Luciana Antonini Ribeiro: Há, sim, capital disponível para implantar a Agenda 2030

O chamado financiamento para a transição deve estar na pauta de negócios e de firmas de investimento em 2020 ou não teremos mais tempo

Os ativos financeiros globais são suficientes para atender as necessidades de financiamento da Agenda Global de Desenvolvimento para 2030. Essa afirmação não é minha, mas do Fórum Econômico Mundial no documento Financiamento para os ODS. Então, o que falta para agirmos com efetividade? Afinal, a contagem regressiva dos 10 anos começou e ainda há muito a caminhar.

Esse é um cenário, como tantos outros, bastante complexo, pois se trata de uma transição para um capitalismo ético. E o surgimento de novas relações depende de novos acordos e agendas positivas para aproximar os setores público e privado, com foco em solução e transformação. Porque, neste momento, um depende intrinsecamente do outro para a  construção do futuro melhor, propalado nos ODS.

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Assim, surgem iniciativas para direcionar mais fundos privados para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como o Juncker Plan, plano de investimento da União Europeia que busca facilitar os investimentos éticos. Já a organização dos Princípios Financeiros Combinados da OCDE/CAD (Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento) incentiva empréstimos destinados a soluções para os ODS, a partir de um checklist de padrões a seguir e do impacto desejado. Entre tantos outros projetos.

As Nações Unidas estimam que o financiamento anual necessário para se atingir as metas dos ODS varia entre US$ 5 e 7 trilhões. O alento é que há uma efervescência de capital disponível. No mercado de financiamentos corporativos, por exemplo, os empréstimos globais ligados à questão de sustentabilidade cresceram de US$ 5 bilhões, em 2017, para quase US$ 40 bilhões em 2018 – dados do Environmental Finance. E os relatórios de bancos sinalizam o momento ótimo para qualquer empresa que deseja pautar suas ações em soluções para os ODS. Há financiamento disponível porque, nesse redesenho de papéis de quem controla o capital, os bancos também enxergam a oportunidade de agir a partir de uma visão de longo prazo e de contribuir com o compromisso global de um futuro mais digno.

Ilustração: Ken Robinson/Global Goals

No mercado dos investimentos sustentáveis, é também positivo o apoio a quem se volta para solucionar gaps estruturantes. Na semana dedicada ao tema, em Nova York, no final de 2019, quem participou recebeu o desafio de pensar como mobilizar, neste ano de 2020, US$ 10 trilhões para um mundo mais inclusivo e sustentável. Atualmente, 1/3 dos ativos administrados globalmente – US$ 30, 7 trilhões – se destinam às finanças sustentáveis e já estão sob a gestão de firmas mainstream, o que, segundo especialistas, tende a se tornar o novo normal do mercado de capitas.

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De acordo com a Aliança Global de Investimentos Sustentáveis (GSIA), essa escolha  – que engloba os investimentos de impacto e ESG – cresceu 34% em todo o mundo, desde 2016. Podendo chegar este ano a US$ 40 trilhões. Mas há algumas barreiras a superar. Falta de clareza sobre métricas, mensuração de sucesso e taxonomia. E confiança para mudar a chave do “Tão bom para ser verdade” – o que só é possível com a comprovação de excelentes performances financeiras, visão sistêmica ao definir metas e prestação transparente de contas.

Nesse caminho de mais clareza sobre o que esperar dos investimentos transformacionais, as gigantes Black Rock e UBS se uniram ao Instituto Internacional de Finanças (IIF) e lançaram uma taxonomia sobre o que seria investir com sustentabilidade. Porque sabem que a incorporação ao mainstream de forma orgânica depende de um framework durável, que ajude aos hoje donos de grandes fortunas – riqueza global avaliada em US$ 300 trilhões – a alinhar os investimentos disponíveis com as novas necessidades globais para um mundo mais seguro, saudável e digno para todos.  O IIF reúne 450 das maiores seguradoras e gestoras de ativos do mundo e se conseguir construir credibilidade, a partir dessa iniciativa, para financiar a transição necessária para os ODS será um grande passo nesse primeiro ano de contagem regressiva.

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