Por: Ricardo Voltolini
Uma das perguntas que mais costumo responder ao final das minhas palestras é se a sustentabilidade não seria um tema relativo apenas a grandes empresas. Por trás do questionamento, feito quase sempre por alguém que trabalha em micro ou pequena empresa, está a suposição, fundada em premissa frágil, de que uma MPE “não tem recursos para investir em sustentabilidade” ou de que “não provoca grandes impactos”. A fragilidade consiste, por um lado, em associar o conceito — na verdade, uma noção muito fragmentada dele — exclusivamente a despesas e, por outro, em querer eximir a pequena empresa da responsabilidade por seus impactos, usando como justificativa retórica o fato óbvio de que as grandes impactam mais.
Gosto de desconstruir os dois argumentos, estabelecendo um diálogo provocativo. Indago sobre qual a sua ideia sobre sustentabilidade e, diante da resposta, invariavelmente parcial, tento ampliar o seu repertório, reforçando o conceito de equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social. Alego que nem sempre sustentabilidade exige investimento financeiro e que boas inovações nascem do desejo de fazer diferente. Na maioria dos casos, a economia de custos decorrente de processos simples de ecoeficiência compensa, de longe, eventuais pequenos investimentos. Insisto no fato de que, se todos nós, indivíduos, deixamos uma pegada ecológica, é óbvio que as pequenas empresas também deixam as suas. O tamanho de nossas responsabilidades — ressalto — é exatamente proporcional ao alcance dos impactos que provocamos.
Estabelecido o diálogo e de volta à pergunta inicial — se a sustentabilidade seria um tema exclusivo de grandes empresas —, respondo, agora mais fundamentado, que não. Sustentabilidade é, sobretudo, um tema para grandes líderes. Ao longo da minha carreira, conheci pequenos líderes à frente de grandes empresas e grandes líderes no comando de pequenas empresas. Os segundos fazem mais diferença. Também em sustentabilidade. A estatura do líder não está, nem remotamente, relacionada ao porte da empresa que dirige. Mas sim às suas atitudes, à sua capacidade de colocar os valores no centro das tomadas de decisão, ao seu senso de responsabilidade em relação ao outro e ao meio ambiente.
Em apoio aos líderes de pequenas e médias empresas que se iniciam nessa caminhada de inserir sustentabilidade no negócio, ainda sem muita informação ou mesmo convicção, criei os “Sete Passos”. Vamos a eles:
Não resista à ideia de pensar no assunto. Elimine obstáculos mentais. Imaginar que não vai dar certo é a primeira forma de não sair do lugar. Achar que o tema não lhe diz respeito é a segunda forma. Lembre-se: sustentabilidade não é preocupação exclusiva de empresas grandes. É de todas as empresas. E também de todos os indivíduos. Porque todos geramos algum tipo de impacto a outras pessoas e ao planeta.
PASSO 2 – DÊ O PRIMEIRO PASSO
Implantar sustentabilidade, ao contrário do que se imagina, não implica fazer grandes investimentos. Requer, sobretudo, atitude. Se você dirige uma empresa pequena, seus impactos são pequenos. Logo, suas ações não precisarão ser grandes. Comece. Dê o primeiro passo. Os outros virão naturalmente, fortalecidos pela consciência de que trazem bons resultados.
PASSO 3 – IDENTIFIQUE OS IMPACTOS…
O que sua empresa está fazendo hoje para garantir o direito das futuras gerações a ar limpo, solo fértil, água potável, clima estável e uma sociedade mais justa? Identifique os impactos que ela gera para o planeta e para a sociedade. Faça, por exemplo, como o Spoleto. Há alguns anos, a rede de restaurantes criou o projeto Spoleto 21. Promoveu mudanças no desenho e na operação das lojas. O fogão a gás foi trocado pelo fogão elétrico, com redução a zero do consumo de gás. Houve uma diminuição importante do uso de produtos de limpeza e, por tabela, de água. Cerca de 30 lojas/ano estão sendo construídas sob um novo formato. A lucratividade aumentou 7%. Os funcionários receberam aumento por conta das economias geradas. Inspire-se também no exemplo, pioneiro no Brasil, da DryWash. Fundada em 1994 por Lito Rodriguez, ela foi a primeira empresa do segmento a investir no sistema de lavagem a seco. Vale destacar: uma lavagem normal consome 350 litros; a da DryWash, apenas 200 ml, gerando enorme poupança de água para o planeta, sem nenhum prejuízo da qualidade do serviço prestado ao cliente.
PASSO 4 – …E REDUZA-OS OU ELIMINE-OS
Se a sua empresa utiliza energia, água ou papel, verifique como se pode economizar tais recursos. Se gera lixo, inicie um sistema de coleta seletiva. Se usa transporte, adote rotas mais econômicas ou combustível mais limpo. Ao contratar, prefira pessoas da comunidade, garanta direitos e um ambiente saudável e seguro, exija compromissos éticos dos fornecedores. Participe da vida da comunidade, estimule o trabalho voluntário, doe, prefira contratar serviços locais. Tome como exemplo o CEBRAC, uma escola de cursos profissionalizantes de Londrina, fundada em 2007. Ela criou uma iniciativa chamada ECO CEBRAC. Desenvolvida por alunos, gestores e colaboradores, seu objetivo é educar a população local para questões de sustentabilidade. Em um único ano, obteve como resultado a coleta de 289 litros de óleo, 800 famílias orientadas, 500 quilos de lixo recolhidos, 150 mudas de árvores plantadas. A ação faz sentido para o negócio da empresa, divulga a marca, estabelece relações com a comunidade e melhora o ambiente de negócio.
PASSO 5 – PRIORIZE
Depois do Passo 4, podem surgir dúvidas se a empresa tem porte, equipe e estrutura para abraçar todas as ações de uma vez. Provavelmente, não. Então, faça um plano. Priorize. Realize aos poucos.
PASSO 6 – EDUQUE OS SEUS PÚBLICOS DE INTERESSE
Implantar sustentabilidade é um ato coletivo. Exige mudança de mentalidade. Eduque funcionários para entender e participar das mudanças, incentive-os, premie-os. Compartilhe princípios com fornecedores e convoque os clientes. Boas ideias podem vir de todos os lados quando nos abrimos para elas. Destaco aqui o caso da Parmê, uma cadeia de restaurantes do Rio de Janeiro, nascida em 1972. Em 2011, ela implantou o projeto Consumo Consciente. Cerca de 2 mil funcionários foram treinados para economizar luz, água e gás; a coletar lixo eletrônico e óleo de cozinha. Clientes foram estimulados a entregar óleo de cozinha. Para tanto, investiu R$ 60 mil em novos equipamentos, no aperfeiçoamento de instalações e em prêmios a funcionários. Os resultados se mostraram muito positivos. A empresa recolheu 800 quilos de lixo eletrônico e 124 mil litros de óleo. Melhor: passou a economizar 30% em energia, 22% em água e 7% em gás, poupança que, no espaço de meses, pagou o investimento inicial.
PASSO 7 – COMUNIQUE O VALOR
Não deixe de comunicar o valor de suas ações de sustentabilidade para todos os públicos de interesse. Sustentabilidade melhora a autoestima dos funcionários. Cria boas relações com fornecedores. Desperta a simpatia dos clientes. Retém talentos. Melhora a imagem. Fortalece o ambiente de negócios. Mire-se no exemplo da Topema (SP), fabricante de cozinhas profissionais, fundada em 1986. A sustentabilidade entrou em sua estratégia de negócio e abriu novos mercados. Para tornar os seus equipamentos mais ecoeficientes, criou um reciclador de lixo orgânico que reduz em 90% volume de lixo, além de gerar adubo orgânico. Patenteou uma coifa especial que diminui em 50% o consumo de energia elétrica, possibilitando menor emissão de Gases de Efeito Estufa, que aquecem o planeta. O seu novo sistema passou a ser implantado em redes como o Spoleto, o Burger King e o Bob’s.
Ricardo Voltolini é consultor, escritor, palestrante e diretor-presidente da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade, idealizador da Plataforma Liderança Sustentável e autor de Conversas com Líderes Sustentáveis (Senac-SP/2011), Escolas de Líderes Sustentáveis(Elsevier/2014), Sustentabilidade como Fonte de Inovação (Ideia Sustentável/2016), entre outros.
A Ideia Sustentável constrói respostas técnicas eficientes e oferece soluções com a melhor relação de custo-benefício do mercado, baseadas em 25 anos de experiência em Sustentabilidade e ESG.