Bill McKibben

Bill McKibben

Para  grande maioria das pessoas, o alerta sobre as mudanças climáticas foi acionado no final de 2006 , quando o relatório do IPCC anunciou, em tom dramático, o que antes parecia cisma de ativistas ecológicos.  Não para o norte-americano Bill McKibben. Considerado um dos mais importantes ambientalistas do mundo, ele já teorizava sobre os perigos do aquecimento global, em 1989, no seu primeiro livro, The End of Nature (publicado no Brasil pela editora Terramar com o título O Fim da Natureza), relacionando-o à intervenção desastrosa do homem.
Intelectual respeitado e um ativista de carteirinha, McKibben, de 46 anos, está em fase muito produtiva. Neste ano, já lançou dois livros: Fight Global Warming Now e Deep Economy (ver box), ambos sem previsão de publicação no Brasil. E, além das incursões literárias, criou e conduz o Step It Up (Avance, em Portugês), movimento verde cujo objetivo é promover  levantes do povo norte-americano em favor de medidas imediatas de combate ao aquecimento global, na forma de protestos, doações ou cobrança direta dos líderes nacionais.
O tempo fez de Mckibben uma estrela de intenso brilho próprio no universo ambientalista. Nascido nos subúrbios de Lexington, Massachussetts, e formado na Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas do mundo, ele foi colaborador da revista semanal New Yorker até 1987. Hoje, tornou-se pop por um motivo ambientalmente louvável, e colabora em veículos importantes dos EUA, como o The New York Times e a revista Rolling Stone… Em entrevista à repórter Carmen Guerreiro, o especialista fala sobre a relação entre o desenvolvimento socioeconômico e os impactos ambientais em diversos pontos do mundo.
Países ricos e aquecimento global
Os países desenvolvidos têm que firmar compromissos com credibilidade de longo prazo para reduzir drasticamente as emissões de carbono. Os Estados Unidos, mais especificamente, precisam tomar essa mesma atitude de forma contundente, porque há muito tempo somos a maior fonte do problema. Até que essa mudança aconteça, é irreal demandar que os países em desenvolvimento façam seus próprios grandes compromissos.
O papel dos países em desenvolvimento
Países em desenvolvimento sofrerão os efeitos das mudanças climáticas, provavelmente de modo muito desproprocional. Eles têm uma real participação no esforço de controlar o aquecimento global. Ao mesmo tempo –vale frisar — estão usando mais energia para boas razões, como, por exemplo, tirar as pessoas da pobreza. E nesse sentido é fundamental que os mais ricos reduzam o seu consumo de energia para liberar o espaço de uso dos países mais pobres. É necessário transferir tecnologia do Norte para o Sul para permitir que haja desenvolvimento sem destruição ambiental.
O ambiental dependente do social
O único jeito de solucionar o problema do aquecimento global é destacando a sua relação com as questões de desenvolvimento. Se não pudermos descobrir como transferir alguma tecnologia e riqueza do Norte para o Sul, não acredito em nenhum acordo efetivo para pôr fim ao processo de mudanças climáticas.
Step it Up
Senti que, depois de muitos anos tentando espalhar a palavra, era então o momento de pressionar por ação. Por isso organizei o movimento Step it up (www.stepitup2007.org), que, só em 2007, resultou em 1,4 mil manifestações e protestos sobre as mudanças climáticas em todo o país [Estados Unidos].
Conseqüências do Etanol
Os benefícios e riscos do Etanol dependem de com qual produto ele é feito e em que escala se dá a sua produção. A cana-de-açúcar parece funcionar bem no Brasil, ainda que soe extremamente irônico ter que devastar a floresta tropical para produzir combustível. Produzir o combustível a partir do milho, assim como no centro-oeste americano, é uma escolha burra. A melhor esperança em climas temperados, ainda que um pouco distante, é o etanol de celulose, de plantações com ervas-daninhas. Mas penso que a melhor solução passa por tornar os carros consideravelmente mais eficientes – e dirigi-los consideravelmente menos.
Aquecimento global: combater ou remediar?
Já aumentamos em um grau a temperatura mundial, e pelo menos mais um grau está para subir. O melhor que podemos fazer agora é nos proteger da catástrofe.
Amazônia e soberania
A Amazônia é importante para o mundo, e acontece de pertencer ao Brasil em sua maior parte. Por isso, o Brasil tem que decidir o que fará a respeito desse território. Se optar por cortá-la para obter ganhos em curto prazo, será uma medida tão compreensível quanto trágica. E a tragédia durará por dezenas de milhares de anos.
Consumo no divã
As respostas para a questão do consumo são quase inesgotáveis: descentralizar redes de energia, fortalecer a base em energia renovável, transporte de massas (trens, bicicletas), estimular a agricultura de menor impacto, reformular aparelhos eletrônicos, e assim por diante.
O que pensa McKibben
“O problema está em como definimos realidade. A física e a química exigem cortes rápidos e profundos nas emissões; o realismo político fala para nos movermos devagar. Nessa luta, só há na verdade uma escolha. Os códigos tarifários podem ser emendados, mas as leis da natureza não(…)”
“A única real esperança é para a legislação definitiva do Congresso; os ativistas estão reivindicando uma lei que comprometa os Estados Unidos com cortes de curto prazo, feche todas as plantas de energia a carvão e ponha à venda o direito de poluir para que possamos levantar a renda para um fundo que transforme nosso sistema energético(…)”
“Será preciso um movimento para forçar esse tipo de mudança – um movimento tão urgente e para o qual as pessoas estejam tão compromissadas moralmente e dispostas a sacrificar, quanto foi o movimento dos direitos humanos há uma geração. Na última primavera, trabalhei com seis estudantes universitários para construir o StepItUp07.org. Durante 12 semanas, praticamente sem dinheiro, ajudamos a formar 1,4 mil manifestações em todos os 50 estados reivindicando ação(…)”
“O que precisamos saber, o mais breve possível, é: O que a realidade parece para você? Você pode fechar o intervalo entre a ciência e a política? Quem será o líder na grande questão dos nossos dias?”
The Race Against Warming [tradução livre: A corrida contra o aquecimento], artigo publicado no jornal Washington Post em setembro de 2007.
“Todos os envolvidos sabem como são os esboços básicos de um pacto que poderia evitar uma catástrofe: cortes rápidos, sustentáveis e dramáticos nas emissões por parte dos países avançados, emparelhados com tecnologia de larga escala transferida para a China, Índia, e o resto do mundo desenvolvido, para que eles possam aumentar o poder de suas economias emergentes sem queimar seu carvão. Todos sabem as grandes discussões, também: esses cortes rápidos são ao menos possíveis? Existe a disposição política para executá-los e estendê-los além-mar?(…)”
“Nem todas as respostas são tecnologias, é claro – talvez nem mesmo a maioria delas. Muitos dos caminhos para a estabilização passam bem no meio das nossas vidas, e em todos os casos demandarão mudanças difíceis.”
Carbon’s New Math [tradução livre: A nova matemática do carbono], artigo publicado pela revista National Geographic em outubro de 2007.
Conscientização também se ensina

Entre os dois livros mais recentes de McKibben, ambos já best sellers em 2007, o ponto comum é a abordagem simples, didática e pragmática com que o autor procura estimular o leitor a deixar o discurso e partir para a prática. Deep Economy [Economia profunda], lançado nos Estados Unidos em março, consiste em  uma reflexão a respeito da necessidade de a sociedade rever o modo como consume objetos, alimentos ou energia. O ambientalista propõe a mudança de paradigmas, do pensamento de crescimento como ideal para o foco no desenvolvimento de culturas e atuações locais para potencializar indivíduos e comunidades. A obra se baseia em três pontos fundamentais: no fato de que a economia produz mais desigualdade do que prosperidade, na insustentabilidade dos atuais padrões de consumo e na polêmica idéia de que o crescimento não torna o Homem mais feliz,  sendo, portanto, desnecessário recorrer à sua busca a qualquer preço.
Já Fight global warming now (outubro de 2007) trata-se de cartilha baseada na experiência do ambientalista com o movimento Step It Up, uma campanha que resultou, entre outras conquistas, em 1,4 mil manifestações nos Estados Unidos pedindo medidas governamentais contra as mudanças climáticas. Isso durante apenas um dia. McKibben sonha alto: quer que sua iniciativa tenha o mesmo impacto do movimento pelos direitos humanos na primeira metade do século 20. No livro, ele ensina a incentivar voluntários, fazer pressão política de fato persuasiva, atrair a atenção da mídia com eventos criativos e inusitados, lançar campanhas com alta capilaridade usando a internet e selecionar em que grupos estratégicos estimular manifestações (a tática é escolher stakeholders, ou seja, partes interessadas, chaves para a causa).
Além disso, a obra reúne um banco de dados eficiente sobre organizações e material de estudo e pesquisa sobre o aquecimento global. A crítica, que aplaudiu os dois livros, considerou McKibben como um otimista pragmático. Alertar sobre o perigo, sim. Mas apontando todos os caminhos para a solução.

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?