“Ontem e hoje participei de dois painéis que me fizeram repensar (…) em como desejo me colocar no mercado. Inspirações de diversos líderes e CEOs (…) me geraram um sentimento de reflexão e de aprendizado, ainda mais no atual cenário. Obrigada Ideia Sustentável por organizar um evento de tamanha competência e excelência. E obrigada: Ricardo Voltolini, Andreia Dutra, Cristina Palmaka, Eduardo Gouveia, Italo Freitas, Leonel Andrade, Leyla Nascimento, Lídia Abdalla ,Jean Jereissati , Marcos Bicudo e Marise Barroso. Vocês me motivaram (…) como líderes e pessoas, me engajaram como estudante a continuar buscando novos caminhos e oportunidades e a aplicar uma liderança com propósito dentro da empresa júnior em que trabalho”.
Juliana Nascimento, estudante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e membro da Empresa Jr. Patamar Consultoria
Este texto se propõe a ser um balanço da história de 10 anos de Plataforma Liderança com Valores. Ou de como a história transcorreu segundo a minha perspectiva. Sendo assim, poderia publicá-lo em reservado, dirigindo-o apenas aos que participaram diretamente dela. Mas o post da estudante Juliana Nascimento, na epígrafe deste artigo, fez-me mudar de ideia. Não só sobre o ato de dividir com mais pessoas o balanço da Plataforma. Mas sobre o seu próprio conteúdo.
O tom racional, por causa de Juliana, cederá lugar a outro mais emocional. Os números serão poucos. Bem menos do que havia apontado no primeiro texto, deletado sem piedade. E aqui só servirão para aplacar o jornalista que ainda dormita na minha alma cartesiana, eternamente comprometida com os fatos, as análises, as inflexões.
Mais pródigos serão as impressões, as relações e os aprendizados pessoais. Creia-me leitor: considero essa mudança uma evolução pessoal– um salto quântico do cerebrum hominem para o affectum hominis, ou ainda a transição de uma visão egocêntrica para outra ecocêntrica, que se caracterizaram, no meu caso, pelo fato de ter aprendido a dar mais valor ao caminhar do que ao destino, aos afetos do que aos feitos.
Um balanço honesto deve começar com uma confissão. Durante a maior parte dessa jornada de uma década, confesso, distraí-me achando que o principal patrimônio da Plataforma Liderança com Valores seria o seu “acervo audiovisual único” (250 depoimentos de CEOs), a sua bibliografia de 10 livros, guias e publicações especializadas, a grande audiência (300 mil pessoas) proporcionada por 1200 palestras pelo país. Não era, nunca foi, embora esse conjunto de produção intelectual represente em si mesmo um gesto raro, e portanto, louvável num país pouco afeito à leitura, estudo e aprofundamento. Orgulho-me do tempo dedicado a cada um desses estudos.
Ao andar, digamos, meio desligado, sem sentir os meus pés no chão, como diria a velha canção dos Mutantes, pensei ingenuamente que o sucesso se mediria pela maior adesão de grandes empresas e de renomados líderes ao movimento e que, graças á dimensão social do legado que sempre quisemos deixar, outras organizações se aproximariam dispostas a somar esforços.
A distração cobra sempre um preço alto. Apesar da seriedade das intenções e do crivo rigoroso nos processos de elaboração de cada um dos 10 ciclos temáticos da Plataforma, cometemos (eu e minha equipe, mais eu do que ela) alguns (poucos) equívocos na seleção de líderes. Erramos quando, orientados pelo fato técnico, escolhemos líderes que não se mostraram à altura (seja em ideias seja em atitudes) das boas práticas de sustentabilidade da empresa. Erramos quando escolhemos líderes que, apesar de preparados em sustentabilidade, nunca partilharam dos compromissos e valores da Plataforma, tendo-a utilizado, de modo pontual e pragmático, sob a orientação de suas áreas de comunicação, apenas como um veículo gratuito para juntar uns cupons de reputação.
A palavra errar aqui merece, claro, ser relativizada. A ideia de “erro” só tem maior peso se tratada sob o parâmetro limitado que eu, inadvertidamente, utilizei para definir o sucesso da Plataforma. Durante todo o tempo em que me dediquei a garantir a “qualidade dos conteúdos” (cases concretos, histórias genuínas, líderes eloquentes e compromissados com o tema, formatos rápidos e envolventes), apostando que as variáveis “o quê” e “como”, assegurariam por si o êxito do projeto, afastei-me involuntariamente de sua essência (o “porquê”), resgatada, de alguma forma, no post de Juliana Nascimento.
Não importa, a rigor, quão eloquentes sejam os líderes, quão grandes sejam suas empresas nem quão corretos sejam os seus cases. Tem importância relativa, na mesma medida, a qualidade técnica dos vídeodepoimentos (linguagem de cinema), o volume de páginas (mais de 30 mil) dedicadas a formar conhecimento em sustentabilidade ou mesmo a acurácia das estratégias de disseminação de conteúdos (que atingiram seis milhões de pessoas.)
O que realmente faz a diferença, no final do dia, é o impacto profundo disso tudo nas pessoas. Não no repertório, mas na alma das pessoas. Não falo de impactos pontuais, epidérmicos, que, como uma coceira repentina, desaparecem no dia seguinte sem deixar resíduos. Falo de como esses conteúdos, selecionados e tratados com esmero, repercutem na formulação de insights poderosos, na revisão de crenças limitantes, no fortalecimento de valores, na mudança de comportamentos e, por que não, no nível de esperança dos indivíduos.
Logo, eles só encontram ressonância efetiva na dimensão dos “porquês.” E as respostas aos porquês sugerem profundidade, pressupõem um mergulho mais emocional do que racional, implicam conferir significados novos a novas experiências. Situam-se no território do propósito. Exigem, como tal, conexões baseadas em alto nível de intensidade humana que não podem ser feitas entre ideias e pessoas, mas apenas entre pessoas e pessoas. Decorrem menos, portanto, de compreensão cognitiva das ideias transmitidas pelos líderes e mais de projeção emocional nos seus exemplos.
Parece mais óbvio afirmar hoje do que quando comecei o movimento: o poder não está com a empresa (que detém a conhecimento prático) nem com a Ideia Sustentável (que organiza, sintetiza e distribui o conhecimento) mas com quem transforma esse conhecimento em mudança e ação. Os conteúdos da Plataforma só se completam, de verdade, quando inspiram a formação de makers (e não thinkers) em liderança com valores. Só existem, portanto, quando levam pessoas como a Juliana, a desejarem liderar com valores. A quererem atuar com ética, transparência, integridade, respeito pelo outro e cuidado com o planeta.
E pensar que, apesar de protegido pelo acaso enquanto andei distraído, deixei de registrar outros tantos milhares de depoimentos semelhantes ao de Juliana, ouvidos nos corredores de palestras, fóruns, seminários e salas de aula, ou recebidos em e-mails, posts, mensagens de whats ao longo de dez anos. Hoje teria, certamente, a melhor parte do balanço para dividir com vocês. A parte relacionada ao conjunto de impactos. Impactos não são números. Mas vidas transformadas. Não me faltou escuta ativa. Escutei com interesse, sempre. Faltou-me valorizar a riqueza dos pequenos aprendizados. Faltou-me, sobretudo, celebrar as belezas do caminhar, muito distraído que estava com o objetivo final.
Não exagero ao dizer que dos 10 anos de Plataforma Liderança com Valores os últimos 10 meses foram os mais marcantes –nesse período, intenso, fortaleci os vínculos com os líderes e empresas que sempre estiveram alinhados com os valores da Plataforma, deixei escapar, sem resistência, agradecido até, líderes e empresas desconectados do nosso propósito e, para meu júbilo, conheci e aproximei-me de líderes e empresas mais compromissados com o que realmente vale a pena embora isso não resulte em cobertura de mídia ou ganhos imagem para ninguém: impactar as milhares de Julianas espalhadas pelo país.
Também não exagero ao afirmar que os 90 últimos dias foram, de longe, os mais realizadores nessa jornada. Isso nada tem a ver, garanto, com o recente recorde de público (quase três mil inscritos, façanha do mundo virtual) nos dois eventos (Líder 2030 Talks e CEO Com Propósito) transmitidos em maio pelo Youtube. Mas com outro fato, digno de nota. Pela primeira vez, em dez anos, tomei a liberdade de acionar, um a um, centenas de parceiros – líderes, seguidores e formadores de opinião. Deu um enorme trabalho, mas valeu a pena: adesão de 95%. Raras vezes, observei engajamento tão alto. Descobri, ou redescobri, que nenhuma iniciativa de transformação social se mantém firme ao longo de dez anos sem uma rede viva e pulsante de pessoas que a apoiam sem contrapartida, apenas por identificação com a causa e por que os seus espíritos foram tocados por seu propósito. Enquanto elas existirem, haverá Plataforma Liderança com Valores.
A Ideia Sustentável constrói respostas técnicas eficientes e oferece soluções com a melhor relação de custo-benefício do mercado, baseadas em 25 anos de experiência em Sustentabilidade e ESG.