Especial – Nosso futuro está secando? – parte 2

Especial – Nosso futuro está secando? – parte 2

Gestão da água nas empresas
Segundo o relatório “As empresas no mundo da água” do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (World Business Council for Sustainable Development), a água deveria ser um tema prioritário na agenda das empresas, tendo em vista que todos os negócios, de uma forma ou de outra, dependem do recurso.
“A continuidade e o sucesso futuro de qualquer companhia são afetados pela disponibilidade, custo e qualidade da água em diversas fases da cadeia de valor”, ressalta o documento do WBCSD.
O aprimoramento dos processos produtivos de modo a reduzir o consumo de água proporciona ganhos não só ambientais e sociais, mas também econômicos.
“Primeiramente, a gestão dos recursos hídricos requer a redução do desperdício de água, a implementação de tecnologias mais eficientes, a melhoria dos processos produtivos e tratamento da água utilizada. Em uma abordagem mais profunda, a gestão da água não pode deixar de considerar a preservação das fontes desse recurso e trabalhar com as comunidades para melhorar as práticas de seu uso”, explica o documento.
As ações para atingir as etapas acima descritas variam de acordo com o segmento em que a empresa atua. Mas já podem ser observadas em várias corporações.
Na Coca Cola Brasil – onde a água é um elemento vital não só no processo industrial, mas principalmente para o produto em si – reduzir o consumo, evitar o desperdício e promover a reutilização não foi o bastante. A empresa decidiu buscar fontes alternativas de captação, como a água da chuva.
Todas essas medidas integram o Programa Água Limpa, criado em 1995, com o objetivo de melhorar a gestão da água no Sistema Coca-Cola Brasil. “A água é a matéria prima mais importante no processo de fabricação de bebidas. Ela está presente em todos os nossos produtos, logo, o uso eficiente e racional desse recurso é uma prioridade para a Coca-Cola Brasil”, afirma José Mauro de Moraes, diretor de Meio Ambiente da Coca-Cola Brasil.
Para Moraes, a grande meta da companhia é atingir um estágio de empresa “neutra” no consumo de água, a partir de ações afinadas com as diretrizes dos três Rs: reciclar a água (estação de tratamento de efluentes), reduzir o consumo (com aumento de eficiência e fontes alternativas) e repor a água consumida por meio de ações compensatórias.
Em 2007, a Coca-Cola Brasil superou a meta de 2,19 litros de água por litro de bebida produzida. O consumo médio das 37 plantas brasileiras foi de 2,10 litros de água/litro de bebida, um volume 5% inferior ao de 2006. “Com essa redução o Sistema Coca-Cola Brasil deixou de captar o equivalente a 960 milhões de litros, volume de água suficiente para abastecer 3.100 famílias de quatro pessoas por um ano. A meta é chegar, até 2012, a 1,7 litro de água consumida por litro de bebida produzido”, afirma José Mauro de Moraes, diretor de meio ambiente da Coca-Cola Brasil.
Ambev, por sua vez, alcançou a média de 1,71 litros de água para cada litro de refrigerante produzido em 2007. Em algumas unidades da empresa, o consumo de água é ainda menor. A filial de Jundiaí, por exemplo, reduziu de 1,78 para 1,63 litros a água usada na produção de cada litro de refrigerantes, tornando-se referência entre todas as unidades da companhia.  Em 2006, a filial de Contagem, em Minas Gerais, atingiu a média de 1,25 litros de água para cada litro de bebida fabricada.
O processo de fabricação de cerveja demanda mais água. Ainda assim, houve uma economia do consumo de 2006 para 2007. Acompanhia reduziu de 4,30 para 4,19 litros a água usada na produção de cada litro de cerveja. No total, a AmBev aumentou em 22% o índice geral de economia de água em cinco anos.
Conciliar a redução do consumo de água com o aumento da produção é um dos grandes desafios das empresas. Este é o caso daUnilever. Nos últimos cinco anos, a empresa diminuiu o consumo de água em 32% mesmo diante do crescimento de sua produção de 27%, no mesmo período. Na prática, essa redução foi de mais de 1.000.000 metros cúbicos / tonelada, o equivalente a mais de 400 piscinas olímpicas ao ano.
Fazer mais com menos
Mesmo nas empresas em que a água não é matéria-prima dos produtos, o recurso tem um papel importante nos processos industriais e requer, portanto, atenção especial.
Na Holcim, por exemplo, a principal finalidade da água é o resfriamento dos equipamentos. Segundo Valéria Pereira, gerente corporativa de meio ambiente da empresa, a água só entra no processo produtivo, propriamente dito, nos moinhos de cimento e também nas torres e fornos para resfriamento.
“A água utilizada pela empresa é 100% recirculada. É uma forma de evitar o consumo e descarte, pois captamos a água e a consumimos novamente”, ressalta Valéria.
A matriz da Bosch, em Campinas (SP), por sua vez, implementou um processo de tratamento de efluentes galvânicos que permite a reutilização de 60% do total da água utilizada. Anualmente, esse sistema possibilita o reaproveitamento de 240 milhões de litros de água/ano, volume equivalente ao consumo anual de uma comunidade com, aproximadamente, 5.500 pessoas – considerando uma média de água gasta, por pessoa, de 120 litros/dia ou 43.200litros/ano.
“Como a Bosch é uma empresa do segmento metalúrgico, a água é matéria-prima básica para os seus processos produtivos. Utilizamos as fontes de obtenção pública de água tratada, recursos hídricos de superfície e subsolos. Há um tratamento específico para cada etapa da produção, sendo que os efluentes também são tratados e utilizados em outros processos”, afirma Theóphilo Arruda, gerente de Engenharia Civil, Preservação do Meio Ambiente e Segurança Empresarial Corporativa da Robert Bosch América Latina.
A Bosch utiliza,  aproximadamente, 9 m³ de água por hora, sendo que 70% desse recurso provém de reuso, o que equivale a aproximadamente 6,3 m³ por hora.
Na unidade da Amanco localizada em Suape, Pernambuco, a forma como a fábrica foi projetada tem proporcionado o uso mais eficiente dos recursos naturais, entre eles a água.
O sistema compacto e integrado de tratamento de efluentes sanitários permite a reutilização da água, que normalmente seria desperdiçada, nas descargas de vasos sanitários, rega de jardins, limpeza de pisos e equipamentos.
Como o resfriamento dos tubos fabricados em Suape ocorre em circuito fechado, o processo de produção de uma tonelada consome apenas 40 litros de água, enquanto que pelo método tradicional seriam necessários 1.500 litros. A redução de 97% ganha relevância quando se considera que a fábrica de Pernambuco produz 1,4 mil toneladas de tubos por mês.

Box: Soluções globais para a água

Soluções técnicas

– Utilização da água do mar na indústria e na agricultura.
– Desvios de água das zonas com abundância para zonas de escassez de recursos hídricos.
– Reciclagem de águas residuais.
– Aproveitamento do potencial calorífico das águas residuais como fonte de energia.
– Utilização das águas residuais na rega para aumentar a produção.
– Novas técnicas de exploração de águas subterrâneas.
– Combinação de técnicas de tratamento microbiológico de águas residuais com novas técnicas de separação por membranas.
– Nanotecnologia, técnicas de dessalinização inovadoras.
– Técnicas de cristalização.
– Desenvolvimento de membranas;
– Sistemas de tratamento de baixo custo nos pontos de utilização.
– Produtos de consumo destinados à eliminação de bactérias, vírus, parasitas e metais pesados.

Aumento da produtividade agrícola da água

– Abordagens agrícolas mais eficientes.
–  Agricultura à base de água salgada.
– Maior eficiência da utilização da água nas práticas agrícolas.

Soluções de redistribuição

– Reestruturação e recolocação da indústria em áreas de menor pressão sobre os recursos hídricos.
– Proibição de emissão de licenças ambientais a indústrias que consumam recursos hídricos significativos.

Instrumentos e regulação econômica

– Aumento do preço da água.
–  Maior regulação para o uso industrial da água.

Proteção do ambiente e respectiva regulação

– Preservação e restauração de ecossistemas que otimizem a captação de água e a mitigação das cheias.
–  Incentivos a programas de economia de água.

Soluções de sensibilização

– Patrocínio de campanhas públicas de educação para a utilização da água.
– Definição de objetivos ambiciosos de redução do consumo de água per capita.
Fonte: Relatório “As empresas no mundo da água”, WBCSD – World Business Council for Sustainable Development.

Box: O que as empresas podem fazer

As empresas podem agir de muitas formas – individualmente, coletivamente e em parceria com outras – para enfrentar os desafios da água:
-Reduzindo a utilização da água, bem como das descargas poluidoras/ fluxos de águas residuais ao longo da cadeia de abastecimento.
-Criando produtos e serviços que reduzam a utilização de água e as descargas por parte do cliente final
-Ajudando a desenvolver e promover soluções adequadas que levem em conta diferentes realidades contextuais, como a cultura, poder de compra, escassez de água, variações climáticas e diversificação econômica
– Reduzir o consumo e poupando dinheiro, a partir do reconhecimento de que os custos vão aumentar e a água disponível diminuir;
-Olhando para além da fronteira da fábrica, escritório, cadeia de abastecimento.
-Contribuindo para uma maior conscientização dos desafios da água.
-Atuando proativamente na comunidade local, reconhecendo a oportunidade de criar novos mercados.
-Fazendo chegar mensagens claras aos dirigentes políticos sobre a importância das políticas da água e de uma aplicação eqüitativa e coerente desse recurso
-Tentando, com outras partes interessadas, criar um conjunto bem definido de princípios para o setor da água.
Fonte: Relatório “As empresas no mundo da água”, WBCSD – World Business Council for Sustainable Development.

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