Especial – Da máquina de vapor às pás eólicas – Parte II

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Competências inovadoras

De acordo com Jeannette, do PERI, apesar de muitas das oportunidades de empregos no setor verde estarem relacionadas a funções já exercidas atualmente, novas habilidades serão requisitadas dependendo da função desempenhada.
“Existe a necessidade de que alguns trabalhadores ampliem seus conhecimentos para trabalhar com novos materiais e tecnologias. Por exemplo, eletricistas podem precisar aprender os princípios e a instalação de paineis solares”, avalia.
E essa não é uma tendência só nos Estados Unidos. A demanda de novos perfis profissionais que atendam as necessidades do chamado “mercado verde” tende a crescer de modo significativo nos próximos anos. É o que mostro o estudo recente do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), intitulado Green Jobs: Towards decent work in a sustainable, low-carbon world (Empregos verdes: rumo ao trabalho decente em um mundo sustentável de baixo carbono). O documento categoriza como empregos verdes posições na área de agricultura, manufatura, pesquisa e desenvolvimento, atividades administrativas e serviços que contribuam substancialmente para preservar ou restaurar a qualidade ambiental.
A lista vai ainda mais longe, incluindo profissões que ajudam a proteger ecossistemas e biodiversidade, reduzir gastos de energia, materiais e consumo de água por meio de estratégias mais eficientes, e minimizar ou evitar a geração de todas as formas de desperdício e poluição.
De acordo com Luis Carlos Cabrera, diretor da PMC Amrop International e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo daFundação Getúlio Vargas (FGV), essa nova realidade requer profissionais com visão estratégica e integrada. “A primeira demanda forte do mercado foi em relação a cuidados com o meio ambiente. Na sequência vemos uma procura por profissionais que além de desempenhar essa tarefa, trabalham para que projetos sejam economicamente viáveis, socialmente sustentáveis e culturalmente aceitos”, destaca.
Para avaliar o cenário que se projeta para os próximos anos no Brasil, a Fundação Instituto de Administração (FIA), por meio de seu Programa de Estudos do Futuro, realizou um levantamento para identificar quais profissionais a sociedade demandará na perspectiva de 10 anos.
Segundo Renata Spers, professora da FIA, a falta de informação sobre o assunto foi um estímulo para elaboração do levantamento intitulado Carreiras do Futuro. “Começamos a receber uma demanda muito grande de pessoas interessadas em conhecer o futuro das profissões e pesquisas específicas sobre carreira”, destaca.
A Técnica Delphi foi o método de planejamento utilizado, dada a sua eficácia em situações de falta de dados históricos ou nas quais pretende-se estimular a criação de novas ideias.  Por meio de diversas consultas a um grupo de especialistas, chegou-se a um consenso de que as profissões do futuro serão influenciadas diretamente por macro-tendências que começam a se tornar visíveis no contexto social. Além disso, a globalização deve continuar pressionando as companhias a buscar profissionais que sejam capazes de realizar operações em nível mundial.
Macrotendências
O nível crescente de informalidade na economia global e os níveis crônicos de desigualdade constituem grandes desafios para o desenvolvimento dos empregos verdes. No contexto social, a busca por qualidade de vida e a preocupação com o meio ambiente serão aspectos importantes na definição de carreiras promissoras, ainda mais quando se leva em conta o envelhecimento da população mundial.
De acordo com o estudo desenvolvido pela FIA, 26% dos especialistas acredita que as pessoas buscarão mais qualidade de vida, demandando serviços que tragam comodidade, juntamente com um feedback adequado sobre produtos e serviços.
Entre os profissionais que devem ganhar destaque estão o Gerente de Eco-relações, Chief Innovation Officer e Gerente de Marketing e Comércio Eletrônico. A maior parte dos especialistas consultados (72%) acredita que a área de Gerente de Eco-relações deve ter um crescimento significativo no período de 2008 a 2020.

Segundo Willard, os empregos na área operacional requerem mais especialização adicional do que na área executiva. “Conhecimentos executivos são muito mais transferíveis para qualquer approach, especialmente se o executivo possui conhecimentos de liderança que encoraja a inovação e o engajamento dos empregados”, avalia.
Outra tendência que o estudo da FIA destaca é a busca crescente por inovação, que deve se tornar mais forte e mais abrangente não apenas em relação ao desenvolvimento tecnológico, mas também ao desenvolvimento de novos conhecimentos. A manutenção de competências profissionais se mostra fundamental e exigirá cada vez mais capacitação, devido à necessidade do mercado de transformar as novidades tecnológicas em negócios.
Além disso, de acordo com Cabrera, as sociedades estão migrando de um sistema de criação individualista para um modelo que preza por soluções coletivas, habilidade indispensável para profissionais de todos os níveis. “Outro aspecto muito interessante é a capacidade de fazer diagnósticos rápidos e de estabelecer e sustentar relacionamentos com a equipe do fornecedor, do cliente, entre outros”, propõe.
De acordo com Heitor Kuser, presidente do Instituto brasileiro de desenvolvimento econômico e social (IBDES), responsável pelo Fórum de Profissionais para a Sustentabilidade, a ser realizado no primeiro semestre de 2010, alternativas para formações já existentes também devem ser esperadas. “Esse cenário não demandará somente novos perfis, como também novas profissões, ou pelo menos derivações das carreiras existentes”, avalia.
Para se adequar a esse novo cenário em ascensão, a área de educação também precisará ser aprimorada. A demanda por um ensino mais aprofundado ainda não é atendida pelas instituições, que acabam formando profissionais despreparados para o mercado contemporâneo. Caberá também ao setor privado o estímulo à evolução intelectual de seus funcionários.
De acordo com Kuser, a falta de profissionais preparados para essa nova perspectiva de negócios pode ser uma das barreiras à consolidação do mercado para tecnologias sustentáveis no Brasil. “A área da educação responde muito mal às necessidades do mercado. Quando surge uma demanda, ela é sempre a última a responder com a criação de cursos, formação, etc. O País tem grandes cérebros, porém os mais brilhantes têm ido para o mercado internacional por meio de bolsas de estudos, por exemplo.”
A melhoria da educação e a formação de empreendedores foi citada por 21% dos respondentes do Carreiras do Futuro, da FIA. Para 54% dos especialistas, a nova configuração nas relações de trabalho sofrerá alterações significativas, com diminuição dos postos formais implicando empregos autônomos. As maiores oportunidades, segundo 95%, estão no setor de serviços, especialmente nasáreas como saúde, serviços para a Terceira Idade e consultorias especializadas em sustentabilidade.
Para Willard, a colaboração entre todos os setores é necessária e instituições educacionais podem exercer papel fundamental, porém, muitas estão mais interessadas em proteger seu status quo. “Precisamos de líderes que tenham precaução e coragem em todos os setores para avançar suas contrapartidas e fazer acontecer. O momento para ação é agora e como diz o ditado, ‘Lidere, siga, ou saia do caminho’”.

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