Por Cristina Tavelin
Batalha pelo verde
A história de Kumi Naidoo, atual diretor executivo do Greenpeace Internacional, chega a causar vertigem aos mais sensíveis. Em junho de 2011, o ativista sul-africano escalou uma plataforma de petróleo da empresa britânica Cairn Energy em nome da campanha Go Beyond Oil. Por essa “travessura”, passou quatro dias preso na Groenlândia antes de ser deportado para a Dinamarca e, posteriormente, liberado.
Ficar parado nunca foi uma opção para Naidoo. Aos 15 anos, já lutava contra o Apartheid, regime de segregação racial adotado durante quase meio século em seu país. A frequência às prisões obrigaram-no a se exilar no Reino Unido, em 1987, de onde retornou somente após a libertação de Nelson Mandela, para ajudar na implementação de um novo sistema eleitoral. Hoje, seu ativismo voltado à defesa do meio ambiente também encontra resistência. No final do ano passado, foi expulso junto a outros dez manifestantes do centro de conferências da ONU contra as mudanças climáticas, em Durban, na África do Sul.
Doutor em Sociologia Política pela Universidade de Oxford, Naidoo já atuou na Aliança Mundial pela Participação Civil e na Ação Global Contra a Pobreza, além de presidir a coalizão de ONGs de seu país. Em contraponto ao otimismo de Brice Lalonde, coordenador executivo da Rio+20, a dose de realismo vivida diariamente pelo diretor do Greenpeace o torna menos esperançoso. “Estamos ganhando batalhas, mas perdendo a guerra.”
Ideia Sustentável: Como você vê a atuação das ONGs atualmente? Elas estão conseguindo alertar a sociedade para os dilemas socioambientais?
Kumi Naidoo: Acredito que o papel das ONGs seja dizer certas verdades desconfortáveis para a maioria e tentar impactar os debates, especialmente sobre meio ambiente. Sabemos que, nas últimas décadas, as organizações da sociedade civil conquistaram muitas batalhas. Mas estamos perdendo a guerra, perdendo o planeta. A escala dessas vitórias contra a destruição do meio ambiente e o tempo levado para vencê-las não são suficientes. Se pensarmos nas mudanças climáticas, por exemplo, estamos atrasados. Habitantes de regiões de risco e comunidades mais pobres já estão sentindo os grandes impactos do aquecimento global. As organizações da sociedade civil, em geral, precisam estar envolvidas com essas questões de forma mais ativa. Porque se dizemos aos governos e negócios que não se pode mais atuar dentro do modelo usual, nós, ativistas, também precisamos ir além desse modelo.
IS: Na sua opinião, como podemos desenvolver soluções eficientes para os desafios das mudanças climáticas?
KN: Esse é um grande problema. Os políticos não veem ou não sabem o que está acontecendo ao seu redor e o que está envolvido nesse grande quadro de transformação. Na maioria das vezes, não há nenhum comprometimento para a implementação de acordos assinados. Então, planos precisam ser estabelecidos. Em relação ao tema energia, por exemplo, o Greenpeace desenvolveu um road map chamado Energy [R]evolution mostrando a evolução nesse cenário, os investimentos tecnológicos e como mudanças nessa área podem realmente reduzir emissões além de gerar milhões de empregos verdes. Também acredito que devemos olhar para a História, pois ela nos mostra como grandes mudanças aconteceram e como a humanidade enfrentou questões complexas – colonialismo, escravidão e luta por direitos humanos, por exemplo.
IS: De que forma é possível engajar as pessoas nesse tipo de discussão?
KN: A campanha lançada pelo Greenpeace no Brasil em favor da lei do Desmatamento Zero é muito simples e prática. Essa é uma medida muito boa porque podemos conscientizar as pessoas sobre a importância de defender a Amazônia. E precisamos de engajamento para levar essa proposta ao Congresso Nacional (o projeto necessita de 1,4 milhão de assinaturas para ser aprovado). Se olharmos para o que a História nos ensina, só houve avanço quando homens e mulheres se levantaram e disseram: chega, não dá mais! E esse momento realmente chegou. Mas precisamos nos engajar muito mais porque governos e negócios não vão se mover rápido o bastante. E esse movimento deve ser feito agora, não podemos apenas dar passos lentos rumo aos objetivos necessários. Precisamos agir.
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