Especial – O desafio de educar líderes para uma economia verde – Parte II

Especial – O desafio de educar líderes para uma economia verde – Parte II

O estado da arte em pesquisa para a sustentabilidade
Seguindo a trilha proposta pelas publicações do Aspen Institute e Net Impact, Ideia Socioambiental entrevistou representantes das universidades que melhor têm adaptado suas propostas de ensino para o desenvolvimento sustentável.
As informações resultantes dessa pesquisa – apresentadas a seguir –oferecem um panorama da produção de conhecimento na área de sustentabilidade, trazendo as principais linhas de pesquisa, casos de inovação e novas metodologias de ensino desenvolvidas em todo o mundo.
Esse levantamento proporcionou também a identificação de algumas medidas adotadas pelas instituições de ensino que tanto podem inspirar universidades brasileiras, que pretendem integrar questões socioambientais às suas atividades, quanto orientar profissionais em busca de especialização na área.
É possível identificar alguns movimentos comuns quando se avalia a trajetória das universidades pioneiras na integração das questões socioambientais nos seus currículos. Em muitas delas, esse esforço foi conduzido pelos chamados “campeões da sustentabilidade”, tema já abordado na edição 15 desta revista. No caso específico da Academia, são professores que iniciaram projetos de pesquisa no tema e acabaram por mobilizar alunos, demais docentes, diretoria e comunidade na busca por soluções sustentáveis nos mais variados campos, desde novas ferramentas de gestão até tecnologias e modelos de negócios.
Ignasi Carreras, líder do Instituto de Inovação Social da ESADE, escola de negócios espanhola que possui campus em Barcelona, Madrid e Buenos Aires, destaca a importância de criar o ambiente favorável para desenvolver e preservar esses “campeões da sustentabilidade”. “O elemento-chave é ter especialistas na área que catalisem essa mudança. Em contrapartida, a universidade deve ter a questão da sustentabilidade inserida em seus valores e estratégia. Assim, a preocupação de equilibrar aspectos econômicos, ambientais e sociais acabará permeando todas as suas atividades”, ressalta.
Tornar o tema transversal também faz com que a maioria delas recorra a disciplinas eletivas que abordam questões variadas como ética e empreendedorismo social. Outra tendência notável é a criação de departamentos ou núcleos de pesquisa para coordenar as atividades relacionadas à área de sustentabilidade. Há quem defenda, no entanto que essa centralização pode prejudicar a abordagem multidisciplinar, na medida em que estimula a reflexão acerca dos temas relacionados. Por isso, muitas instituições de ensino preferem pesquisar as questões socioambientais sob o olhar de cada área do conhecimento, sem abrir mão – é claro – do diálogo entre as diferentes ciências.
Aproximar-se de empresas e organizações sociais e até mesmo de outras universidades, por meio de projetos e programas realizados conjuntamente, representa também uma saída à qual as instituições de ensino têm recorrido para atender a demanda por conhecimento no ritmo e com a variedade demandados pela sociedade.
Para Stein, da PUC, é  importante que a universidade fortaleça o diálogo com o seu grupo de stakeholders a fim de estabelecer um esforço conjunto de rever sua própria missão.  “As empresas, organizações da sociedade civil e os próprios alunos podem apresentar as demandas específicas na formação que a universidade sozinha não tem dado conta de desenvolver”, afirma.
Por essa razão, é cada vez mais comum que casos de inovação voltados a sustentabilidade – como, os já notórios, Ecoimagination da GE e programa de microcrédito de Muhammad Yunus – ganhem as salas de aula e até mesmo se transformem no tema-central de programas e cursos específicos.
Há também experiências que recolocam a universidade em seu papel clássico de produtora de conhecimento. Mas mesmo nesses casos a cooperação ocupa papel central.
Confira essas e outras experiências no guia a seguir, que apresenta o que as algumas das mais importantes universidades do mundo estão fazendo na área de sustentabilidade.
Blekinge Institute of Technology
Vizinho de várias empresas de telecomunicações e softwares como a Vodafone (hoje Telenor), Ericsson AB, Wireless Independent Provider(WIP) na Karlskrona (Suíça), o Blekinge Institute of Technology (BTH) tornou-se referência em tecnologia. Nos últimos 10 dos seus 20 de existência, a instituição passou a colocar sua experiência a serviço de soluções voltadas ao desenvolvimento sustentável.
No BIT, quem fez ás vezes de “campeão de sustentabilidade” foi e tem sido o professor de engenharia Göran Broman. Ao participar da elaboração da estratégia do The Natural Step, organização suíça que propôs uma metodologia revolucionária de planejamento estratégico baseada nos sistemas da natureza, ele trouxe a discussão da sustentabilidade para o campus do Blekinge. Foi dele a iniciativa de integrar o tema ao currículo e às atividades de pesquisa, a princípio do departamento de engenharia.
Outros professores como Lars Emmelin, da escola de Cultura Tecnológica, Humanidades e Planejamento e Claes Wohlin, da Escola de Saúde seguiram os passos de Broman, alçando o BIT ao olimpo das instituições de ensino líderes na produção de conhecimento para a sustentabilidade.
Segundo Anthony Thompson, pesquisador de PhD em Inovação em Produtos Sustentáveis, não bastou, nesse processo de mudança, apenas adaptar os currículos. Foi preciso rever também as metodologias de ensino. “Os estudantes não são meramente esponjas que vêm ao BIT para absorver conhecimento de especialistas. São capazes de contribuir com o seu próprio aprendizado e experimentar a rica experiência de co-criar”, destaca.
Blekinge Institute of Techology inclui-se entre as escolas que, ao invés de criar um departamento de sustentabilidade, optaram por integrar o conceito em todas as áreas do conhecimento. “Certamente, há departamentos com mais experiência e conhecimento direto relacionados à sustentabilidade, mas de maneira geral é importante que todos tenham o entendimento de que seu trabalho deve estar alinhado ao grande cenário de oportunidades de uma sociedade sustentável”, afirma.
Como na Suíça sustentabilidade é algo que se ensina, mas também se pratica, o BIT tratou logo de reduzir seus impactos. Em 2008, tornou-se a primeira universidade do mundo carbono neutro. “Além de buscar formas de reduzir a pegada de carbono, a escola compra créditos de carbono para compensar suas emissões. Isso nos dá o incentivo financeiro para reduzir nosso inventário”, ressalta.
O Blekinge Institute of Techology oferece hoje quatro cursos de MBA focados na temática de sustentabilidade (veja box abaixo).Recentemente, criou o curso online Introdução ao Desenvovimento Sustentável Estratégico. Gratuito e com duração de duas semanas, o programa oferece aproximadamente 30 vagas e não há nenhum pré-requisito específico. As inscrições abrem no início de março de cada ano.

Instituição Localização Programas de especialização com foco em sustentabilidade Linhas de pesquisa Adaptação dos currículos dos cursos de graduação
Blekinge Institute of Technology (BTH) Suíça Liderança Estratégica pela Sustentabilidade (Mestrado)
Planejamento Espacial Europeu (Mestrado)
Inovação de produtos sustentáveis (mestrado com previsão de início em 2010)
A metodologia do The Natural Step tem uma grande influência nos programa e linhas de pesquisa do BTH. Sim
DukeUniversity/NicholasSchool of the Environment Estados Unidos Mestrado de reflorestamento, Mestrado de Gestão Ambiental, Mestrado de gerenciamento de energia e meio ambiente Dispõe de projetos em uma ampla variedade de campos, desde a conservação marinha e costeira, reflorestamento, energias renováveis e negócios sustentáveis Sim
Duquesne University Estados Unidos Mestrado em ciência e gestão ambiental;
Mestrado de administração de negócios sustentáveis
Ciências naturais, ciências sociais e responsabilidade social corporativa Sim
ESADE Business School Espanha Curso de Responsabilidade Social Corporativa, resultado de uma parceria com a Universidade Standford. Responsabilidade social corporativa; engajamento com stakeholders; empreendedorismo social. Sim
Yale/ Center for Business and the Environment Estados Unidos -Mestrado em gestão ambiental;
-Mestrado em ciências ambientais;
-Mestrado de reflorestamento;
-Mestrado de ciências florestais
Responsabilidade social e sustentabilidade corporativa, ecologia industrial; finanças e mercados ambientais; economia do meio ambiente; política e legislação ambiental e marketing verde. Sim
YorkUniversity/SchulichSchool of Business Canadá Não possui, mas seu curso de MBA dá forte ênfase a responsabilidade social corporativa Cidadania corporativa, estratégia social e certificação. Sim

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