Especial – Energia para mover o mundo sem destruir o planeta – Parte I

Especial – Energia para mover o mundo sem destruir o planeta – Parte I

Energia para mover o mundo sem destruir o planeta

Desde a descoberta do fogo, no período paleolítico, as grandes inovações da humanidade estiveram associadas à identificação de novas fontes e processos de geração de energia que proporcionaram a transformação não só de materiais, mas também de comportamentos e estilos de vida. Agora, no entanto, a equação do progresso impõe uma nova variável: gerar energia em quantidades cada vez maiores com o menor impacto socioambiental possível. Diversificar é a questão-chave para equilibrar essa balança, tanto em relação a recursos energéticos, quanto à sua origem.
“Em toda a história, tivemos, praticamente, uma única fonte de energia. Até a Revolução Industrial inglesa era o carvão, depois passamos a explorar o petróleo. Mas daqui para frente, em virtude da questão ambiental e da segurança energética, as escolhas terão que se basear nas vantagens comparativas das diversas regiões do mundo”, destaca Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Esse quadro resultará na diluição não apenas dos riscos de abastecimento, mas também geopolíticos, associados ao domínio de um insumo essencial como a energia por determinadas regiões, como acontece hoje com os tradicionais países exportadores de petróleo. “As principais reservas de petróleo do mundo estão concentradas, principalmente, em nações que têm problemas de regime político ou religiosos. São países que vivem em permanente instabilidade política e social”, afirma Pires.
Complexo ao extremo, o quadro pode ainda se agravar. Segundo o relatório Brasil Sustentável, da Ernst&Young, estima-se um crescimento da demanda mundial de energia da ordem de 2,6% ao ano até 2030. E os países que mais demandarão o insumo são os que registrarão as maiores taxas de crescimento econômico, como a China, com um aumento de consumo de 4,9% ao ano, e a Índia, com 3,8%.
Para atender ao substancial crescimento da demanda energética diante da disponibilidade limitada de recursos, o levantamento prevê que serão necessários investimentos superiores a US$ 20 trilhões, até 2030, para acompanhar o consumo mundial.
Trata-se de um sinal concreto de que o setor de energia representará um campo para novas oportunidades de negócios, sobretudo no desenvolvimento de alternativas mais limpas. Nesse segmento, não por acaso, os investimentos cresceram em 5%. De acordo com o relatório Tendências Globais de Investimento em Energias Sustentáveis (do inglês, Global Trends in Sustainable Energy Investment), elaborado pelo Programa de Meio Ambiente da ONU, saltaram de US$ 148 bilhões, em 2007, para US$ 155 bilhões, em 2008.  O estudo mostrou também que o investimento em fontes de energia renovável superou pela primeira vez o volume destinado às tecnologias para exploração de fontes fósseis.
Ainda que o recorde de US$ 155 bilhões e os bilionários pacotes de estímulos destinados à área, representem um avanço, a publicação da ONU reforça que será necessário pelo menos meio trilhão de dólares por ano até 2020 para estabilizar as emissões de gases de efeito estufa a um limite considerado seguro (até dois graus Celsius) pelos cientistas.
A energia eólica foi a campeã em novos investimentos atraindo globalmente um montante de US$ 51,8 bilhões. Mesmo correspondendo a um crescimento de apenas 1%, quando comparado a 2007, esse aporte confirma a posição da eólica como a mais madura e melhor estabilizada entre as alternativas sustentáveis no mundo. O maior salto de investimento, no entanto, se deu em relação à energia solar (49%), que recebeu US$ 33,5 bilhões. Já o setor de biocombustíveis sofreu uma queda de 9% em relação ao ano passado, registrando US$ 16,9 bilhões em recursos. Juntos, esses três setores lideram o conjunto de energias sustentáveis, somando 86% dos novos investimentos dedicados à área.
Mapa da energia renovável

O relatório da ONU faz ainda uma análise da distribuição geográfica dos investimentos voltados às energias limpas. Nesse cenário, a Europa continua na liderança com US$ 49,7 bilhões investidos em 2008, o que representa um aumento de 2% em relação a 2007. Esse investimento é avalizado por políticas governamentais de incentivo a projetos de energias sustentáveis, particularmente na Espanha, onde foram aplicados na área cerca de US$ 17,4 bilhões de ativos financeiros.
Com US$ 30,1 bilhões, a América do Norte registrou uma queda de 8% nos novos investimentos em energias limpas, graças –segundo o estudo – à recessão econômica iniciada em setembro de 2008.
Os países em desenvolvimento, por sua vez, contribuíram com US$ 24,2 bilhões em investimentos para a Ásia e Oceania em 2008, um salto de 12% em relação ao ano anterior. Na China, com a intervenção direta do governo, os recursos destinados às energias sustentáveis subiram 18%, atingindo US$15,6 bilhões.  Na Índia, foram US$ 3,7 bilhões, com aumento de 12%. E na América do Sul, contaram-se US$ 12,3 bilhões, alavancados, em grande medida, pela indústria do etanol de cana-de-açúcar no Brasil.
Ainda segundo o estudo da ONU, o ano de 2008 se caracterizou por passos decisivos em países como Japão e Austrália, onde a energia sustentável até então não era uma prioridade.
Durante muito tempo, a potência asiática detinha a maior capacidade de energia solar instalada, em consequência de subsídios para adoção de sistemas de geração de energia fotovoltaica em residências no período de 1999 a 2005. Em 2006, os japoneses perderam o posto para os alemães. Próximo do término do primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto (1990-2012), o governo nipônico decidiu retomar o investimento em energia solar para cumprir sua meta de 6% de redução de emissões de gases de efeito estufa. O país – que, em exportações de petróleo, fica atrás apenas dos EUA – planeja aumentar em 10 vezes sua produção de energia fotovoltaica até 2020, e em 40 vezes, até 2030, índices, nos dois casos, comparados aos de 2005.
Já na Austrália as energias renováveis ganharam um grande reforço com o primeiro-ministro Kevin Rudd. Assim que tomou posse em 2007, ele ratificou o protocolo de Kyoto, anunciando medidas para estabelecer o esquema de comércio de emissões naquele país, com a intenção de reduzir em até 60% as emissões de CO2 até 2050 e também de permitir que pelo menos 20% da energia total consumida provenha de fontes renováveis. Dada a sua forte dependência de combustíveis fósseis, a Austrália resolveu assumir posição de liderança em relação a tecnologias de captura e estocagem de carbono.
Nos países industrializados, os investimentos totalizaram US$ 82,3 bilhões, 1,7% a menos em comparação a 2007. Já o total de novos aportes nos países em desenvolvimento atingiu US$ 36,6 bilhões, contando um aumento de 27%. Além disso, as economias emergentes receberam 31% dos investimentos totais dedicados a projetos de energias sustentáveis.

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