Oportunidade em meio ao caos

Após o grande impacto da crise financeira global, que afetou governos e empresas de todo o mundo, as novas oportunidades que surgem com a necessidade da transição para um modelo econômico mais sustentável começam a se revelar.
“A mudança vem ocorrendo. Estamos formando uma geração que consegue pensar no médio e longo prazo e está chegando gradualmente às posições de direção e impregnando as organizações com essa visão. As gerações que viveram sobre forte pressão inflacionária ainda têm uma cicatriz e dão preferência para o curto prazo. Quando surgiu a crise, essa cicatriz voltou a doer”, avalia Cabrera.
Em janeiro de 2009, a Comissão Europeia divulgou seu plano de recuperação de € 5 bilhões, focado principalmente em energia limpa. Segundo o estudo Empregos de Baixo Carbono para a Europa, da organização WWF, os setores de energia renovável, transporte ambientalmente amigável, de bens e serviços energeticamente eficientes poderiam empregar ao menos 3,4 milhões de pessoas no continente, em comparação aos 2,8 milhões de empregos em mineração, eletricidade, gás, cimento, ferro, aço e outras indústrias poluentes.
A maior porção de empregos verdes, em torno de 2,1 milhões, está em transporte sustentável. A indústria emprega em torno de 150.000 dos dois milhões, e está envolvida na produção de carros que emitem menos CO2 por quilômetro, mostrando que apesar da crise, a indústria continua representativa.
De acordo com Cabrera, a crise financeira irá impactar na criação de empregos relacionados à sustentabilidade, mas devido ao estímulo mundial à busca de uma economia de baixo carbono, a alteração não será tão prejudicial. “Proporcionalmente ao conjunto da geração de postos de trabalho, a área de empregos verdes cresceu menos devido à crise. Mas isoladamente tem mantido a mesma taxa de crescimento”, avalia.
O estudo do WWF também ressalta que tais políticas de estímulo a uma economia mais verde não serão prejudiciais para indústrias poluentes tradicionais, mas argumenta que a transição deve ter um acompanhamento apropriado por meio de projetos de capacitação e proteção social para auxiliar indivíduos que saem perdendo nesse processo – principalmente nas áreas onde há grandes concentrações de indústrias vulneráveis e falta de diversificação econômica.

Papel do governo
Repensar políticas públicas existentes também se faz urgente para possibilitar que todos os setores contribuam para a ascensão de uma economia verde. Políticas claras para dar suporte a atividades econômicas sustentáveis e gerar empregos são ações básicas que os negócios certamente esperam de governos e corpos internacionais para que se desenvolva uma estrutura sólida dentro da qual operações mais eficientes sejam possíveis.
Para Pollin, o papel do governo é dar suporte aos investimentos verdes tanto quanto possível.  “Em termos específicos, isso significa três coisas:  dar subsídio a investimentos em energia limpa, a fontes de energia renovável, onde as tecnologias ainda estão em sua maioria em estágios primários de desenvolvimento e precificar a queima de combustíveis fósseis para reverter o dano ambiental das emissões de gases de efeito estufa”, avalia.
Segundo estudo da UNEP, políticas fundamentais incluem subsídios, estímulo aos mercado de carbono, reforma tributária, além de adoção de políticas inovadoras para superar barreiras para a energia renovável e de leis que responsabilize produtores por possíveis danos ambientais.
No Brasil, segundo Cabrera, a situação ainda se mostra incipiente nesse quesito. “O governo tem feito muito pouco pela geração de empregos. Mas o aumento no nível de investimentos em setores de mão de obra intensiva vai ajudar na criação de empregos e gerar um resultado positivo”, conclui.