A alta tecnologia e informatização transformaram o mundo: passaram a fazer parte do cotidiano da sociedade e revolucionaram a indústria. Essa Revolução Industrial é conhecida como Indústria 4.0, e apesar dos diversos benefícios para a sociedade, possui alguns desafios, como a reciclagem qualificada.
A Indústria 4.0 engloba tecnologias para automação e troca de dados e também utiliza o conceito de Internet das Coisas e Computação em Nuvem nos processos produtivos, tornando-os muito mais ágeis e eficientes.
Com o avanço constante de novas tecnologias, os eletroeletrônicos, por exemplo, tornam-se obsoletos com muito mais rapidez, e ao mesmo tempo em que há demanda por inovação, a produção precisa ser ágil para atender a sociedade. Essa alta demanda na produção e a rápida obsolência de produtos gera um descarte cada vez maior de resíduos eletroeletrônicos.
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O descarte incorreto de resíduos tecnológicos pode causar danos irreparáveis ao meio ambiente, por exemplo a liberação de metais pesados como o mercúrio. Além disso, a não reciclagem desses componentes somada à crescente demanda de produção podem levar ao esgotamento dos recursos naturais do planeta.
“Não se pode reciclar lixo eletrônico, que é produzido com conceitos de Indústria 4.0, como manufatura. Materiais produzidos com tecnologias evoluídas, com o máximo de produtividade, serem reciclados como manufatura não fecham a conta. Gera prejuízos”, afirma Marcelo Souza, CEO da Indústria Fox, em entrevista para a consultoria Ideia Sustentável.
Os processos de reciclagem no Brasil, contudo, não acompanharam a evolução da indústria, e a falta de políticas públicas gera prejuízos à inovação do setor. Apesar disso, existem empresas especializadas em reciclar esse tipo de equipamento, mas que enfrentam dificuldades no mercado devido a falta de incentivo dos governos. É o caso da Indústria Fox, especializada na reciclagem de geladeiras e refrigeradores.
A Indústria Fox iniciou no mercado brasileiro com o objetivo de reciclar resíduos eletrônicos, sendo geladeiras e refrigeradores o principal material. Além de retornar os componentes à indústria, a empresa capta o gás CFC desses equipamentos, contabilizando-o na geração de créditos de carbono. Os gases CFC causam efeito estufa e, ainda, contribuem com a destruição da camada de ozônio do planeta.
A reciclagem de geladeiras e refrigeradores acontece em três etapas, segundo o CEO da Indústria Fox:
A expectativa da companhia era de que, com o lançamento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2010, o negócio começaria a funcionar, gerando renda com retorno positivo aos investidores. Mas, pela falta de incentivos governamentais, não houve tanta adesão das empresas à economia circular.
“Falta incentivo. O governo gasta muito dinheiro com aterros e com descarte de resíduos. Se houvesse incentivo real – por exemplo reduzir o IPI para cada tonelada de lixo captado – existiria receita para isso. O fabricante entende que o governo está tentando se livrar de um problema que não sabe revolver e transferindo a responsabilidade para a indústria. E a indústria não consegue gerir todo o descarte feito por seus clientes – pois é uma operação extremamente complexa e custosa. A PNRS fala de players, mas qual a metodologia para a responsabilidade de cada player?”, explica Souza.
Assim, a companhia precisou se reinventar e ingressaram também no mercado de eficiência energética e, posteriormente, na remanufatura dos equipamentos.
Ao perceberem que muitos dos equipamentos que chegavam para a reciclagem estavam em ótimo estado de funcionamento, com apenas alguns defeitos físicos como amassados – e que muitas vezes eram até melhores que equipamentos de seus próprios funcionários – os dirigentes da empresa entenderam que seria mais sustentável consertar e remanufaturar esses eletroeletrônicos, recolocando-os no mercado. Desenvolveram, então, um software de avaliação e acompanhamento, investindo na transparência de todo o processo de remanufatura, tanto para o fabricante quanto para o comprador.
“Transformamos o que seria descartado em um novo produto com segurança, garantia e rastreabilidade – e com propósito. E esse produto, quando remanufaturado, consegue ser adquirido, por um preço menor, por pessoas que não teriam condições de comprar um novo”, argumenta Marcelo Souza.
Segundo Marcelo Souza, falta tecnologia e conhecimento no setor de reciclagem, e por isso muitos componentes são destinados a aterros, mesmo que passem, antes, pelas cooperativas de reciclagem.
“Acredito que o caminho seja da indústria que fabrica para a indústria que recicla, e esta conectando as cooperativas como braço para coleta dos materiais. A indústria de reciclagem é a última etapa da economia circular, pois transforma os resíduos em recursos para siderurgia, fundição, empresas de plástico, entre outras”, conclui o CEO.
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Por Marcos Cardinalli
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