Criar um tributo sobre transações financeiras internacionais para viabilizar um fundo verde responsável pela promoção de empregos e tecnologias limpas. Esta foi a proposta eleita pelos cerca de dois mil membros da sociedade civil que participaram da reunião dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável que discutiu a crise financeira. A proposta deve ser apresentada aos Chefes de Estado e de Governo durante o Segmento de Alto Nível da Rio+20, que se inicia no próximo dia 20.
Realizada na tarde deste sábado, 16 de junho, a sessão abordou as principais maneiras de encontrar soluções para a crise financeira, tomando como base os conceitos de desenvolvimento sustentável. O debate foi conduzido pelo jornalista da TV Brasil, Luis Nassif, e contou com a participação de outros nove palestrantes brasileiros e estrangeiros, entre acadêmicos, empresários e representantes de Organizações Não-Governamentais.
O cerne dos debates foi a discussão acerca da educação e de como ela pode construir uma nova mentalidade que inclua o desenvolvimento sustentável, mesmo em períodos de crise. O Presidente Executivo da Abril, Fabio Barbosa, defendeu que a educação deve servir para conscientizar os consumidores acerca da importância do consumo sustentável, posição que foi compartilhada pelo empresário chinês Wang Shi, fundador e presidente da China Vanke. A diretora da ONG argentina Responde, Marcela Benitez, destacou a importância dos investimentos nessa área para melhorar a distribuição de renda e reduzir os déficits em áreas rurais. Já a professora do Instituto de Estudos Políticos de Paris, Laurence Tubiana, afirmou que é preciso criar um novo modelo de crescimento que inclua educação para reduzir as desigualdades sociais.
A pesquisadora Kate Raworth, da Oxfam, acrescentou, ainda, que todo ser humano deve ter os recursos necessários para sobreviver, o que inclui acesso à alimentação e à educação. Para ela, o desenvolvimento sustentável deve incluir essas garantias, especialmente aos mais pobres. “Precisamos encontrar uma maneira de viver que respeite os limites do planeta, ou seja, que inclua o conceito de sustentabilidade”, explicou.
O Economista Chefe do South Centre, Dr. Yilmaz Akyuz, ressaltou que as crises fazem parte da história econômica mundial e que ainda não ficou claro como responder a esta crise. “Se não houver ações de desenvolvimento sustentável, não haverá como detê-las. É necessária uma mudança da arquitetura do modelo financeiro”, afirmou.
Para o ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Enrique Valentin Iglesias, a crise é um período de desafios e oportunidades. Segundo ele, a melhor maneira de encará-la é desenvolver uma consciência crítica que comprometa governo e sociedade na construção de um futuro sustentável. “A crise nos força a reduzir a capacidade de nos comprometer. Porém, é importante manter os compromissos já assumidos para garantir o desenvolvimento sustentável”, defende.
Propostas para lidar com a crise financeira
Além da proposta eleita pela sociedade civil, duas outras foram escolhidas. A sugestão de promover reformas fiscais que encorajem a proteção ambiental e beneficiem os mais pobres foi eleita pelas votações realizadas pela Internet, encerradas no dia 15 de junho. Já os palestrantes definiram uma proposta baseada em avaliação do economista Jeffrey Sachs, que participou da plenária. A sugestão do economista é que a sociedade civil se engaje e cobre dos governos as soluções adequadas para a implementação do desenvolvimento sustentável.
“Devemos nos unir para construirmos uma geração que estará comprometida com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU. Estas metas nos inspiram a lutar contra a pobreza, a doença e a fome. A sociedade civil deve se organizar, para que as decisões não estejam somente nas mãos dos governos”, afirmou Sachs.
A opinião foi compartilhada por Herman Mulder, presidente do Global Reporting Initiative, e por Caio Koch-Weser, vice-presidente do Deutsche Bank Group. Mulder destacou a importância da parceria entre o setor público e o setor privado na implementação do conceito de desenvolvimento sustentável em períodos de crise. Koch-Weser defendeu que é preciso, também, reafirmar a economia verde para atingir um novo paradigma, o de desenvolvimento sustentável e igualitário. “Para que esse modelo dê certo, há necessidade de liderança de todos nós, não apenas dos políticos”, completou.
Estrutura dos Diálogos
Os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável iniciaram-se hoje e se estendem até o dia 19 de junho na plenária do Pavilhão 5 do Riocentro. Serão dez rodadas de discussão, com dez participantes cada uma, que abordarão temas prioritários da agenda internacional de sustentabilidade. A cada rodada, três propostas serão escolhidas, uma pelos palestrantes, uma pelos participantes da sessão e uma pelos internautas. As trinta sugestões mais votadas serão levadas diretamente aos Chefes de Estado e de Governo presentes na Conferência.
São dez os temas dos Diálogos: (i) Desemprego, trabalho decente e migrações; (ii) Desenvolvimento Sustentável como resposta às crises econômicas e financeiras; (iii) Desenvolvimento Sustentável para o combate à pobreza; (iv) Economia do Desenvolvimento Sustentável, incluindo padrões sustentáveis de produção e consumo; (v) Florestas; (vi) Segurança alimentar e nutricional; (vii) Energia sustentável para todos; (viii) Água; (ix) Cidades sustentáveis e inovação; e (x) Oceanos. Todos os debates serão transmitidos ao vivo no website das Nações Unidas:
http://www.uncsd2012.org.
Mais informações:
(55 21) 2442-9444 / (55 21) 9438-1604 /
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