Entrevista Ricardo Young 2024

outubro de 2024

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Entrevista Ricardo Young 2024 - Ideia Sustentável

Pioneirismo em defesa da vida e da sustentabilidade

Ricardo Young destaca-se por sua atuação pioneira em defesa da sustentabilidade e da cidadania empresarial. Ao longo de três décadas, ele esteve à frente de movimentos e organizações que ajudaram a transformar a responsabilidade social no Brasil, sempre buscando formas inovadoras de alinhar desenvolvimento econômico com o respeito ao meio ambiente e à vida humana.

 

Empresário de sucesso e um ativista incansável na busca por conhecimentos e transformação no modo de vida predatório de comunidades e empresas, Ricardo Young esteve em todos os mais importantes movimentos pela responsabilidade social e empresarial no Brasil nos últimos 30 anos, ou talvez mais. Formado em administração pública, aos 26 anos assumiu os negócios de sua família, o Sistema Yázigi de educação em idiomas. Após a venda da empresa para um grupo norte-americano, tornou-se um militante da sustentabilidade e, entre muitas atividades, assumiu a presidência do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, organização responsável por trazer para o Brasil uma enorme variedade de líderes mundiais em sustentabilidade. Em 2012, Ricardo Young foi eleito vereador na cidade de São Paulo e, depois de um mandato, decidiu não voltar a se candidatar, para retomar a atividade de militância socioambiental e acadêmica.

Na entrevista, Ricardo compartilhou reflexões sobre as mudanças no conceito de cidadania empresarial e a importância de uma abordagem mais humana e colaborativa para enfrentar os desafios globais.

 

Ideia Sustentável: O que aconteceu com o conceito de cidadania empresarial no decorrer do tempo? Sabemos que o conceito de ESG não surgiu recentemente, ele já tem uma história. Mas agora está em alta. O que mudou ao longo desse caminho? Como você enxerga essa transição por suas diversas etapas até chegarmos ao cenário atual?

Ricardo Young: A grande diferença é que o mundo era menos pluridimensional. Nossa visão era menos ampla, e a questão da democracia estava se consolidando. Já havíamos passado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, com suas alegrias e dores, especialmente na década de 1990. Essa década foi crucial para que as empresas despertassem para a necessidade de profissionalização e de tornarem-se menos dependentes do Estado. Foi um período importante de amadurecimento nas relações empresariais. No entanto, naquela época, o mundo ainda era mais “preto e branco”, não havia mais de 150 tons de cinza. Talvez houvesse apenas três ou quatro tons de cinza. Nossa visão, naquele momento, era um tanto ingênua, baseada na crença de que uma sociedade melhor criaria um ambiente mais favorável para as empresas operarem.

O ESG começa a ganhar força a partir de 2016 e 2017, após o Acordo de Paris, já num contexto pós-crise econômica. Com a pandemia, todas as fraquezas e complexidades do sistema ficaram evidentes, mas também surgiu uma grande oportunidade de colaboração global para resolver problemas urgentes, como a corrida pela vacina. A pandemia trouxe um choque político, com repercussões em diversos países.

Resumindo tudo isso, o modelo capitalista tradicional, especialmente o industrial, está fadado ao declínio. A civilização ainda não encontrou um modelo de desenvolvimento econômico que traga benefícios e qualidade de vida para todos. Pior ainda, comprometeu o próprio planeta, nossa casa comum. O capitalismo não apenas falhou em oferecer a prosperidade que prometia, como também comprometeu a possibilidade de alcançá-la. Este é o momento de consciência em que vivemos hoje.

 

IS: Eu concordo com você do ponto de vista da produção e da oferta de bem-estar: vamos precisar mudar tudo. Mas onde entra a questão da desigualdade nessa equação?

RY: Existe uma abordagem sobre a desigualdade que compara os que têm mais com os que têm menos. A ideia intuitiva seria que todos deveriam alcançar o nível de consumo da minoria que tem mais, mas isso é um equívoco. Sociedades com uma distribuição mais igualitária, mesmo com pequenas diferenças, tendem a ter uma melhor qualidade de vida.

Um desses mecanismos, discutido em outros países, é o salário-mínimo universal, que ajudaria a diminuir a desigualdade. Outro mecanismo é a educação, promovendo uma revolução semelhante à coreana ou taiwanesa, em que a educação capacita as pessoas a lidarem com oportunidades de forma crítica e adaptada às suas realidades. Isso impulsionaria uma economia focada no desafio de regenerar nossa sociedade.

 

IS: O que você acha que teria sido do mundo se essas questões não tivessem sido levantadas e discutidas desde então? Como estaríamos hoje?

RY: Eu vou responder com um conto de um dos maiores autores de ficção científica de todos os tempos, Ray Bradbury, que descreve a preparação de astronautas para uma viagem ao passado. Durante essa preparação, a organização faz uma recomendação radical: eles não deveriam tocar em nada na natureza enquanto estivessem no passado.

No entanto, um dos astronautas vê uma borboleta azul, cintilante, cheia de vida, e não resiste à tentação de capturá-la. Os colegas imediatamente o repreendem, dizendo que ele não poderia ter feito isso. Ele minimiza o impacto, dizendo que não faria diferença. No entanto, quando retornam à estação espacial, começam a perceber que tudo está diferente, mais sombrio, menos vibrante, sem vida.

Da mesma forma, se, em 2006, 2007 ou 2009, tivéssemos adotado as premissas que nos foram apresentadas, acredito que não estaríamos vivenciando a ascensão da direita e o fortalecimento do fundamentalismo no mundo, que se alimenta do medo. Somos uma civilização tomada pelo medo: medo da extinção, medo de não ter o mesmo sucesso que nossos pais.

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