Especial – Quanto vale ser sustentável? (parte 2)

Especial – Quanto vale ser sustentável? (parte 2)

O surgimento e a consolidação dos índices de sustentabilidade

Composto por ações de companhias com reconhecido compromisso com a responsabilidade socioambiental, os índices de sustentabilidade têm por objetivo reunir as que são vistas como mais prósperas por causa dessa característica e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial.
Nesse campo, a Bolsa de Nova York é pioneira com a criação, em 1999, do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Outras bolsas pegaram carona no movimento e estabeleceram seus próprios índices, como são os casos da de Londres, que criou o FTSE4Good (Footsiefor good), em 2001, a de Johanesburgo, com o JSE (2003), e a Bovespa, com o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), em 2005.
A metodologia desenvolvida pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade seleciona 10% das 2500 companhias líderes na prática desse conceito em cada um dos 58 segmentos, a partir de uma avaliação sistemática dos fatores econômicos, ambientais e sociais de longo prazo.
Estratégias de combate às mudanças climáticas, eficiência energética, desenvolvimento do capital humano, gestão do conhecimento, relacionamento comstakeholders e governança corporativa são alguns dos quesitos avaliados. Há ainda outros específicos conforme o segmento de atuação da empresa.
O Índice Dow Jones de Sustentabilidade tem registrado um retorno anual de 16,1%, enquanto o Morgan Stanley Capital Index (MSCI) oferece um 15,6% por ano. Uma evidência numérica de que ser sustentável faz bem para o negócio no Novo Mercado.

A experiência brasileira, em sintonia com o mercado globalizado


Segundo Rogério Marques, supervisor de assistência ao mercado da Bovespa, a criação do ISE surgiu de uma demanda natural do mercado brasileiro. “Em 2003, a Bolsa de Valores de São Paulo foi procurada por representantes do mercado e administradores de recursos que sugeriram a criação do índice para medir o desempenho de uma carteira de empresas que tinham uma postura responsável. Eles acreditavam que o mercado nacional, a exemplo do internacional, já estava maduro o suficiente para ter um indicador capaz de avaliar o desempenho das ações de empresas com essas características e compará-lo com as demais companhias participantes do Ibovespa”, afirma Marques.
Esse índice nasceu, portanto, para atender a um grupo de investidores em ascensão, preocupado com o retorno do seu investimento no longo prazo. “Existem dois tipos de investidores. O pragmático, que compra ações de empresas listadas em índices de sustentabilidade porque acredita que elas têm mais chances de permanecer produtivas pelas próximas décadas, sofrendo menos passivos judiciais com ações ambientais, trabalhistas e sociais. E o investidor engajado, que está disposto a pagar um valor maior pela ação de empresas que privilegiam os três pilares de sustentabilidade. Em ambos os casos, o ISE serve de parâmetro para a uma escolha criteriosa de empresas”, ressalta Marques.
Seguindo a lógica do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, o ISE
seleciona as 40 empresas que apresentam as melhores práticas de sustentabilidade em um grupo de 150 que respondem ao questionário desenvolvido pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas. As respostas das companhias são analisadas por uma ferramenta estatística, denominada “análise de clusters“, que identifica as empresas com desempenhos similares e aponta o grupo com melhor desempenho geral. As empresas desse grupo passam a compor a carteira final do ISE após aprovação de um Conselho Deliberativo, que conta, entre outras, com a participação do Ministério do Meio Ambiente, PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, IFC – International Finance Corporation, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Com 32 empresas de 13 setores, somando 40 ações e um valor de mercado de R$ 927 bilhões, o ISE representa 39,6% da capitalização da Bovespa. A sua média de crescimento nos últimos dois anos é equivalente à do Ibovespa. No período de novembro de 2005 a janeiro de 2008, o Ibovespa demonstrou uma evolução de 96,77% enquanto o ISE fechou com alta de 90,04%. Questionado se essa evolução sugeriria uma futura vantagem comparativa das companhias listadas no ISE para as demais, Marques considerou prematuro fazer afirmações absolutas. “Devido ao pouco tempo de existência do ISE, essas análises ainda não podem ser conclusivas”, afirma.
O impacto nas empresas que estão no Dow Jones de Sustentabilidade

Os índices de sustentabilidade funcionam como uma espécie de “selo de qualidade”. Ao integrá-los, as empresas são reconhecidas pelo mercado pela responsabilidade social corporativa e sustentabilidade com que atuam no longo prazo.
Segundo Djalma Bastos, presidente da Cemig, empresa listada no Dow Jones, esse reconhecimento mundial facilita a prospecção de novos negócios e parcerias. “Outro ponto importante é a possibilidade de ampliação do acesso a um crescente mercado dirigido aos investidores de longo prazo, que prezam pela responsabilidade ambiental e social na gestão dos negócios. Adicionalmente, a Cemig pode se beneficiar da menor volatilidade no preço de suas ações, sendo bem classificada pelo mercado investidor, o que permite a captação de financiamentos com custos de capital mais baixos e, conseqüentemente, a agregação de valor aos investimentos dos acionistas”, afirma Bastos.
Primeira companhia latino-americana do setor de energia a integrar o Dow Jones de Sustentabilidade desde que ele foi criado em 1999, a Cemig está, portanto, entre as empresas mais sustentáveis do mundo. Nos últimos cinco anos, o seu valor de mercado aumentou quatro vezes, passando de R$ 4 bilhões (2002) para R$ 16 bilhões (2007).
Apesar de não ter um estudo específico, pois são muitos os aspectos simultâneos que afetam o preço das ações, incluindo fatores de mercado independentes dos fundamentos da empresa, Bastos acredita que parte do bom desempenho da Cemig pode ser atribuída aos seus compromissos com a sustentabilidade. “Ainda que seja muito difícil quantificar isoladamente os efeitos da sustentabilidade nos negócios, não tenho dúvida de que nossa história de crescimento e agregação de valor está associada ao tema. A perenidade de nossa empresa será assegurada por operações que procuram levar em conta a responsabilidade social, o respeito ao meio ambiente e o foco em resultados financeiros adequados aos investimentos dos acionistas”, completa Bastos.
Em 2005, a Cemig alcançou o posto de líder mundial do setor elétrico e no período 2007/2008 foi selecionada como a líder em sustentabilidade no setor deutilities (energia elétrica, saneamento e distribuição de gás) pelo Índice Dow Jones de Sustentabilidade.
Para o superintendente de relações com investidores do Itaú, Geraldo Soares, integrar índices de sustentabilidade gera um impacto positivo na estrutura interna da empresa na medida em que, para atender às exigências estipuladas pela nova condição, ela passa a agir e pensar de forma integrada. “Os questionários são tão complexos e amplos que acabam envolvendo vários departamentos. Assim cria-se um espaço para discussão do conceito e desenvolve-se uma cultura de sustentabilidade na companhia”, ressalta.
O Itaú também faz parte Índice Dow Jones de sustentabilidade desde a sua criação em 1999. “A empresa pode ser muito boa social e ambientalmente, mas precisa gerar valor para o acionista”, afirma Soares. E a sustentabilidade –segundo ele – ao integrar a gestão dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, contribui para isso, na medida em que diminui os riscos do negócio. “Uma empresa não tem capacidade de sozinha escolher os melhores caminhos. Isso só é possível a partir do diálogo com diferentes stakeholders“, ressalta.
Para Ricardo Prata, gerente de responsabilidade ambiental e social da Cemig, mais difícil do que integrar o Dow Jones Sustainability ou o ISE é se manter neles. “A competição para não sair é muito acirrada. A cada ano, são incluídas 30% de questões novas. Se a empresa apenas mantiver o desempenho do ano anterior, ela pode não conseguir permanecer no índice. Por isso, cada processo de seleção equivale a um novo desafio que mobiliza toda a empresa”, afirma Prata.
De acordo com os entrevistados de Idéia Socioambiental, a adaptação das empresas às exigências de ingresso e permanência nos índices de sustentabilidade contribuiu para criar as condições para gestão dos ativos intangíveis. Na Petrobras, por exemplo, eles são classificados em quatro tipos de capital: humano, organizacional, de relacionamento e de domínio tecnológico.
Para a empresa, a gestão dos ativos intangíveis teve papel fundamental na criação de valor, no diferencial competitivo e na conquista de resultados no longo prazo. Entre 2005 e 2007, o valor de mercado da Petrobras cresceu 148%. A incorporação da sustentabilidade na estratégia do negócio também teve impacto significativo na reputação da empresa. Em 2007, a companhia energética saltou da 83ª para a 8ª posição no ranking das empresas mais respeitadas do mundo, organizado pelo Reputation Institute, de Nova York. A participação da Petrobras nos índices Dow Jones de Sustentabilidade e no ISE amplia o acesso a um mercado potencial de investidores em empresas social e ambientalmente responsáveis, avaliado pela ONU em mais de US$ 4 trilhões.
A sustentabilidade é hoje um dos critérios de seleção de fornecedores no Bradesco. Em 2002, esse parâmetro tinha um peso de 5% na avaliação. Atualmente, representa 15% da nota. Segundo Jean Philippe Leroy, diretor de relações com o mercado do Bradesco, a sustentabilidade foi o diferencial que determinou, por exemplo, a escolha do fornecedor de 50 mil computadores, a maior compra desse tipo de produto do mundo, realizada pelo banco no ano passado. “O preço dos fornecedores era muito parecido, por isso o que determinou a escolha da empresa foi a eficiência energética do produto”, ressalta Leroy.
O Bradesco também integra, desde 2005, o Dow Jones de Sustentabilidade e o ISE da Bovespa. A participação nesses índices ajudou a disseminar o conceito de sustentabilidade dentro da empresa. “Vários produtos da família dos produtos da linha sustentável do banco partiram de idéias de funcionários. O Eco-financiamento é um deles. Em parceria com a SOS Mata Atlântica, esse programa compensa, pelo plantio de mudas de árvores, as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, resultantes da frota de veículos financiados pelo Banco”, explica Leroy.
Apesar de o banco não dispor de nenhum instrumento específico para aferição do valor que a sustentabilidade adiciona ao negócio, Leroy atribui parte da boa performance dos últimos anos à incorporação desse conceito às práticas da organização. Em 2007, o Bradesco superou pela primeira vez os R$ 100 bilhões em valor de mercado. Para se ter uma idéia, em 2003, o banco era negociado a 1,7 vezes do seu valor patrimonial. Quatro anos depois, passou a 13,5 vezes.
Para Leroy, a sustentabilidade é uma tendência irreversível no mercado financeiro. “Os investidores, influenciados até pela recessão nos Estados Unidos, estão analisando as empresas com mais critério. No lugar de fazerem investimento exacerbado no curto prazo passaram a considerar também os benefícios de uma gestão baseada na sustentabilidade, porque entendem que isso gera valor e assegura a perenidade do negócio”, ressalta.
Empresas brasileiras no Índice Dow Jones de Sustentabilidade – 2007

· Aracruz Celulose S/A
· Banco Bradesco S/A
· Banco Itau Holding Financeira S.A.
· Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)
· Itausa-Investimentos Itau S/A
· Petrobras- Petróleo Brasileiro S/A
· Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A
Investimento socialmente responsável no Brasil


2000 – Primeiro serviço de pesquisa ISR em mercado emergente – Unibanco

2001 – Primeiro fundo ISR em mercados emergentes – Banco Real – Fundo Ethical

2004 – Itaú lança Fundo ItaúExcelência Social

2005 – Bovespa lança Índice de Sustentabilidade Empresarial

2005 – Banco do Brasil, HSBC, Bradesco, Safra e Unibanco lançam fundos espelhados no ISE.

2007 – Elaboração do Principle for Responsible Investing por investidores com apoio da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Pacto Global das Nações Unidas.

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