Especial – Uma década de sustentabilidade no Brasil – Parte 4

Especial – Uma década de sustentabilidade no Brasil – Parte 4

De olho nos custos e à espera de regras
Quem encabeça um movimento de quebra de paradigmas sofre, previsivelmente,  perdas no caminho. Ser pioneiro implica saber aceitar riscos e investir no presente para colher no futuro – quem sabe, distante. Lidar com a incerteza foi um dos motivos que refreou empresários na hora de aderir aos conceitos de RSE e sustentabilidade. Afinal, incorporá-los significa mudar modelos consagrados de pensar e fazer negócios. “Até hoje, muitas vezes os que fazem acabam, de alguma forma, penalizados na medida em que as transformações necessárias requerem um custo alto, e as empresas se apóiam no princípio dos resultados financeiros de curto prazo”, afirma Santos. Para ele, o “grande vilão” do crescimento lento da sustentabilidade – a visão de curto prazo – ainda representa um obstáculo a ser superado rapidamente pelo setor privado, até porque o mercado demanda retornos cada vez mais velozes e expressivos, e em tempo cada vez mais curto.
“Observa-se hoje uma esquizofrenia na governança das empresas. Elas percebem que podem melhorar em relação à sustentabilidade. Mas isso requer tempo, crescimento e postergação de resultados. Ao mesmo tempo, os investidores valorizam a responsabilidade socioambiental, mas não sem resultados rápidos. Poucos colocam seu dinheiro em uma ação, admitindo esperar mais de dez anos pelo lucro. Todo mundo concorda em tese que ser sustentável é bom, mas na hora de colocar a mão no bolso, a história muda”, pondera.
Sérgio Abranches concorda com a visão de Santos. Para ele, além da questão dos custos, a mentalidade empresarial brasileira ainda está muito condicionada a acolher novas premissas – como a da sustentabilidade – só quando tem algum tipo de subsídio do governo. “Ou então, espera-se pela regra – com fiscalização e punição – para só então cumpri-la. Conversando com CEOs, vejo que eles se colocam na retaguarda do Estado, como se dissessem: “Se a regulamentação vier, eu cumpro’”, conta.
Comprometimento dos indivíduos é o estágio seguinte
Diante da análise do cenário atual do debate sobre a sustentabilidade no Brasil, impõe-se inevitavelmente uma pergunta: “Em que ponto estamos da trilha de escalada da montanha?  Para Homero Santos, não há uma resposta absoluta.  “Seria necessário, primeiro, saber o tamanho da montanha”, afirma. A se manter a atual mentalidade de aumento de produção, ele acha difícil observar avanços rumo à sustentabilidade. A solução, ele acredita,  não está na adoção de novas tecnologias, mas na mudança dos padrões de consumo. “O desenvolvimento de lideranças conscientes vai permitir que, em momentos mais difíceis, as decisões sejam mais lúcidas e redutoras de impactos. Mais do que acreditar que as empresas vão mudar sua cara, é preciso acreditar que as pessoas vão mudar suas cabeças. E este é o último patamar da esperança”, filosofa.
Com a recente divulgação dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que associaram, de modo inequívoco, o aquecimento global com a atividade humana, e o crescimento de iniciativas intersetoriais – como, por exemplo, o Fórum Amazônia Sustentável –, a tendência é que se multipliquem movimentos para contagiar a sociedade com os valores do desenvolvimento sustentável, da ética e da democracia participativa. “É o momento de avançar na segunda parte da nossa missão, que consiste em o setor empresarial, com sua força de transformação, ajudar a construir uma sociedade responsável e justa”, afirma Oded Grajew, do Ethos.
Dez anos depois do início da caminhada, os analistas acreditam  que o passo seguinte se dará a partir do aumento do comprometimento dos indivíduos com o assunto. “Olhando os movimentos anteriores, como foram gerados e nasceram, acredito que a próxima onda, que sucederá a da sustentabilidade, será a do real engajamento das pessoas, da coerência entre o que se fala e o que se faz”, acredita Boechat.  “A próxima onda positiva já está sendo construída em uma escala de tempo acelerada. E chegará ao seu pico em 2010.
Manipuladas de forma correta, as crises de hoje – como as mudanças climáticas e o enorme contingente de pessoas de baixa renda – vão nos levar às soluções de amanhã, apresentando novas e potenciais oportunidades de mercado ainda não devidamente exploradas”, completa John Elkington, fundador da consultoria SustainAbility e um dos mais importantes especialistas mundiais em sustentabilidade.
Os marcos principais da discussão sobre sustentabilidade nos negócios:
1997- Criação do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável)
1998 – Criação do Instituto Ethos
1998 – Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) cria o Selo Balanço Social Ibase/ Betinho
1999 – O então secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, anuncia a formação do Pacto Global (Global Compact)
1999 – Global Reporting Initiative (GRI) estréia diretrizes para relatórios de sustentabilidade
1999 – Lançamento do Dow Jones Sustainability Index (DJSI)
2000 – Lançamento dos Indicadores Ethos
2000 – 191 países aderem às 8 Metas do Milênio, da ONU
2001 – GRI disponibiliza suas diretrizes em português
2002 – Aniversário de dez anos da Eco-92, com novas iniciativas da Rio+10 (Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável)
2003 – Formalização dos Princípios do Equador
2004 – Decisão de criar a ISO 26000, de responsabilidade social (com publicação prevista para 2010)
2005 – Criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa)
2005 – Assinatura do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo
2006 – Assinatura do Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção
2007 – Lançamento dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês)
2007 – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) repercute fortemente por divulgar que há uma probabilidade de 90% de que o aquecimento global seja resultado da atividade humana.

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