Especial – Investimento social que transforma comunidades (parte 2)

Especial – Investimento social que transforma comunidades (parte 2)

A cadeia produtiva de mandioca também registra resultados positivos. Criada em 2000, a Coopatan – Cooperativa de Produtores Rurais do Município de Presidente Tancredo Neves reúne 2 mil famílias. Em 2003, foi reestruturada, ampliando a produtividade média de oito toneladas por hectare para mais de 25 toneladas por hectare de mandioca. O avanço se deu graças às parcerias tecnológicas e pesquisas próprias. Por conseqüência, a renda dos cooperados saltou de R$ 200,00 por 500,00 por mês.
Além da produção, a Coopatan administra uma fábrica de farinha de mandioca com capacidade de processar 60 toneladas/dia de raízes, e de produzir 20 toneladas/dia de farinha de mandioca. A cooperativa coloca no mercado cinco marcas do produto com venda direta ao varejo e ajudou a mudar o perfil da cidade. Até o início de 2000, o município de Presidente Tancredo Neves, detinha um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano entre as cidades baianas. Hoje, ostenta ares de prosperidade e atrai pessoas de outras localidades.
Com o capital humano, o DIS-Baixo Sul está proporcionando educação de qualidade no meio rural. O foco são os jovens, geralmente os filhos dos cooperados, que recebem capacitação profissional em quatro escolas técnicas denominadas Casas Familiares: Casa Familiar Rural, Casa Familiar do Mar, Casa Familiar Agro-Florestal e Casa Jovem. Nessas unidades, os adolescentes permanecem em regime de internato, recebendo aulas teóricas e práticas. Depois aplicam o que aprenderam na propriedade de seus pais, sob a orientação de monitores. Assim, os jovens fazem o papel de multiplicadores, transmitindo aos pais e à comunidade os novos conhecimentos.
Completando a linha de integração do programa, o DIS-Baixo Sul está incentivando a conservação e a utilização racional dos recursos naturais (capital ambiental) da Área de Proteção Ambiental do Pratigi, um dos mais importantes remanescentes de Mata Atlântica de todo o Brasil. Por meio da Organização de Conservação de Terras (OTC), braço ambiental do programa, foram criados corredores ecológicos nos quais são plantadas mudas de espécies nativas em áreas depredadas da mata. O maior feito até agora tem 64 quilômetros de extensão, com dezenas de ramificações.
De acordo com o Norberto Odebrecht, fundador da Odebrecht, e hoje presidente do Conselho de Curadores da Fundação, o modelo proposto e no DIS-Baixo Sul envolve ações fundamentais para o desenvolvimento harmônico dos quatro capitais da região. “Essas ações estão concretamente inseridas em um projeto maior de juízo socioambiental, replicável, que pretende tirar o povo da informalidade, erradicar a pobreza com distribuição justa de renda, reduzir as desigualdades sociais e estabelecer uma classe média rural. Pretende, ainda, implantar um modelo de sociedade de confiança com transparência e responsabilidade, além de elevar os índices de educação, saúde e produtividade”, destaca.
Para a gerente de Relações Institucionais da Fundação Odebrecht, Marta Castro, o avanço do DIS-Baixo Sul, que tem o apoio do Banco Mundial, é visível e as comunidades já pensam no programa como um todo. “Todos compartilham do mesmo objetivo que é o desenvolvimento local. Não só os jovens, como os adultos, compreendem a necessidade de preservar o meio ambiente para que ele não se torne uma fonte esgotável de recursos”, afirma.
Vida melhor na periferia de Recife
Adotar uma causa é comum na prática socioambientalmente responsável das empresas. A Unilever, porém, achou que uma causa só não seria suficiente e adotou logo um município inteiro, Araçoiaba, na região metropolitana de Recife, onde desenvolve o Projeto Mais Vida, desde 2003. De lá para cá, as mudanças saltam aos olhos. A cidade pobre, que registrava um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Pernambuco, subiu no ranking de qualidade de vida e, hoje, apresenta dados bem mais alentadores.
A redução do analfabetismo adulto, por exemplo. De um total de cinco mil analfabetos em 2003, mil já passaram pela escola do projeto e receberam diploma. Outros 2.100 se formarão em 2008. Também caíram as taxas de analfabetismo infantil, considerado um dos maiores problemas da cidade há quatro anos, hoje inferior a 10%. Para completar, a evasão escolar, uma das mais altas de Pernambuco, foi erradicada.
A construção de uma boa escola, com infra-estrutura adequada, e a capacitação dos professores foram os primeiros passos da Unilever para alterar o quadro da educação em Araçoiaba. Numa segunda etapa, o Instituto criou uma consultoria educativa permanente aos alunos de 1ª a 4ª séries e ao corpo docente, com o propósito de oferecer reforço às crianças e auxílio pedagógico aos professores.
Para Elaine Molina, gerente de Responsabilidade Social da Unilever Brasil, os bons resultados obtidos “não teriam sido possíveis sem a ajuda de voluntários” – cerca de 500 pessoas que trabalham diretamente no Mais Vida.  Eles visitam casas, conversam com as famílias e explicam sobre a importância de manter o filho na escola, ou de os pais aprenderem a ler e a escrever. Segundo Elaine, o envolvimento comunitário com foco em Saúde é um dos pilares do projeto. Foi graças às informações levadas aos cidadãos por pessoas da própria comunidade, que famílias inteiras passaram a cuidar melhor da alimentação, higiene e limpeza e a fazer exames preventivos, em especial, as mulheres grávidas.
Atualmente 100% das gestantes de Araçoiaba fazem o pré-natal. Antes do Mais Vida, somente 65% das mulheres se preocupavam com o acompanhamento. Esse cuidado fez a mortalidade infantil do município cair em 83%, segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco. Até 2003, a cada mil bebês nascidos vivos, 36 morriam antes de completar um ano de idade. Hoje, morrem seis. Para chegar a esses resultados, a Unilever desenvolveu um modelo de gestão em saúde. A empresa instalou em Araçoiaba um centro médico especializado no atendimento a crianças e gestantes, serviço até então inexistente no município.
Caju e mel fortalecem comunidades do Piauí
Produtores de mel e caju do Piauí aumentaram suas rendas após a intervenção da Fundação Banco do Brasil em suas comunidades. Com um investimento de R$ 4,9 milhões nos últimos três anos, a instituição criou, em parceria com o Sebrae, um projeto que consiste na capacitação dos agricultores e apicultores em parceria.
O objetivo é prepará-los para atuar nas centrais de cooperativas construídas pela Fundação, a Casa Apis e a Cocajupi. Responsáveis por eliminar os atravessadores no trâmite entre a matéria-prima e o produto final, essas centrais fortalecem os agricultores e melhoram sua qualidade de vida.
A Casa Apis é composta por 20 casas de mel e por uma unidade de processamento industrial. A fábrica, inaugurada em setembro deste ano no município de Picos, tem a função de processar e comercializar a matéria- prima, que chega dos pequenos produtores por intermédio das cooperativas. O preço pago ao produtor é de R$ 3,50 por quilo de mel. Antes, o produto era adquirido pelos atravessadores que pagavam apenas R$ 2,28. Atualmente, 1,5 mil famílias de baixa renda trabalham diretamente na produção do mel. Somada a comercialização do produto, o número de famílias beneficiadas sobe para 7,6 mil famílias, de 34 municípios do Piauí e do Ceará.
Na opinião do diretor de produção da Casa Apis, Edmilson Nunes da Costa, o Piauí tem potencial para ser o maior produtor de mel da América Latina. Os pequenos produtores geram um volume de 250 quilos de mel por ano. Nos grandes apiários, o volume varia de 5 a 7 mil quilos por ano.
A cultura do caju também apresenta potencial animador. A Cocajupi – Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piauí – reúne dez cooperativas filiadas e sete mini-fábricas (outras três estão sendo construídas), cada qual com capacidade para processar mil quilos de castanha-de-caju por dia.
Com a instalação da central de cooperativas, o preço por quilo pago ao produtor subiu de R$ 0,75 para R$ 1,00. Neste ano, somente os cajucultores do município de Pio IX já comercializaram 120 mil quilos de castanha para a Companhia Nacional de Abastecimento.
Para o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, a escolha da região de Picos para a implantação desses empreendimentos foi um dos grandes fatores para o sucesso. “Ela oferece boas condições para a agricultura e um forte mercado para o mel e o caju. Esses elementos contribuem para geração de trabalho e renda, que são nossas principais metas”, afirma.
O presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto, concorda. “Se diminuirmos desigualdade na comunidade isso vai ser positivo para o Banco do Brasil. Quanto mais pessoas puderem adquirir nossos produtos, melhor”, diz. No Piauí, segundo maior produtor de caju do Brasil,com 170 mil hectares plantados, dos quais 150 mil hectares em produção, reúne 20 agroindústrias cajueiras, que geram 30 mil empregos permanentes e 60 mil temporários. O carro-chefe do setor é a castanha. Cerca de 90% da polpa da fruta não é aproveitado. Por isso, está nos planos da Cocajupi a criação de técnicas de conservação e processamento da polpa. Segundo o diretor da cooperativa, Vicente Rufino Cortez, um dos projetos é fabricar em escala industrial a cajuína – bebida típica da região obtida artesanalmente – e investir no aumento do consumo do produto, como forma de atrair mais investimentos para o estado.
Qualidade na educação impulsiona cidades de Fortaleza e Rio Grande do Sul

A educação é uma das áreas de maior deficiência do País. A falta de infra-estrutura e a má qualidade de ensino levam grande parte das empresas socioambientalmente responsáveis a investir em projetos que possam melhorar o quadro educacional brasileiro. A Gerdau é uma delas. A empresa desenvolve várias iniciativas neste sentido que fazem a diferença em municípios de diversos estados brasileiros. A mais recente é o programa Gestão para o Sucesso Escolar (GSE), implantado em Maracanaú, a 20 km de Fortaleza (CE), com o objetivo de qualificar o ensino básico das escolas públicas. Para tanto, trabalha com dois pontos principais: transformar o diretor escolar em um líder pedagógico e aprimorar o desempenho dos alunos na área de língua portuguesa.
O programa surgiu a partir da constatação de que boa parte dos alunos ia mal nos estudos porque não entendia o que estava lendo. “Sem o domínio da língua é impossível aprender história, geografia e até matemática, em que a interpretação de texto é fundamental”, destaca Tiago Alliatti, gerente executivo da Gerdau cearense. Consciente de que para mudar esse quadro seria preciso primeiro investir no aperfeiçoamento dos educadores, a Gerdau se uniu ao governo do Estado do Ceará, à Fundação Leman, ao Instituto Razão Social e à IBM (parceira no fornecimento de tecnologia) para implantar o GSE, um curso com dez meses de duração que já soma 15 mil beneficiados.
Dividido em cinco módulos, o programa aborda temas como a mobilização da equipe escolar e a comunidade, a utilização de indicadores para medir a qualidade de ensino, ferramentas para mensurar o desempenho dos alunos, ações de desenvolvimento das habilidades dos estudantes e análise da qualidade da infra-estrutura da escola. O conteúdo é ministrado em 13 encontros presenciais, com capacitação online em 84 horas de formação e acompanhamento de 10 voluntários. As instituições escolhidas recebem doações de microcomputadores e acesso à Internet banda larga. Tal estrutura garante aos professores e diretores das escolas o acesso ao conteúdo pedagógico audiovisual.
Graças ao GSE, seis das 20 escolas que participam do programa hoje estão entre as melhores do Ceará. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Deputado Ulysses Guimarães foi a que atingiu a melhor colocação no Estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Classificada em 8º lugar, foi considerada modelo no Brasil por estar localizada na periferia e não receber recursos externos. “O bom resultado obtido com o GSE criou um novo padrão de processos na nossa escola. Nossos alunos e professores agora estão dispostos a manter esse nível de qualidade e a melhorar ainda mais o seu desempenho”, comenta a diretora da escola, Valdelice Barbosa Lima. Segundo ela, o trabalho de capacitação melhorou a auto-estima dos professores e está fazendo a diferença na qualidade do ensino local.

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?