Artigos – Sinergia entre a energia das águas e dos ventos

Artigos – Sinergia entre a energia das águas e dos ventos

As ameaças ao suprimento de gás, a elevação dos preços do petróleo e as preocupações com os efeitos do aquecimento global explicam a inclusão de temas como segurança energética e redução da emissão de gases de efeito estufa na agenda energética da Europa. Fontes próprias de energia e fontes renováveis compõem, respectivamente, soluções possíveis a essas questões. Entende-se, pois, porque a Europa tomou a dianteira no aproveitamento da energia eólica.
O mundo contabiliza mais de 120 mil MW instalados em centrais eólicas, 55% dos quais no Velho Continente. Entre os 10 países que lideram a lista de instalações eólicas no mundo, sete são europeus: Alemanha, Espanha, Itália, França, Reino Unido, Dinamarca e Portugal. Estados Unidos, China e Índia, todos também com evidentes preocupações quanto à segurança energética e à “renovabilidade” de suas matrizes elétricas, são os países que completam a lista.
E no Brasil? Segurança energética e “renovabilidade” da matriz elétrica não são fatores de preocupação. Afinal, nosso vasto potencial hidrelétrico, do qual utilizamos até agora apenas um terço, garante energia própria e uma matriz elétrica 90% renovável. Se não devemos ficar indiferentes às tendências mundiais, por certo temos nossos próprios caminhos a trilhar. Foi assim com a nossa bem-sucedida estratégia com os biocombustíveis.
Contudo, a atenção ao nosso recurso eólico se justifica justamente porque dispomos de um sistema elétrico interligado e baseado na hidroeletricidade. Os europeus já perceberam que existe importante sinergia entre as duas fontes. No Brasil, pelas dimensões do parque hidráulico, pelas características do sistema elétrico e, principalmente, pela diversidade que há aqui entre vento e vazão, esta sinergia
vai além do que naturalmente esperar-se-ia.
Estudos preliminares da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que há uma correlação negativa significativa entre vento e vazões afluentes aos reservatórios. Traduzindo: há, em geral, mais vento nos meses mais secos e mais chuva nos meses mais “abafados”. Isto quer dizer que, além da geração própria no local em que se instala uma usina eólica, o aproveitamento dessa diversidade permite um ganho adicional na capacidade de produção de todo o sistema. A energia do vento e a energia dos rios têm, especialmente no Brasil, uma sinergia evidente!
As indicações são de que 4.000 MW eólicos agregados ao atual parque hidráulico brasileiro permitiriam adicionar ao sistema uma quantidade de energia 30% maior do que a produção esperada nas centrais eólicas. Algo como uma usina hidrelétrica virtual de quase 1.000 MW!
O sistema interligado brasileiro já dispõe de uma capacidade de produção virtual decorrente das interligações e da diversidade hidrológica que se estima em 15%. A combinação dos recursos do vento e dos rios pode ampliar esse benefício.
Estamos hoje, com relação à energia eólica, em uma situação parecida com a que estávamos nos anos 1960 com relação à hidroeletricidade. Sabemos que o potencial é grande. Já começamos a desenvolver alguns projetos. Falta uma visão sistêmica do aproveitamento do recurso. Somente depois da abordagem sistêmica que fizemos nos anos 60 é que desenvolvemos, da forma como desenvolvemos, o nosso potencial hidrelétrico. É hora de fazer o mesmo com o recurso eólico.
Se por aqui a segurança energética e a “renovabilidade” da matriz não são ainda as razões para desenvolver a energia dos ventos, a sinergia hidroeólica pode ser a motivação diferencial para o desenvolvimento nacional na área.
(*) Presidente e Diretor de Economia da Energia e Meio Ambiente da Empresa de Pesquisa Energética – EPE

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