O ato de doar, segundo Clinton

25 de novembro de 2008

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Pense rápido leitor: qual seria a atividade mais compatível com o currículo de um ex-presidente de uma grande nação? Há os que, por vício e vaidade, preferem seguir na política arriscando a biografia em cargos menores. Mas há os que, conscientes de seu papel e responsabilidades, resolvem colocar tempo, dinheiro e habilidades a serviço, por exemplo, de causas ligadas a sustentabilidade.
Um caso notável é o de Mikhail Gorbachev, ex-presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Depois de governar aquele país, entre 1985 e 1991, promovendo a liberdade de expressão (glasnost) e a reestruturação de instituições internas (perestroika), Gorbachev criou em 1993 a Cruz Verde Internacional para difundir ideais de uma nova consciência ambiental. Pregador enérgico da causa ecológica, um dos promotores da famosa Carta da Terra (1994), Gorbachev  não se cansa  de afirmar que o sistema econômico mundial tem sido responsável por acirrar o confronto entre a humanidade e a natureza.
Outro exemplo interessante é o do ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter. Depois de deixar a Casa Branca, onde morou entre 1977 e 1981, o democrata da Geórgia, tido como um político vacilante, passou a se dedicar às questões da paz mundial e dos direitos humanos. Por causa de sua cruzada para eliminar doenças na África e do seu apoio à auto-suficiência na produção de alimentos em países pobres, ele ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2002.
O caso mais recente é o de Bill Clinton. Após dois mandatos que o fizeram governar a nação mais rica do planeta por oito anos (1993-2001), ele trocou a sombra e a água fresca de uma aposentadoria no Arkansas, sua terra natal, pela criação e gestão de uma fundação que leva o seu nome. Hoje emprega seus talentos para levar assistência médica digna,  promover a cidadania e o desenvolvimento econômico em países pobres.
Como Carter e Gorbachev, o marido da senadora Hillary Clinton compreendeu que ex-presidentes têm uma missão pessoal a cumprir e que, em nome dela, precisam “equilibrar a balança” dos muitos privilégios que receberam ao longo da vida, doando carisma, experiência política e capacidade de mobilização para causas de grande interesse da humanidade. Diferentemente dos outros dois, no entanto, Clinton resolveu botar em livro suas idéias sobre a importância do ato de doar. Trata-se de Doar- Como Cada um de Nós Pode Mudar o Mundo, recentemente lançado no Brasil, pela editora Agir. A obra, de 238 páginas, combina breves análises, opiniões e crenças de um Clinton que aprendeu a doar muito cedo – pequenos trocados para a Marcha dos Dez Centavos, contra a poliomilite – com histórias de pessoas e organizações com quem conviveu e que, em sua visão, fazem a diferença na construção de um mundo mais justo.
Observador atento, Clinton identifica uma “explosão de serviço dos cidadãos á sociedade”, que atribui a três fatores. O primeiro diz  respeito ao desenvolvimento, pós-Guerra Fria, de sociedades mais democráticas e oportunidades crescentes para a criação de ONGs. O segundo refere-se ao fato de que a revolução tecnológica e a globalização produziram bilionários mais sensíveis para doar recursos. E o terceiro aponta  o aumento da democratização do ato de doar graças à internet. Segundo Clinton, 70% das famílias americanas realizam doação em dinheiro pelo menos uma vez por ano. Em 2006, seus compatriotas doaram 300 bilhões de dólares, cerca de 2% do PIB, ou para o local onde rezam, ou para a comunidade onde vivem ou ainda para uma situação de calamidade pública.
São generosas as teses que Clinton partilha com o leitor, como por exemplo, a de organizar mercados para o bem público. Mas as histórias de doadores ilustres, constituem de longe, o melhor do livro. Para ilustrar suas idéias sobre doar dinheiro, tempo, coisas e habilidades, Clinton abre conversas que teve com gente como Bill Gates e Warren Buffet, os dois maiores doadores individuais do planeta. No ano passado, Buffet doou 30 bilhões de dólares para a Fundação Bill e Melinda Gates, somando um pedaço expressivo de seu patrimônio pessoal aos 35 bilhões depositados pelo dono da Microsoft.  Vale a pena reproduzir o que disse Buffet ao ser indagado por Clinton sobre porque estava doando a maior parte de sua fortuna pessoal para causas sociais: “Posso ter tudo o que preciso com menos de 1% da minha riqueza. Nasci no país certo e na hora certa, e o meu trabalho é desproporcionalmente remunerado se comparado com o dos professores e o dos soldados. Estou simplesmente devolvendo à sociedade o que é seu de direito, o que para mim não tem valor, mas que pode fazer muito pelos outros. Realmente admiro os pequenos doadores que desistem de ir ao cinema ou a um restaurante para ajudar os mais necessitados”. Que Buffet faça escola aqui também no Brasil. Depois da crise –é claro –porque também ninguém é de ferro.
Artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil em 25/11/2008.

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