Durante o século XX, a população mundial triplicou – enquanto isso, o uso de recursos hídricos sextuplicou. Nos próximos cinquenta anos, estima-se um crescimento demográfico de 40 a 50%. Diante desse quadro fica a pergunta: haverá água suficiente para produzir alimentos e abastecer cidades cada vez mais populosas?
Para essa crise gerada pela gestão insustentável de recursos hídricos, a tecnologia promete trazer a solução baseando-se em seu uso eficiente. Com avanços tecnológicos —sofisticadas redes de sensores, medidores inteligentes, computação profunda e analítica— a IBM, por exemplo, tem trabalhado com clientes e parceiros na monitoração, medição e análise de recursos.
A empresa está aplicando sua especialização em sistemas inteligentes e análise de dados para auxiliar os setores a tratar o tema de forma mais eficiente. Entre as plataformas desenvolvidas está a “Ciência do Cidadão”, que permite às pessoas comuns recopilar e enviar dados que podem ser usados de forma coletiva e possibilitam aos cientistas atingir objetivos de pesquisa de maneira mais factível. O aplicativo gratuito Creek Watch para o iPhone, criado pela IBM Research, permite monitorar a sanidade dos recursos de água a nível local – e a soma os dados, feita pela empresa, é compartilhada com autoridades para auxiliar no monitoramento do recurso.
Confira entrevista com Ulisses Mello, Program Director da área Smart Natural Resources da IBM Brasil, falando sobre o desafio da gestão hídrica a nível local e global.
Como a empresa mensura a própria pegada hídrica ?
A IBM rastreia sua pegada hídrica de acordo com o tipo de instalação e o uso de água. Por exemplo, para um processo hi-tech, que utiliza o recurso mais intensamente, como uma fábrica de processadores, medimos o uso com uma precisão de litros quase em tempo real. Porém, quando alugamos prédios ou instalações onde o uso primário envolve restaurantes e lavanderias, fazemos um levantamento periódico. Esses são os dois extremos. Em outros casos fazemos medições mais frequentes, dependendo da necessidade de obtermos dados sobre os recursos utilizados.
Quais são as principais ferramentas/tecnologias que a empresa desenvolve para o uso eficiente de água?
A iniciativa “Smarter Water”, ou gestão de água mais inteligente, faz parte da estratégia “Planeta Mais inteligente”. A IBM está desenvolvendo várias ferramentas para gestão de água que ajudam a monitorar a quantidade e o tipo de uso, além da qualidade do recurso, e ferramentas que auxiliam na parte operacional da cadeia – desde a fonte até o usuário final – até o planejamento na agricultura para minimizar o impacto nos rios. O centro de pesquisa da empresa também desenvolve tecnologia de membranas para separação e filtragem de água.
Quais devem ser os principais desafios relacionados à gestão hídrica nos próximos anos?
Existe uma relação direta entre uso de água e desenvolvimento econômico e social. Grande parte do planeta já está estressado em termos de disponibilidade do recurso. A questão também está intrinsecamente ligada ao consumo e produção de energia. Além disso, a saúde de uma população depende fortemente da disponibilidade de água para consumo e uso sanitário. Portanto, os principais desafios estão relacionados a suprir essa demanda com qualidade e quantidade de uma forma sustentável. Temos que aprender a ser muito mais eficientes nos processos industriais e de agricultura e teremos que ser muito mais sofisticados na gestão de reuso de água e na política de gerenciamento de fontes – desde reservatórios de superfície, água subterrânea e de dessalinização.
Como você avalia o nível de consciência das empresas em relação ao tema?
Há organizações e países que já estão fazendo uma gestão de água avançada e outros que apenas cumprem o mínimo necessário exigido pelos órgãos regulatórios. Acredito que, de uma forma geral, a consciência social e a cidadania estão aumentando e, consequentemente, a expectativa da sociedade com respeito às empresas também. Os trabalhadores e investidores esperam que elas ajam de uma maneira sociamente responsável, portanto, uma boa gestão de água não é mais somente uma questão de consciência, mas também de bom senso social e financeiro.
Qual o papel dos governos nesse cenário? Deveria haver uma regulamentação mais eficiente quanto ao uso de recursos pelas empresas?
O papel do governo é essencial em várias frentes, principalmente no fomento de pesquisa e desenvolvimento de processos e tecnologias que permitam a gestão da água de forma sustentável. Regulamentação é importante, porém, a fiscalização é essencial – pois sem ela as determinações tornam-se irrelevante. A exemplo do trânsito, a tecnologia tem sido usada para monitoramento de condições. Acredito que com o uso de vários sensores e coleta de dados na cadeia de água poderemos melhorar significativamente a gestão hídrica e aumentar a transparência de sua qualidade e de seu uso, o que pode ter um efeito muito mais contundente do que a regulamentação.
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