Especial – Cidadãos anônimos, voluntários do Milênio (parte 1)

Especial – Cidadãos anônimos, voluntários do Milênio (parte 1)

No ano de 2000, 147 chefes de Estado se reuniram em Nova Iorque (EUA) no maior encontro de lideranças mundiais das Nações Unidas. O evento, que ficou conhecido como a Cúpula do Milênio, gerou um documento de compromisso que estabeleceu oito grandes Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) com a finalidade de superar importantes dilemas globais nos campos econômico, social e ambiental.
Tendo como data-limite o ano de 2015, a Declaração do Milênio propôs as seguintes metas: 1) Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2) Atingir a universalização do ensino fundamental; 3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde materna; 6) Combater o HIV-Aids, a malária e outras doenças; 7) Garantir a sustentabilidade ambiental; e 8) Promover uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Nessa matéria especial, Idéiasocial conta a história de brasileiros anônimos, de diferentes idades e formações que, em comum, possuem destacado espírito solidário, senso de cidadania acima da média e a participação engajada em atividades voluntárias que, de alguma forma, contribuem para o cumprimento das Metas do Milênio estabelecidas pela ONU.
Para analisar o desempenho do Brasil no atingimento de cinco dos oito ODMs, a revista convidou ainda especialistas em educação, mortalidade infantil, desenvolvimento, meio ambiente e saúde da mulher. Confira, a seguir, os depoimentos e os artigos.
META 1 — O prato de sopa como estratégia de resinserção social

De acordo com estudos da ONU, cerca de 800 milhões de pessoas passam fome ou não se alimentam adequadamente em todo o mundo. A grande maioria delas reside em países em desenvolvimento, na Ásia e na África. A dimensão do problema levou as Nações Unidas a estabelecerem dois alvos para a Meta 1 de erradicar a extrema pobreza e a fome. Até 20015, espera-se reduzir pela metade a proporção de pessoas com renda inferior a um dólar por dia e também das que passam fome.
Difícil saber se a meta será cumprida no Brasil. Mas os números revelam uma melhora no quadro nacional. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2003, o Índice de Pobreza Humana caiu de 15,8% (1999) para 11,4% (2003). A despeito de ainda ser uma referência mundial em desigualdade social (os 10% mais ricos possuem renda setenta vezes maior que os 10% mais pobres), o Brasil tem melhorado ligeiramente sua posição no ranking do IDH em grande parte por causa da ação de governos, empresas socialmente responsáveis e cidadãos envolvidos com organizações da sociedade civil.
Ricardo Valverde Jabbur, 29 anos, é um dos muitos exemplos de cidadão jovem que trabalha para o cumprimento da primeira meta da Declaração do Milênio. Voluntário da organização Benedito Pacheco desde os 18 anos, onde chegou pelas mãos e por influência da mãe, Rosângela Valverde, Ricardo dedica-se há onze anos a atividades que visam combater a fome e a miséria na cidade de São Paulo. E o faz quase todos os dias. Anonimamente.
A organização em que atua Valverde distribui sopa a moradores de rua. Esta atividade serve, segundo o voluntário, como um instrumento para conquistar a confiança dessas pessoas e reintegrá-las à sociedade. Ele sabe que os pratos de comida não representam uma solução definitiva para o problema da fome na cidade. Mas também entende que o alimento é uma medida emergencial que favorece a aproximação com os moradores de rua, permitindo iniciar o esforço de resgate de sua cidadania e inserção social. Além de alimentar um pequeno grupo desta população de excluídos, a Benedito Pacheco faz o encaminhamento de pessoas que necessitam de internação, atua na prevenção ao uso de álcool e drogas, e procura dar apoio na obtenção de emprego e de vagas em cursos de capacitação.
“A fome e a miséria são situações muito complexas. Reintegrar os moradores de rua é um trabalho demorado e a sopa funciona como instrumento valiosíssimo nesse processo”, conta.
Valverde não sabe dizer o número de vidas que, de algum modo, transformou com a sua ação voluntária ao longo de onze anos. Mas não tem dúvida de que ele próprio tem sido o principal beneficiário do trabalho. “O voluntariado nos transforma. Passei a enxergar que todos somos membros de um mesmo corpo e que tudo que melhora a vida de uma pessoa melhora a sociedade como um todo. Acho importante estar com gente que não é de sua família, mas que você considera como se fizesse parte dela. Recebemos mais do que damos”, ensina.
Para Valverde, a atividade voluntária não o torna nem melhor nem diferente de ninguém. Bom voluntário –acredita –é o que assume o papel de coadjuvante. “Quando estou com um morador de rua penso que, naquele momento, ele é mais importante do que eu. É ele quem sai da rua, conquista um emprego, luta contra vícios e supera tantos problemas. O esforço é todo dele. Fico feliz se posso beneficiá-lo com uma palavra, um olhar ou um sorriso”, diz.
Na opinião de Valverde, quando reintegrado à sociedade, o indivíduo que já morou nas ruas adquire enorme capacidade de servir a essa própria sociedade. E de multiplicar altruísmo, solidariedade e espírito cidadão. “Ele fica mais apto para ser útil e ajudar outras pessoas que vivem o problema pelo qual já passou. A maioria dos ex-moradores de rua faz isso”, finaliza.
Meta 2 — O espírito altruísta de quem sobreviveu a uma Guerra

No Brasil de 1940, apenas 21% dos indivíduos entre 5 e 19 anos estavam na escola. Este percentual evoluiu para o patamar de 58% e, depois, 86% respectivamente nos anos de 1978 e 1998. Estima-se que hoje quase 98% das crianças entre 7 e 14 anos estejam matriculadas no ensino fundamental. Um feito, sem dúvida. Como consequência, o índice de analfabetos baixou, entre 1991 e 2000, de 19,2 milhões para 16, 2 milhões. E ao que indicam, outras pesquisas, continua a cair.
Visto sob essa perspectiva de números absolutos, o atual quadro educacional sugere que não será tarefa difícil atingir a Meta 2 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, de garantir, até 2015, que todas as crianças, de ambos os sexos, completem o ciclo de ensino básico (ver artigo de Denise Aguiar). Na prática, a teoria é outra. As taxas de repetência e evasão escolar seguem altas. E a qualidade do ensino claudica irregular. Há menos escolas do que seria necessário, menos infra-estrutura, menos professores capacitados, menos avaliação e menos gestão do que seria desejável. O sistema público de educação enfrenta o dilema da desigualdade: as escolas são piores nas regiões mais pobres do país, onde há pais e alunos menos exigentes e uma relação mais distante entre a escola e as comunidades.
Parte dos avanços da qualidade na educação brasileira pode ser atribuída ao esforço de grandes organizações do terceiro setor como o Instituto Ayrton Senna, e também a pequenas, que se multiplicam às centenas, como a Associação Educacional Labor, comandada por Karin Alwine Essle.
Nascida na Alemanha, Karin trocou o seu país de origem pelo Brasil depois de perder o pai na segunda guerra e de ter enfrentado toda sorte de privações na primeira infância. Em retribuição ao país “alegre e generoso” que a acolheu, e onde criou os filhos, resolveu dedicar-se a um trabalho voluntário movida pelo interesse de assegurar às crianças “uma boa chance no início da vida”. A mesma boa chance que quase lhe faltou.
Hoje Karin é vice-presidente da Labor, cuja proposta pedagógica surgiu a partir de um projeto-piloto de educação desenvolvido na Aldeia SOS de Rio Bonito. Ela e o marido, juntamente com outros quatro casais, fundaram a Aldeia, em 1978, para abrigar crianças sem pais e também os chamados órfãos sociais.
Como os abrigados tinham dificuldade em acompanhar o ritmo das escolas fora da instituição, e, por essa razão, repetiam os anos escolares, Karin e seus colaboradores criaram um programa para melhorar o interesse e o aproveitamento educacional das crianças. Do bem-sucedido programa nasceu a Labor. E com a Labor cresceu a vontade de Karin de trabalhar para a melhoria da qualidade do ensino no Brasil. “Comecei a ver que o problema da escola não era exclusivo das crianças mais sofridas que moravam na Aldeia. Era geral. O descompasso entre a realidade e o ensino público é um problema mundial”, afirma.
De 1992 até hoje, a proposta pedagógica da Associação Educacional Labor atingiu cerca de meio milhão de alunos, sempre respeitando a realidade das crianças e valorizando o professor. Para Karin, essa é a melhor recompensa pelo seu trabalho. “Queremos que as crianças em risco de exclusão social tenham um ensino mais estimulante e eficaz, que consigam a autoconfiança necessária para aprender e se tornem cidadãos dignos deste país”, explica Karin, para quem o sucesso da ação da Labor se deve à sua simplicidade, à interação entre teoria e prática e ao maior equilíbrio na relação entre habilidades físicas e mentais no processo de aprendizagem.
Na opinião de Karin, um aspecto importante do trabalho voluntário em sua própria vida é dar-lhe a certeza de que realmente conseguiu realizar todos os seus objetivos. Inclusive o de contribuir para que crianças com uma história de vida difícil, consigam, como ela, superar dramas pessoais e ter um futuro feliz. “Não foi á toa que sobrevivi às dificuldades da minha primeira infância. Sinto-me privilegiada porque graças ao meu trabalho tenho sempre algo positivo para comentar, em vez de incomodar-me com pequenos detalhes do cotidiano”, completa.
Meta 3 — Formando seres humanos melhores e mais respeitosos

No Brasil, as mulheres com a mesma formação e no mesmo cargo costumam ganhar até 30% menos do que os homens, ocupam menos posições de chefia e menos cargos públicos importantes. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher, como deseja a ONU, em sua terceira Meta do Milênio, exige, em países como o Brasil, o combate a antigas chagas do universo feminino como o assédio sexual no trabalho e a violência doméstica.
Mais do que alarmantes, os números da violência contra a mulher impressionam pela magnitude. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) quase três entre dez mulheres brasileiras relataram ter sofrido violência física ou sexual pelo menos uma vez
Fábia Cascone não conhece de perto esta realidade. Mas trabalha para que ela diminua no futuro. Voluntária na ONG Florescer, esta psicóloga de 28 anos realiza um trabalho diferenciado de gênero, preparando os meninos e as meninas para, desde cedo, encararem com naturalidade a igualdade entre os sexos.
Antes de ingressar na Florescer, Fábia já tinha experiência de trabalho voluntário, fazendo aconselhamento psicológico gratuito a pessoas de terceira idade. Ao tomar contato com a ONG, engajou-se como recreacionista e contadora de histórias. “Estou aprendendo a ser atriz, num curso técnico direcionado para a formação de ator. Nesse trabalho posso utilizar meus conhecimentos da psicologia e do teatro com mais liberdade, dividindo experiências com as crianças”, diz.
Para Fábia, a experiência é uma aula permanente de flexibilidade, um treinamento de emoções e relações. Como método, ela prepara um conjunto de atividades lúdicas, mas não impõe nada aos participantes. Procura, ao contrário, captar o humor do grupo e estar atenta às suas necessidades. Uma história ou uma brincadeira, acompanhada de um sorriso generoso e de pequenas atitudes demonstrativas de respeito e educação, podem servir de pretexto para ela trabalhar mensagens importantes, como a da igualdade de gênero
Na opinião de Fábia, uma ação como esta impacta diretamente o outro. O que a estimula, em seu trabalho, é justamente a perspectiva de ajudar na formação de adultos melhores, menos preconceituosos e mais respeitosos. “Na ação com as crianças, semeamos aos poucos o nosso futuro. Parece um pouco frase feita, mas é verdade. Essas crianças vão crescer adultos diferentes do que somos hoje. Cada pessoa que tem essa possibilidade de dividir um pouco do seu tempo e do seu conhecimento com o outro trabalha para um novo futuro. Quero encontrar essas crianças mais para a frente e ter a certeza de que verei boas pessoas, capazes de aprender a se completar, e não a se criticar”, completa.
Meta 4 – Multiplicar a consciência do respeito e da atenção à criança

Se o Brasil vai conseguir até 2015 reduzir em dois terços a mortalidade de crianças com menos de cinco anos, como propõe a Meta 4 da Declaração do Milênio, ainda é incerto. Mas os números sugerem otimismo. Entre 1991 e 2000, a taxa de mortalidade de crianças abaixo de cinco anos caiu de 47,96 em mil para 38,10 em mil. Houve também uma redução na taxa de mortalidade de crianças de outras idades: de 38,8 em mil para 32,53 em mil.
A melhoria no quadro tem a ver com o sucesso de políticas públicas de saneamento e com a maior atenção médica preventiva. Mas também com o esforço de organizações de terceiro setor, como a Pastoral da Criança (ver artigo de Zilda Arns), responsável pela disseminação de tecnologias sociais como a multimistura e o soro caseiro, e também o trabalho de pequenas instituições como o Cecip- Centro de Capacitação e Incentivo à Formação de Profissionais Voluntários e Organizações que Desenvolvem Trabalho de Apoio à Convivência Familiar, onde trabalha Luis Alfredo Ferreira da Silva.
Ferreira preocupa-se com questões sociais há muito tempo. Ainda estudante, trabalhou como voluntário em um antigo abrigo de crianças. Atualmente, aos 42 anos, dedica quase todas as suas noites ao Cecip, cuja missão é assegurar o direito da criança à convivência em família e a cuidados adequados. O Cecip não trabalha diretamente com a criança. Seu papel é o de capacitar cuidadores e educadores, que tanto podem vir de famílias quanto de abrigos ou conselhos tutelares, de São Paulo e de outros estados. “Como nessa área, tudo é sempre muito urgente, optamos por trabalhar com multiplicadores para atingir mais pessoas em menos tempo”, conta Ferreira.
Na maior parte do tempo dedicado ao Cecip – inicialmente seriam cerca de duas horas, duas vezes por semana, mas hoje esse tempo estende-se a cerca de 4 noites por semana –, o engenheiro agrônomo Ferreira cuida dos computadores da organização. Seu trabalho é fundamental na medida em que dá ao Cecip as condições necessárias para administrar um banco de dados da Redinfa (Rede Brasileira de Informação sobre Infância, Adolescência e Família) e divulgar esta rede. Além de cuidar de um centro de referência e uma biblioteca que guarda o material da Redinfa, o Cecip é também o responsável pela inclusão do Brasil na rede interamericana.
Embora não dê treinamento, uma vez que o Cecip conta com professores, psicólogos e pessoal da área social, Ferreira ajuda a preparar a sala de aula e, se necessário, a instalar equipamentos utilizados durante os treinamentos. “Faço pintura, consertos, coleto e vendo material para reciclagem, e atendo as pessoas. Existe uma compreensão geral de que é preciso que todas as pessoas lá se sintam bem, para que passem isso às crianças. É uma compreensão de coração. Temos compromisso, não obrigação.”
A experiência voluntária provocou mudanças importantes na vida de Ferreira. “Hoje educo melhor meus filhos porque tenho uma compreensão mais ampla de como funcionam as questões da criança e da família no Brasil. Deixei de ser cruel no julgamento de outras pessoas”, diz. Para exemplificar sua afirmação, lembra o caso de uma mulher com depressão pós-parto que abandonou uma criança. “As pessoas não têm noção do que é isso. Às vezes, julgamos prematuramente uma pessoa porque ela deixou seu filho, mas não enxergamos suas dificuldades pessoais. Há a questão médica da depressão pós-parto. E também uma questão de forte conteúdo social”, conta.
Meta 5 – Uma doula ao lado das mães de baixa renda na hora do parto

Entre 1996 e 2000, a mortalidade materna cresceu no Brasil de 50,15 em mil para 63,67 em mil, certamente por deficiência de acompanhamento pré-natal e atendimento em saúde preventiva. A regressão no quadro torna bastante difícil atingir a Meta 5 do Milênio de reduzir até 2015, em três quartos, os índices de mães que morrem no País (ver artigo das professoras Beatriz Galli e Leila Hessini). Será necessário contar com políticas públicas cada dia mais eficazes e com o trabalho cotidiano de gente como Marisa Carvalho, da Amparo Maternal, que combina solidariedade com elevado senso de cidadania.
Em 1996, Marisa descobriu um câncer de mama. Recuperada e agradecida, decidiu doar parte de seu tempo a uma instituição e lembrou-se do Amparo Maternal que conhecera aos 15 anos, durante um trabalho escolar de puericultura. Desde então, assumiu a função de doula, em grego mulher que serve, o nome dado às voluntárias que atuam no local.
Hoje, aos 54 anos, mãe de duas filhas já moças, Marisa luta novamente para recuperar-se de um câncer, agora na coluna, detectado há três meses. A doença obrigou-a a afastar-se por algum tempo de suas atividades voluntárias. Mas ela não perdeu o entusiasmo nem a energia. Ativa, cheia de boas idéias, entre suas realizações na instituição está a criação, junto com outras colegas, de um curso para as doulas que vão ficar ao lado da gestante, na hora do parto. Marisa conta que as voluntárias costumam acompanhar o trabalho de parto da metade para o fim, “quando mais as gestantes necessitam de apoio.”
A dedicação incondicional de Marisa impressiona as colegas. Nem mesmo a radioterapia e a quimioterapia, muito menos o fato de ter ficado sem andar por causa da doença, foram suficientes para diminuir sua disposição para o trabalho. “Apesar de tudo não via a hora de voltar. Queria andar logo para retomar meu trabalho. E só sosseguei quando o médico me autorizou”, conta.
Os dez anos de trabalho voluntário conferiram um novo sentido à vida de Marisa. “No início, pensei em ajudar. Mas aí vi que eu é que sou ajudada pelas lições de vida que recebo. Aqui, procuramos não só amparar a parturiente, mas colocá-la de volta à sociedade, por meio de cursos de capacitação”, lembra.
O envolvimento de Marisa com o Amparo Maternal é tamanho que ela, ás vezes, não sabe mais se mora em casa ou na instituição. “As outras doulas dizem brincando que vão arrumar um quartinho para mim. Tenho o sentimento de que estou cumprindo um grande objetivo de vida. Quando recebi a notícia do câncer, imaginei que estava decretada a minha morte. Hoje vejo que ainda tenho muito a fazer”, finaliza.
Meta 6 – Leitura e solidariedade para os pacientes de Aids

Desde 1982, quando se registrou o primeiro caso da doença, o cenário da Aids mudou muito no Brasil. Antes um mal essencialmente masculino e urbano, ele avançou entre as mulheres, expandiu-se também para o interior, populações mais jovens e mais pobres. Antes uma sentença de morte, com a descoberta do coquetel de 15 medicamentos, o portador do HIV passou a ter uma vida mais longa e com qualidade.
Em 2001, o governo do Brasil deu um passo importante no combate á doença ao implantar um programa de produção e comercialização de remédios genéricos, transformando-se em modelo internacional. Esta ação reduziu em 50% o número de mortes de pacientes com Aids e em 60% o surgimento de doenças infecciosas correlatas naquele ano.
Para cumprir a Meta 6 do Milênio de deter a propagação desta e de outras doenças, como a malária, até 2015, e começar a inverter a tendência atual, o grande desafio é o da prevenção. Para diminuir o sofrimento daqueles que estão internados por causa da doença, será necessário contar com pessoas como Vera Lucia Guedes Rosado, alguém que descobriu no voluntariado um instrumento de compreensão e respeito ao outro.
Vinda de uma família de médicos, esta advogada de 52 anos, que na adolescência visitava favelas para ensinar higiene e levar vacinas, sempre gostou do lado humanitário da área da saúde. Por essa razão, em 2004, resolveu procurar trabalho voluntário no VER – Voluntariado Emílio Ribas. “Por ser algo novo e muito bem organizado, fiquei com uma ótima impressão. Durante quatro meses assisti a várias palestras com voluntários de outras áreas e com médicos. Mesmo para quem não continuou como voluntário, porque viu que não era lá que gostaria de trabalhar, foi um aprendizado enorme”, lembra.
Entre as várias opções de trabalho, Vera escolheu a leitura solidária porque gosta muito de ler e sempre quis ter contato direto com os pacientes. Um dos segredos de sua atividade é perceber e respeitar as necessidades de cada paciente, sem invadir sua privacidade. “Não pergunto o que as pessoas fazem nem qual a doença que as levou até o hospital. Elas me contam, se querem. Ao propor a leitura, analiso a pessoa com quem converso, porque cada uma responde de uma maneira ao que está se passando. Meu papel ali é distraí-las por alguns minutos.”
Segundo Vera, o voluntário precisa tomar cuidado para não colocar uma barreira, dando a entender que está perfeito, enquanto o outro se encontra doente. “Quem está lá muitas vezes perdeu a esperança. Ao conversar, ler e distrair, nossa intenção é fazer com que os pacientes se sintam mais vivos do que acreditam que estão.”
O trabalho voluntário –pensa Vera – leva a uma profunda reflexão sobre valores pessoais. “Mudei minha visão do mundo. Passei a ver que a diferença social não deveria existir nunca, porque qualquer um está sujeito às doenças. Que não é pelo fato de uma pessoa não ter posses que deve deixar de receber assistência, qualquer que seja ela, médica ou moral”, conta ela.
Meta 7 – Moda, ecologia e trabalho voluntário
A estilista Sarita Del Pozo é voluntária do Ipê –Instituto de Pesquisas Ecológicas, desde 2003. Com uma carreira construída em marcas como Levi`s, Ellus e Sommer, ela aceitou o convite da organização para elaborar camisetas com o propósito de gerar recursos para comunidades de baixa renda e ao mesmo tempo divulgar as espécies brasileiras animais e vegetais ameaçadas de extinção.
O seu trabalho consiste em desenvolver peças com mulheres de Nazaré Paulista, na Grande São Paulo. “Eu desenho, recorto e elas bordam. Por dia produzimos 15 a 20 modelos bonitos, feitos com amor e dedicação. A leitura de moda é uma grande novidade para essas mulheres de vida simples. O envolvimento transformou suas vidas, melhorou sua auto-estima e as fez ter sonhos próprios”, conta Sarita, que está criando uma marca própria e deseja que ela nasça já compromissada com a responsabilidade social.
Meta 8 – Inclusão digital, inclusão no mundo
Davi Schaffer tem apenas 16 anos. E há dois é voluntário do Projeto Abrace seu Bairro, no qual duvide seus conhecimentos de informática com pessoas de baixa renda da comunidade da Bela Vista, em São Paulo. Ele é um dos muito jovens brasileiros que trabalham anonimamente a serviço da cidadania e pelo desenvolvimento das pessoas.
O interesse pela atividade voluntária começou bem cedo por influência dos pais, pessoas –segundo ele –muito sensíveis aos problemas sociais. Foi no Colégio Dante Alighieri que ele deu os primeiros passos nesse campo. No projeto Abrace seu Bairro, foi assistente e, depois, professor. Para Schaffer, informática e cidadania andam lado a lado. ” A informática é uma ferramenta para modificar a vida da pessoa, pois facilita a sua inserção no mundo do trabalho e sua formação educacional. Inclusão digital significa inclusão na sociedade de um mundo globalizado”, diz o jovem voluntário.

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