Precificação é melhor saída para impasses ambientais

Precificação é melhor saída para impasses ambientais

Precificação. Essa foi a palavra utilizada por especialistas em energia para definir a melhor saída para solucionar os constantes impasses nos debates sobre o meio ambiente e o aquecimento global. Sem saber quanto custa a derrubada de uma floresta ou qual o impacto exato do uso de biocombustíveis em aviões, é muito difícil encontrar saídas práticas ao problema do aquecimento global no mundo. O tema foi debatido no comitê de Energia da Amcham-São Paulo na terça-feira (31/01).

A proposta foi analisar os resultados da Cop-17, reunião sobre mudanças climáticas realizada em dezembro, em Durban (África do Sul), e apontar prioridades para o Rio+20, encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre desenvolvimento sustentável, que ocorre em junho, no Rio de Janeiro.

Marcelo Takaoka, presidente da construtora Y Takaoka, especializada em construção sustentável, afirmou que o maior desafio é precificar os ativos ambientais e promover a eficiência em seu uso. “É difícil precificar a eficiência para saber o custo do melhor aproveitamento da energia. Mas uma coisa é certa: eficiência é sinônimo de competitividade.”

Segundo Takaoka, os principais pontos críticos na atualidade envolvem a produção de alimento, a ameaça das mudanças climáticas, os transportes nas cidades e se haverá energia suficiente. “A energia nunca é o bastante. Então temos que ser mais eficientes e mudar a forma como usamos nossas fontes.”

Iniciativa privada

Josilene Ferrer, gerente do Setor de Clima e Energia da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), defende que, não só os governos ou os indivíduos, mas as empresas também têm que aprender a “analisar custos e oportunidades em um mundo com recursos cada vez mais escassos”.

Ela diz que o Brasil é responsável por 6% das emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa, e “o uso da terra e a agricultura são as maiores responsáveis” por esse resultado, e não só a indústria, como muitos pensam. Para a especialista da Cetesb, é comum culpar as fábricas pelo estrago à camada de ozônio, mas em São Paulo, por exemplo, a maior parte da emissão é da frota de veículos e de aviões. “Todos têm que fazer sua parte.”

Números apresentados por Nelson Bugalho, diretor vice-presidente da Cetesb, mostram que entre 1990 e 2010 houve um crescimento de 49% nas emissões só de CO² (dióxido de carbono), um dos principais poluentes, chegando a cerca de 10 bilhões de toneladas.

“Há quem diga que essa expansão ameaçou o objetivo de limitar o aquecimento global a 2°C”, afirmou Bugalho. “Então um dos desafios que temos é como combater o aquecimento e manter as luzes acesas”, completa.

Ele sustenta que o Brasil já está em um bom rumo quando usa, por exemplo, etanol no lugar dos combustíveis derivados do petróleo. “Salvo o Brasil, a frota de veículos do mundo só emprega combustíveis fósseis”, analisa.

Mais concorrência

Takaoka concorda que o etanol é uma importante alternativa na matriz energética brasileira. Mas é preciso mais do que a mera substituição do combustível que abastece os carros. “É necessária uma mudança de cultura”, afirma.

“Hoje estamos num círculo vicioso do transporte”, explica. “Estamos usando uma lógica perversa para tratar do tema. Quando aumenta o número de carros nas ruas, amplia-se o congestionamento. Crescendo o trânsito, mais ônibus vão para a rua para atender o transporte público. Ao colocar mais ônibus, sobe ainda mais o congestionamento. E o segredo, neste caso, deveria ser um metrô mais eficiente”, ilustrou.

Ele cita o caso do metrô de Tóquio para exemplificar os efeitos da mudança de hábito: “Quinze anos atrás, o metrô era tão lotado que era preciso vir um funcionário empurrar os passageiros para dentro do vagão. Ficávamos espremidos”.

Hoje, por meio de PPPs (Parceria Público-Privada), o metrô da capital japonesa cresceu tanto em rede quanto em qualidade e conforto. “Há estações com três linhas de metrô e o passageiro escolhe qual pegar para ir ao mesmo ponto. Há uma estatal e outras duas empresas que concorrem entre si, com benefícios aos passageiros.”

No mundo contemporâneo, as cidades são as que mais demandaram energia – 66% da eletricidade do mundo vão para zonas urbanas. “Só os edifícios consomem entre 30% e 40% da energia global”, revela. Então, é mais simples encontrar alternativas e trabalhar sobre elas. “Melhorar a eficiência de uma cidade é mais fácil, rápido e barato do que fazer o mesmo em um país todo”, conta Takaoka.

Apoio político

A precificação ambiental pode ajudar o governo a direcionar melhor seus esforços. Um estudo apresentado à ONU nesta semana, feito a partir da análise de 22 chefes e ex-chefes de Estado, empresários e cidadãos de vários países, apontou uma definição para o preço do carbono como necessária.

“Há uma vontade muito grande de implementar leis, mas há dificuldades”, avalia Bugalho. “O Estado tem que estimular e apoiar mais. Tem que planejar e assegurar que as medidas ambientais vão fazer efeito.”

Além de moradias sustentáveis e mais transporte público, Bugalho aponta a importância da adoção de políticas de incentivo. “Temos que taxar mais o que prejudica [o ambiente] e compromete a qualidade de vida”, analisa ele, “e ao mesmo tempo criar subsídios às novas tecnologias”.

Takaoka concorda. “O governo tem que começar a exigir padrões mínimos de eficiência”, defende. Ele explica que as energias renováveis e técnicas de produção consideradas verdes têm custo maior para as empresas. “Então temos que pensar no longo prazo. No curto prazo, essas alternativas são mais caras mesmo.”

“Diminuir os impostos de eletrodomésticos classificados como nível A pelo Procel [os mais eficientes no consumo energético] é um tipo de iniciativa de que precisamos”, afirma. “O retorno lá na frente é mais energia disponível para produzir outras coisas.”

Mudança de hábito

Os indivíduos podem e devem passar a pensar mais no ambiente também. Uma experiência na Austrália mostrou o papel das pessoas na mudança de hábitos. Duas casas vizinhas idênticas receberam duas famílias diferentes. A primeira casa era sustentável, feita da forma mais verde possível. A segunda casa era comum.

“Sabe quem, ao final de um ano, economizou mais energia?”, questiona o empresário. “Erro. Foram os habitantes da casa comum porque a família que entrou na casa sustentável pensou: se a casa já é eficiente, não vou precisar fazer mais nada. Então não desligava a luz, não economizava água.”

Takaoka reforça que mudanças de hábito consistentes levam tempo, possivelmente uma geração. “Os nossos filhos já virão com essa consciência ambiental mais apurada, mas a maior parte das pessoas vai continuar fazendo como sempre fez.”

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?