O líder sustentável e a estratégia para o “próximo passo” da sustentabilidade

5 de fevereiro de 2013

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Por José Gonçales Junior

Conduzir empresas, sociedades e pessoas a viverem de forma mais sustentável, é uma tarefa que exige um grau de compreensão para além das formas de entendimento e de leitura que as lideranças tradicionais, da “economia marrom” conduzem e interpretam os resultados dos seus negócios, geralmente em curto prazo.

Há inúmeras matrizes de planejamento, execução, monitoramento e gestão de processos que se dispõe a conduzir a empresa para um patamar de “sustentabilidade” (relembrando Ray Anderson, sustentabilidade é um “monte a ser escalado”), isso exige de todas as lideranças níveis de compreensão e responsabilidade com as pessoas e o planeta elevados, em escalas de tempo mais longânimes e forte senso de responsabilidade pessoal com o mundo que nos cerca.

Em mais de vinte anos de debates sobre gestão ambiental, social e sustentabilidade, podemos dizer que evoluímos muito, tanto no uso de instrumentos de planejamento e gestão na implantação de empresas, produtos e processos produtivos mais responsáveis, como também no aumento do grau de consciência do cidadão, que também é consumidor, e que começou a perceber e notar as externalidades dos processos produtivos; sendo assim passou a cobrar um posicionamento das empresas sobre tais externalidades.

Entre as matrizes e modelos de implantação de gestão sustentáveis no Brasil e no mundo, temos o “Balanced Scorecard”, desenvolvidos pelos professores Robert S. Kaplan e David P. Norton (Harvard Business School), que desde 1990 vieram envolvendo centenas de empresas, organizações do setor público e organizações não governamentais, na busca de construir maneiras de medir e acompanhar o desenvolvimento das estratégias através do desempenho organizacional. O trabalho de intensa pesquisa sobre cases foi publicado em vários artigos da Harvard Business Review e se tornou modelo mundial de dashboard na implantação de estratégias.

Um dos grandes méritos de tal modelo sem sombra de dúvida foi “orientar as organizações em direção à estratégia da empresa”, traduzindo-a em termos operacionais, em alinhamento e tarefa para todos, em processo contínuo, e na mobilização de todos por uma liderança executiva e transformadora.

Nos últimos vinte anos o Balanced Scorecard ficou exposto as discussões e debates sobre a incorporação entre seus quatro indicadores de uma base que o conduzisse a implantar estratégias de sustentabilidade nas empresas, isso fez com que  incorporasse no seu escopo os “processos de inovação” (que conduziriam a produtos mais ecoeficientes, menor impacto ambiental no uso de matérias primas), que confere ao BSC sua forte tendência para converter intangíveis em tangíveis, e os “processos regulatórios e sociais”, contemplando cada vez mais as externalidades da produção.

Ao promover melhorias consideráveis nos processos em torno de seus quatro temas, o BSC gera maior retorno aos acionistas e agrega indubitavelmente valor nas empresas onde é aplicado; somado a isso o mesmo promove valor agregado ao conduzir a busca por excelência na aplicação das estratégias nas centenas de processos produtivos que ocorrem no interior das organizações, promovendo otimização e eficiência em dezenas ou centenas deles e constante benchmarking.

Tal conduta do modelo em busca da otimização e eficiência, que acaba gerando novos tangíveis no curto prazo, somado também à estratégia do olhar sustentável, ávido por conduzir e buscar gerenciar os processos regulatórios sociais e ambientais (que demandam por prazo maior de atenção e desenvolvimento) compõe sem sombra de dúvida o cerne da eficiência do BSC em sua modalidade dirigida à sustentabilidade.

Mas toda matriz, sistema ou modelo de planejamento e gestão, ao longo da evolução das escolas de negócios e na formação de milhares de líderes ao redor do mundo, sempre correu e corre os riscos de ficar desatualizada, e de perderem a capacidade de leitura da realidade, como também das demandas e novas descobertas sobre o comportamento da sociedade ou o funcionamento dos ecossistemas; desse fato incorremos que o BSC, como outros sistemas e dashboards devem estar abertos e dispostos para intensa discussão e incorporadas novas visões e opiniões da realidade, que por ser complexa, não cabe em modelos estanques.

Vivemos em uma era complexa, diante de um grau de evolução técnico – cientifica jamais visto (conforme amplamente discutida por Rose Marie Muraro em seu livro “Avanços tecnológicos e o futuro da humanidade”), e os reflexos socioambientais não somente dos produtos criados e lançados no mercado, como também as interações de tais produtos com pessoas e meio ambiente, foge cada vez mais do escopo da compreensão hermética, e o grau de riscos ambientais e situações de descontrole aumentam a cada dia.

Tal conjuntura deve ser contemplada na concepção de qualquer produto ou serviço, tendo em vista que o grau de sinergia entre os novos lançamentos no mercado e seus impactos sociais e principalmente ambientais, que vem aumentando em escala preocupante em todos os cantos do planeta.

Enfim a ciência e a altíssima tecnologia, incorporada nos processos produtivos não consegue dar conta, nem mitigar os impactos cada vez mais sistêmicos e complexos dos milhares de produtos que lançamos todos os anos nas prateleiras: em um planeta finito o lixo não pode crescer infinitamente, e a economia produtiva deve incorporar urgente os conceitos da física e da economia ecológica, do qual Nicolau Georgescu Roegen é um dos precursores. Produção e consumo devem obedecer as leis da física, da ecologia e caminhar junto com a evolução dos ecossistemas terrestres.

Diante dessa questão, planejarmos, traçarmos estratégias e construirmos dashboards que busquem sustentabilidade futura, e que compreendam amplamente os níveis de  impactos dos produtos é função primordial de todos os líderes que estão no front das empresas – é preciso o entendimento e aceitação de que a cada dia nos envolvemos e vivemos em um mundo cada vez mais complexo, assim, o que fazemos e aprovamos pode gerar impactos em proporções que desconhecemos.

Buscar aliar a eficiência energética ou de materiais aplicada pelos quatro parâmetros do BSC, ampliar sua forte tendência a converter intangíveis das mais diversas formas (TI, capital humano, conhecimento acumulado) em tangíveis, pede pela incorporação e ampliação não somente dos processos regulatórios e sociais (o que remete a caminhar em direção a Lei), como também aprimorarmos o caráter de benchmarking e de geração de conhecimento e produção de estratégias e aplicação nos processos produtivos, que caminhem cada vez mais para a busca de compliance, do parâmetro “Zero Footprint” e de novos referenciais de produção e consumo – em direção da quebra da  barreira da sustentabilidade.

Diante disso, o BSC pode se tornar cada vez mais um modelo de implantação de estratégias que busquem o foco na melhoria de todos os processos diante do longo prazo, do retorno de longo prazo, e do olhar profundo e sistêmico que compreenda mais os impactos do que produzimos e lançamos no mercado mundial.Não se pode construir um futuro, nem uma sociedade que consuma cada vez mais produtos com padrões altamente tecnológicos e ditos “verdes”, porém em escala infinita em um planeta finito; devemos evoluir na busca de modelos de produção e consumo onde os impactos socioambientais de qualquer novo lançamento sejam devidamente mensurados e pensados, dentro de um planeta cuja capacidade de suporte da vida dá nítidos sinais de estresse e de situações de colapso futuro. Mesmo satisfeitos diante de nossas empresas que já produzem com excelência, é preciso evoluir na visão e meta sustentável em todos os processos nas empresas, pois no complexo ecossistema chamado Terra, toda excelência ainda é pouco para garantir “nosso futuro comum”, e se na nossa missão e visão está escrito a nossa intenção de ser uma empresa que cuida de pessoas, do meio ambiente e retorno aos seus acionistas também no longo prazo, todas as ferramentas restantes devem se adequar a essas premissas, caso contrário comanda o imediatismo de curto prazo, e o mesmo já tem intensa catalogação do que já causou ao longo da história.

José Gonçales Junior é geógrafo pela USP, MBA em Sustentabilidade pela FGV/SP, consultor em Desenvolvimento Sustentável, docente de pós-graduação em faculdades em Campinas e São Paulo na área ambiental – sustentabilidade e ambientalista.

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