Meio ambiente por inteiro

janeiro de 2013

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Por Rodnei Vecchia

A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas

Johann Goethe

Meio ambiente é o conjunto de forças e condições que afetam diretamente o metabolismo ou o comportamento dos seres vivos e das espécies em geral. É formado por fatores abióticos, como clima, luz, ar, água, solo e energia; por fatores bióticos, como a flora e a fauna; e pela cultura humana e seus paradigmas – valores filosóficos, políticos, morais, científicos, artísticos, sociais, econômicos, religiosos, o modo de vida em sociedade e a educação. A constante interação evolucionária desses fatores forma o meio ambiente, que em equilíbrio traz a felicidade por inteiro aos seus usuários.

O tempo cosmológico é diverso do tempo humano, pois é medido em bilhões de anos. A vida iniciou sua saga terrestre há 3,6 bilhões de anos, mas os humanos só surgiram nesse embate no último segundo da prorrogação, há 200 mil anos atrás. A agricultura tem apenas 7 mil anos e a civilização 11 mil anos, a saber, a Terra nos ignora e se restaura no seu tempo de milhões de anos. A espécie humana é que precisa de auxílio – vive cerca de 80 anos, mas deixa um rastro de impactos ambientais que podem decretar sua precoce extinção, como já ocorreu com 99 % das espécies que por aqui passaram.  Há um conjunto de agressões ecossistêmicas globais que afeta a capacidade do planeta em oferecer de forma equilibrada serviços como clima, hidrologia, energia, uso de solo e biodiversidade.

O aumento populacional exponencial e o grande consumo de energia após a Revolução Industrial, mormente nos países desenvolvidos, provocaram agressões antropogênicas ao meio ambiente que, em contrapartida às mudanças naturais, ocorreram em pouco tempo, em décadas, e deixaram muitas sequelas. A capacidade de absorção de agressões ambientais do planeta, quando ultrapassada, provoca grandes catástrofes. É difícil conhecer com precisão os limites dessa capacidade, dada a complexidade de variáveis envolvidas. Faz-se necessário, então, adotar uma postura de precaução que poupe os recursos naturais, por meio de taxação e cotas de externalidades negativas como a emissão de gases de efeito estufa, somados a legislação protecionista de recursos ambientais.

O planeta Terra tem todas as características de um ser vivo, exceto o fato de não se reproduzir. As florestas e os oceanos funcionam como os pulmões do planeta, inalam dióxido de carbono e exalam oxigênio, que atua como o sangue do sistema Terra. A superfície terrestre é como uma pele humana, uma camada pouco espessa, porém essencial. Essa pele parece ser fina e frágil, mas protege o planeta por ela coberto. Em analogia com a pele humana, é também o maior órgão do sistema terrestre e desempenha complexas funções de proteção, ao interagir com a atmosfera volátil e com a terra que envolve. A água é o ciclo hidrológico da vida humana e terrestre e existe na mesma proporção nos dois corpos. Esses itens vitais à vida estão doentes e necessitam de intervenção para uma breve recuperação.

O economista Simon Kuznets, prêmio Nobel de 1971, desenvolveu uma curva com “U invertido”, denominada curva de Kuznets. Essa curva sugere que a desigualdade de renda aumenta na fase inicial da industrialização de um país e diminui quando se alcança o desenvolvimento. Há uma derivação desse estudo feita por dois economistas da Universidade de Princeton nos Estados Unidos, que batizaram essa curva como “curva ambiental de Kuznets”. Afirmam então que a poluição e os impactos ambientais evoluem durante os estágios iniciais do desenvolvimento de economias industriais, mas com a obtenção de certo nível de renda, os danos ambientais se estabilizam e entram em declínio, ao mesmo tempo em que se implanta no seio da sociedade a racionalidade ambiental.

De fato, em alguns países desenvolvidos houve uma redução nas emissões dos gases do efeito estufa por unidade de PIB, mas com o crescimento econômico dos países emergentes essa conta inverteu-se por completo. Houve transferência de produção, por exemplo, da moderna indústria norte-americana para a poluente indústria chinesa, Ainda não se descobriu uma forma de produzir PIB sem impactos negativos ao meio ambiente.

A economia capitalista tem que ser includente, no sentido de aparar desigualdades e deixar de lado seu aspecto autorreferencial, sem preocupações fora de si, que não aceita interferências externas a não ser o que está no cerne do capitalismo, qual seja, maximização de resultados e acumulação de riqueza. Durante o século XX houve enorme crescimento da riqueza mundial, mas também da desigualdade social e muitos economistas já concordam que distribuir primeiro a renda e depois crescer é mais sustentável que o inverso, ou seja, não se deve esperar o bolo crescer para depois distribuir seus pedaços, pois isso gera concentração de renda, desigualdade social e degradação ambiental.

A sustentabilidade ambiental é um dos três maiores desafios mundiais, juntamente com o subdesenvolvimento e a segurança. A melhoria da qualidade do meio ambiente e a preservação das fontes de recursos energéticos e naturais para as próximas gerações é obrigação de todos os habitantes do planeta. Em tempo de guerra, aceita-se sem questionar a mais severa das privações e oferece-se prontamente até mesmo a vida em sacrifício, mas parece que, diante desse problema tão sério, a humanidade ainda vive em um mundo onírico. O planeta Terra está em desequilíbrio ambiental, enfermo e com sua progênie comprometida. À medida que o ser humano emporcalha o ar e confunde ecossistemas naturais, o passivo ambiental só se faz aumentar.

Sustentabilidade ambiental significa a manutenção dos estoques da natureza, a garantia de sua reposição por processos naturais ou artificiais. Significa a busca pelo equilíbrio, pela capacidade regenerativa da natureza ou, ainda, pela capacidade de suporte dos ecossistemas, de sua resiliência.

Os caminhos que levaram civilizações ao fracasso ou à ascensão e ao declínio estiveram vinculados às mudanças climáticas, majoritariamente provocadas por ações humanas de devastação florestal, que provoca processos erosivos no solo, e pelo uso intensivo de recursos naturais, sem o necessário tempo de restauração dos ecossistemas.

O ser humano possui a capacidade de racionalizar as questões, assimilá-las e, com a experiência anterior, encontrar soluções baseadas em observações próprias. Essas observações devem ser utilizadas para se construir toda uma sequência lógica, apta a superar uma determinada dificuldade, e transmitir a experiência adquirida para novas situações, formando uma cadeia de progresso que solidifica o grupo, tornando-o apto e forte para enfrentar novos desafios.

A sustentabilidade ambiental clama pela construção de novas regras, que estão lentamente tomando corpo por todo o mundo. Com a crescente conscientização ambiental, a sociedade organizada, de olho no passado, deve evitar seus erros e tomar as lições positivas como alicerces de convívio futuro, em busca da construção de uma sociedade sustentável.

O Brasil tem enorme potencial ambiental para participar de forma ativa e em posição de destaque na batalha global contra as mudanças climáticas. Possui uma posição privilegiada entre os países mais desenvolvidos do mundo e atingiu esse patamar sem emitir o montante de gases de efeito estufa dos países desenvolvidos.

O crescimento econômico sustentável em conjunto com o incremento da qualidade de vida de todos os habitantes do planeta, só é possível se comunidades cooperarem e participarem ativamente nas mudanças de atitude e valores. As humanos nunca foram globais, mas tribais, onde matar um semelhante desde que seja considerado “inimigo da tribo” é ético e é a forma de pensar da espécie.

O desafio crucial que se impõe, portanto, é a superação dessa característica tribal apocalíptica, que permita construir uma sociedade verdadeiramente global. Formatar um novo paradigma ambiental, com o uso bem planejado e eficiente dos limitados recursos ambientais em favor da criação de uma sociedade sustentável, caminho único para preservar a vida por inteiro.

Rodnei Vecchia é empresário, consultor no ramo de energia e doutorando em Economia na Universidad Nacional de La Matanza, em Buenos Aires

 

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