Dara O´Rourke, idealizador da plataforma GoodGuide, fala da influência das novas tecnologias para a formação de consumidores mais conscientes
Professor do Departamento de Ciência, Política e Gestão Ambiental da Universidade da Califórnia em Berkeley e, à época, atuando junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e ao Banco Mundial, Dara O´Rourke esteve envolvido, em 1996, em um dos casos mais emblemáticos de agressão a direitos trabalhistas elementares.
Ao revelar, em artigo publicado no New York Times, as péssimas condições das fábricas da Nike no Vietnã, ele foi um dos primeiros especialistas a criticar a desfaçatez da maior fabricante mundial de artigos esportivos. No mesmo ano, a companhia seria denunciada por uso de trabalho infantil no Camboja e no Paquistão, abrindo a picada para a expansão do movimento de responsabilidade social empresarial em todo o mundo. Esses episódios –como se sabe – levaram a empresa a rever profundamente suas práticas, adotando um novo modelo de gestão que a transformou hoje em ícone de processos e produtos sustentáveis.
O histórico de militância explica por que, 11 anos mais tarde, O´Rourke viria a criar o GoodGuide Inc, uma organização sem fins lucrativos cujo lema é transparência radical na relação entre quem fabrica produtos e quem os compra.
Professor do Departamento de Ciência, Política e Gestão Ambiental da Universidade da Califórnia em Berkeley e, à época, atuando junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e ao Banco Mundial, Dara O´Rourke esteve envolvido, em 1996, em um dos casos mais emblemáticos de agressão a direitos trabalhistas elementares.
Ao revelar, em artigo publicado no New York Times, as péssimas condições das fábricas da Nike no Vietnã, ele foi um dos primeiros especialistas a criticar a desfaçatez da maior fabricante mundial de artigos esportivos. No mesmo ano, a companhia seria denunciada por uso de trabalho infantil no Camboja e no Paquistão, abrindo a picada para a expansão do movimento de responsabilidade social empresarial em todo o mundo.
Esses episódios –como se sabe – levaram a empresa a rever profundamente suas práticas, adotando um novo modelo de gestão que a transformou hoje em ícone de processos e produtos sustentáveis.
O histórico de militância explica por que, 11 anos mais tarde, O´Rourke viria a criar o GoodGuide Inc, uma organização sem fins lucrativos cujo lema é transparência radical na relação entre quem fabrica produtos e quem os compra.
Tudo começou, na verdade, a partir de um insight que o professor teve quando passava protetor solar na filha de cinco anos. “Olhei a embalagem do produto e descobri que conhecia muito pouco sobre os ingredientes.” Para saber mais, carregou consigo o item para o laboratório de pesquisa da Universidade de Berkeley – onde leciona – e descobriu que ele continha uma substância química que poderia causar câncer.
O alívio da descoberta somado à vontade de partilhar com outros milhares de pais o poder de escolha que ela gerava o inspiraram a investir tempo e energia na construção de uma ferramenta capaz de revelar os dados ocultos dos produtos. Estimulou-o a idéia de tornar mais fácil o acesso a informações valorativas para assim ajudar o consumidor a escolha com maior consciência. Afinal, dados sobre, por exemplo, tipo e quantidade de substâncias potencialmente nocivas á saúde, o modo como o produto foi fabricado, o quanto emitiu de carbono no processo de produção e os compromissos socioambientais da empresa que o produziu não costumam aparecer nos rótulos.
O sistema do GoodGuide utiliza diversos bancos de dados de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) antes manipulados apenas por acadêmicos e profissionais da indústria. Como o consumidor não dispõe de tempo nem de interesse por acessar uma enorme quantidade de dados brutos, a ferramenta organiza informações de 75.000 produtos e os classifica com notas 0 a 10 baseando-se na ACV. A avaliação conta com 600 critérios.
Além disso, um aplicativo de iPhone permite aos usuários do site GoodGuide identificar rapidamente a classificação de um produto segundo impactos socioambientais e para a saúde apenas digitando seu nome no visor do aparelho. Em uma próxima versão do aplicativo, será possível ainda escanear os códigos de barra para conferir classificações que consideram o histórico de um produto desde as etapas iniciais de sua fabricação.
A repórter Cristina Tavelin conversou com O´Rourke para saber mais sobre essa ferramenta e a sua influência na transição para uma nova era de consumo consciente.
Ideia Socioambiental- Quando você iniciou os estudos sobre Análises de Ciclo de Vida e por que decidiu torná-los públicos por meio de uma plataforma online como o GoodGuide?
Dara O´Rourke- Em 2007, fundei o GoodGuide para ter informação vital sobre os impactos dos produtos e companhias que até então não eram conhecidas pelo público. Como acadêmico, trabalhei em questões de cadeia de suprimentos e ciclo de vida por muitos anos. Mas com a proliferação das campanhas de marketing verde frequentemente ilusórias e o aumento de consumidores confusos sobre o que comprar, o time do GoodGuide deu início à construção de uma ferramenta para ajudar as pessoas a tomarem decisões melhores e mais fundamentadas.
IS- Como ferramentas de tecnologia da informação e as redes sociais podem ajudar cidadãos a tomarem decisões mais conscientes?
O´Rourke- A tecnologia vem sendo usada como nunca antes para ajudar as pessoas a acessarem informações no momento que mais necessitam. Antes, você precisaria de um PhD e de muito tempo para o tipo de pesquisa requisitada para determinar contêm, de fato, os produtos nas prateleiras das lojas, e como suas compras impactam sua família, o ambiente ou a sociedade. Com novos aplicativos como a versão do GoodGuide para o iPhone, pode-se andar entre os corredores de uma loja, escanear o código de barra de um produto e descobrir o que se quer saber sobre o item para tomar a decisão mais alinhada às suas necessidades e valores. Além disso, é possível compartilhar instantaneamente essa informação com seus amigos e família para também ajudá-los a tomarem melhores decisões.
IS- Que tendências você vê na relação entre consumidores e empresas com o desenvolvimento de novos aparelhos móveis, TI e redes sociais?
O´Rourke- Aparelhos móveis, redes sociais e novas tecnologias permitem que consumidores e empresas se comuniquem melhor. Há um feedback inerente às redes sociais. Cada vez mais companhias estão aptas a ouvir seus clientes por meio de um diálogo online direto. As empresas também podem observar o comportamento em tempo real dos consumidores para entender melhor suas preferências e necessidades. Em troca, os clientes podem estimular empresas responsáveis na entrega de produtos melhores, na medida em que as companhias se adaptam e mudam de acordo com os pedidos e feedback dos consumidores. Ferramentas móveis e da Web, como o GoodGuide tornam consumidores e empresas mais próximos, aumentado a transparência no mercado.
IS- Como foi a recepção do GoodGuide entre os consumidores? Existem dados sobre isso?
O´Rourke- Temos mais de 3 milhões de usuários desde que o lançamos o site, há pouco mais de um ano. A recepção em redes sociais como o Facebook e o Twitter têm sido predominantemente positivas, e recebemos pedidos frequentes de usuários para a avaliação de novos produtos e de empresas para pesquisa.
IS- Vocês planejam ampliar a plataforma? Quais são os próximos passos do GoodGuide?
O´Rourke- O GoodGuide continuará a atender as necessidades e pedidos dos nossos usuários, adicionando mais personalização ao website e ao aplicativo do iPhone e mais categorias de produtos com informações sobre milhares de itens e companhias.
IS- Você acredita que o Good Guide pode fazer com que os consumidores dêem mais atenção ao tema sustentabilidade?
O´Rourke- Sim. O GoodGuide ajuda os consumidores a obterem informações sobre a sustentabilidade no momento de suas compras, algo difícil de se encontrar em qualquer outro lugar. Por meio da análise de um amplo conjunto de dados sobre a performance ambiental e social dos produtos, esperamos fomentar mais acesso e entendimento de questões socioambientais.
IS- Há algum caso específico da descoberta de substâncias nocivas em produto que você gostaria de mencionar?
O´Rourke- A primeira descoberta que fiz foi há alguns anos quando passava protetor solar na minha filha de cinco anos. Ao olhar atrás do produto para identificar o que exatamente estava passando no rosto da minha filha, verifiquei que conhecia muito pouco sobre os ingredientes. Então o levei para o laboratório de pesquisa da UC Berkeley, onde sou professor, e descobri que aquele protetor solar continha uma substância química que, quando ativada pela luz do sol, pode gerar um efeito cancerígeno. Foi essa experiência que me levou a criar o GoodGuide e descobrir o que mais existe nos produtos que compramos.
IS- Como foi a reação das empresas a esse guia de produtos sustentáveis? Existem casos de companhias que estão aprimorando seus produtos após terem ocupado uma posição desfavorável no ranking do GoodGuide?
O´Rourke- As empresas estão muito interessadas em quantificar os impactos de seus produtos. Muitas já perceberam a importância da necessidade de revelar ao público mais informações sobre seus ingredientes e processos de produção. Estamos impressionados com o grau de comprometimento de muitas das companhias avaliadas. Preocupadas em compreender suas classificações, elas fornecem os dados que faltam e aplicam nossa avaliação para aprender mais sobre seus produtos e processos de manufatura. Temos conversado com diversos fabricantes e varejistas sobre como eles podem fazer mudanças que beneficiarão a saúde dos consumidores e a sustentabilidade.
IS- Como é feita a seleção e a avaliação dos produtos listados?
O´Rourke- Escolhemos produtos para classificar com base na divisão de mercado de uma categoria de produto e em resposta aos pedidos dos nossos usuários. Os produtos são avaliados em relação a centenas de critérios sociais ambientais e de saúde, por meio de uma rigorosa análise do nosso time de cientistas, que calcula uma classificação para auxiliar os consumidores nas suas decisões de compra.
IS- A maioria dos consumidores tem preferido as pesquisas detalhadas ou listas simples dos “10 mais”, de acordo com o retorno que vocês têm?
O´Rourke- A maioria das pessoas quer informação rápida e concisa para ajudar na tomada de decisão. As listas e sugestões que mandamos aos nossos usuários por e-mails possibilitam essa agilidade. Sabemos que as pessoas têm muitas atividades e responsabilidades, então fazemos o esforço de tornar a informação facilmente acessível e compreensível. Indivíduos com mais interesse e tempo podem se aprofundar nas classificações para aprender mais.
IS- Quais são os maiores desafios para o aprimoramento do GoodGuide?
O´Rourke- Nosso maior desafio é a extensão da informação que queremos fornecer aos consumidores. Já classificamos mais de 65.000 produtos, e nosso desejo é continuar a promover muito mais informação. Obter e organizar essa informação dá muito trabalho!
IS- A comunicação dos dados é a grande questão para a compreensão do consumidor de produtos sustentáveis?
O´Rourke- Tentamos revelar os dados da maneira mais compreensível possível para qualquer um que visitar o GoodGuide. Um indivíduo não deveria ter que ser cientista para entender o impacto das suas compras. Nosso objetivo é apresentar informação complexa de uma maneira útil.
IS- As companhias revelam todos os componentes de seus produtos na maioria dos casos?
O´Rourke- Muitas empresas não revelam informações importantes sobre seus produtos. É comum que certos ingredientes, país de origem e outros detalhes sobre produção sejam mantidos em segredo. A regulação governamental deve proteger os consumidores em questões de segurança, mas temos visto um grande número de recalls e escândalos sobre a segurança dos produtos nos últimos anos. Quanto mais transparente uma empresa for em relação a seus produtos, mais o consumidor será capaz de tomar decisões de compra com base em uma série completa de fatos.
IS- Há algum setor mais crítico em termos de sustentabilidade?
O´Rourke- Cada setor tem questões de sustentabilidade diferentes. Geralmente pequenas compras – como produtos alimentícios – podem ter grandes impactos ambientais na cadeia de suprimentos.
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