, a cooperação entre empresas e sociedade cria espaços sustentáveis e estimula a liderança nos negócios
Há alguns anos, estratégias de voluntariado corporativo eram planejadas apenas para criar um ambiente solidário, disseminar entre os funcionários valores de responsabilidade social ou mesmo fortalecer vínculos com comunidades. Atualmente, corporações pioneiras buscam desenvolver programas de voluntariado com o propósito de capacitar lideranças para a tomada de decisões em um mundo globalizado e também conhecer de perto um público consumidor em potencial.
O novo modelo começa a ganhar forma a partir da constatação de que a atividade voluntária pode facilitar uma espécie de gestão integrada, capaz de desenvolver, ao mesmo tempo,  as comunidades e os negócios, combinando o bem-estar das partes envolvidas e eficiência de recursos. A rigor, o que se prega é que um voluntariado estratégico bem conduzido pode fazer a diferença para pessoas e gerar retorno às empresas. É o que pensa, por exemplo, Bob Corcoran, vice-presidente de Responsabilidade Social Corporativa e Chief Learning Officer da General Eletric. Para ele, o voluntariado praticado pelo corpo de colaboradores de uma companhia costuma se mostrar mais eficaz quando os indivíduos dispõem do  melhor de suas competências e habilidades para causas e organizações.
“Sentimo-nos bem ajudando a pintar escolas, por exemplo. Mas na realidade somos contadores e engenheiros. Podemos fazer muito mais pela comunidade, apoiando-a, por exemplo, com um trabalho de consultoria de gestão, planejando suas organizações, suas estruturas e suas finanças. Considero essa prática uma forma de voluntariado mais inteligente, que ajuda a construir capacidades“, avalia Corcoran.
Formando profissionais globais
Nos próximos anos, a capacidade de trabalhar em um contexto global e desenvolver soluções criativas e adaptáveis a diferentes regiões se tornará indispensável aos profissionais de todas as áreas. O intercâmbio de experiências com as comunidades, por sua vez, será cada vez mais um laboratório de aprendizadagem prática.
Para capacitar seus executivos a partir dessa perspectiva, a IBM os envia para ações de voluntariado fora de seus países de origem. Este  programa, denominado Corporate Service Corps, teve início em 2008, e o seu objetivo central é contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento socioeconômico em seis países emergentes – Romênia, Turquia, Vietnã, Filipinas, Gana e Tanzânia. Ele integra o Global Citizen´s Portfolio, projeto mundial que reúne uma série de investimentos com o objetivo de aperfeiçoar as competências dos colaboradores. Em uma próxima etapa, a empresa pretende  expandir o Corporate Service Corps para comunidades no Brasil, China e Índia.
“A globalização exige não só desenvolver os negócios, mas também pessoas que sejam capazes de enfrentar os novos desafios. Para a empresa, esse tipo de trabalho colaborativo equivale a uma soma, com alto valor para as partes. É algo que parece fácil. Mas na prática não é tão simples assim”, avalia Ruth Harada, executiva de cidadania corporativa da IBM Brasil.
Rafael Cunha, estrategista de web da IBM, foi um dos três brasileiros selecionados para o programa. No último mês de junho, ele viajou para as Filipinas onde viveu a experiência de conhecer a realidade local e participar de soluções para alguns dos problemas enfrentados por comunidades pobres daquele país. “O mais interessante desse processo é compartilhar experiências e trabalhar com a comunidade a partir de suas necessidades concretas. O profissional age como um consultor, entende o local e avalia como pode dar suporte  a algumas boas iniciativas lá existentes”, ressalta Cunha.
Seguindo essa tendência de capacitação profissional globalizada, por meio da atividade voluntária, a GE tem o GE Volunteers. E dentro dele, um programa conhecido como GE Foundation Developing Futures in Education, cujo propósito é mobilizar funcionários voluntários para que eles disseminem noções de negócios às populações de diversas comunidades em crescimento. Além de garantir mão-de-obra eficiente para empresas em todo o mundo, as ações ajudam a elevar o padrão de vida local por meio da educação, gerando, desse modo, novos consumidores em potencial.
Segundo Ruth, da IBM, a perspectiva de desenvolvimento integrado com a comunidade é uma tendência a ser seguida por várias empresas nos próximos anos.  Isso ajudará – acredita – as grandes corporações a migrarem  de um modelo de negócios multinacional para outro global. A transição de um para outro requer a superação de diferenças regionais e o estímulo a um ambiente de cooperação, em que as fronteiras geográficas sejam cada vez menos perceptíveis, com maior possibilidade de troca de informações e cooperação. “Estamos começando a lançar diversos programas para estimular isso de uma forma estruturada. O nosso desejo é incentivar que os funcionários pensem fora da caixa”, afirma.
Espaço de oportunidade
Nos próximos anos, o previsível crescimento dos países emergentes demandará investimentos em infra-estrutura, saúde e saneamento básico, entre outras áreas. Nesse contexto, realizado de maneira estratégica, o voluntariado empresarial consiste também em enorme oportunidade para conciliar negócios com benefícios às comunidades.
“Os problemas do mundo não serão resolvidos sem o apoio de grandes empresas. No Brasil, percebo que as companhias estão se envolvendo cada vez mais com as questões sociais. No entanto, ainda progredimos de maneira fragmentada. É necessário haver maior integração no movimento de empresas para evitar sobreposição de recursos e esforços em certas áreas e carência em outras”, avalia Musci, da GE.
Liderança corporativa
A capacitação de profissionais com pontos de vista diferentes para a resolução de desafios corporativos e habilidade de compreender e colaborar em diversas culturas constitui um aspecto fundamental para o sucesso na economia global de hoje. O voluntariado tem sido uma ferramenta nesse esforço.
Com o objetivo de exercitar a competência de seus profissionais a partir da percepção dos desafios das comunidades, a GE iniciou, há cerca de dez anos, um modelo de treinamento para desenvolver lideranças em ONGs de todo o mundo. “Algumas pessoas pensam que liderança é dizer aos outros o que fazer, mas não é. Liderança é ajudar outras pessoas a fazer o melhor que podem“, destaca o vice-presidente de responsabilidade corporativa da GE.  Os desafios enfrentados na busca de soluções para as comunidades –segundo ele — estimulam a atuação de profissionais em diferentes contextos.  Trabalhar com padrões sociais e econômicos diversos ajuda a formar líderes mais sensíveis às diferenças e aos desafios globais.
Como o voluntariado pode capacitar profissionais e líderes corporativos:
-Desenvolve a inovação
-Auxilia na busca de soluções em diferentes contextos
-Fornece experiência de gestão em ambientes não convencionais
-Gera maior sensibilidade diante de problemas globais
-Desenvolve a interação do profissional com outras áreas da empresa
-Proporciona um entendimento amplo sobre as comunidades influentes
-Desenvolve a habilidade de atuar com diferentes pessoas e culturas
-Estimula a capacidade de trabalhar com diversas opiniões

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