Defesa de florestas na COP-16

Defesa de florestas na COP-16

Defesa de florestas na COP-16
Brasil pode sair beneficiado com recursos de países desenvolvidos para preservar florestas
Com a realização da Conferência das Partes da Convenção da Organização das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP-16), iniciada no dia 29, em Cancún (México), aumenta a importância da discussão que envolve as mudanças climáticas e a preservação das florestas. Apesar do ceticismo de alguns líderes globais em relação aos avanços nesta edição do evento, segundo especialistas, para o Brasil – que detém a maior floresta tropical do Planeta -, interessa que avance a discussão sobre a redução de emissões por desmatamento e degradação (o chamado REDD). Esse sistema permitirá que países ricos compensem suas emissões de gases-estufa pagando às nações em desenvolvimento para que conservem suas matas.
Em 2009, na COP-15, realizada em Copenhague (Dinamarca), o Brasil apresentou metas ousadas para o corte na emissão de gases do efeito estufa – entre 36% e 39% -, além da redução de 80% no desmatamento da Amazônia até 2020. O País tem hoje 290 milhões de hectares de florestas públicas cadastradas pelo Serviço Florestal Brasileiro. A atualização de 2010 do Cadastro Nacional de Florestas Públicas (CNFP) mostra que houve aumento de 21% em relação aos números do ano passado. Os números, no entanto, não significam criação de novas florestas públicas e sim que o Brasil começa a conhecer, pelo cadastramento, quais são e onde estão suas florestas.
Em regiões como a Amazônia, a maior extensão de mata tropical do Planeta e onde se concentram as maiores áreas de floresta pública, a vegetação tem papel preponderante na imensa produção de vapor d´água e, portanto, no ciclo hidrológico da Terra. Só isto já torna o Brasil um importante ator para o equilíbrio climático e para a mitigação do aquecimento global.
Para o diretor-geral do Serviço Florestal, Antônio Carlos Hummel, a proteção e o uso sustentável das florestas públicas são medidas importantíssimas para reduzir o desmatamento, evitar a produção ilegal de madeira e emissões de carbono. “Mas é preciso, ainda, nos apropriarmos das florestas públicas não destinadas, dando-lhes uso definido e segurança para permanecerem floresta e tê-las como aliadas na mitigação das mudanças climáticas”, afirma.
Expectativas modestas
A COP-15 foi marcada pelo “fracasso de Copenhague”: os países não conseguiram chegar a um consenso em metas de diminuição dos gases do efeito estufa. Para a COP-16, as expectativas são mais modestas. No entanto, espera-se, pelo menos, uma definição sobre uma questão relevante: a adaptação às mudanças climáticas – e de onde virão os recursos para isso. “Em Cancún, os governos podem alcançar um acordo para lançar ações de adaptação, transferência de tecnologia, desmatamento e financiamento climático”, afirmou a secretária-executiva da Convenção, Christiana Figueres.
A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, deixou claro que o País vai fazer pressão pelo estabelecimento de metas. Mas, tanto governo, quanto ambientalistas sabem que um acordo neste tema está longe no momento. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em mais um de seus arroubos antidiplomáticos: “agora, a COP-16, no México, não vai dar nada, não vai nenhuma grande liderança, no máximo os ministros de meio ambiente, então, não vai haver um avanço, uma pactuação”.
Lula afirmou que, independentemente do resultado das conferências sobre o clima, é dever do Brasil cumprir as metas de preservação ambiental. “O importante é que o compromisso que nós assumimos aqui no Brasil nós estamos cumprindo e não precisamos de favor para cumprir, nós vamos cumprir porque é nossa obrigação”, disse o presidente.
Muitos dos representantes de governo que participam da COP-16 acreditam numa possível definição das metas e a prorrogação do Protocolo de Kyoto para a Rio + 20, em 2012, quando vence o prazo do pacto atual. Por enquanto, a tendência é dar continuidade ao acordo fechado em Copenhague, em 2009.
Nordeste x aquecimento
As discussões da COP 16 parecem distantes da realidade de milhares de nordestinos, mas não são. As populações das regiões Norte e Nordeste serão as mais afetadas nas próximas décadas, se houver agravamento das condições climáticas no Brasil, o que pode aprofundar as atuais desigualdades regionais e de renda. O diagnóstico consta de um estudo elaborado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), feito com a participação de especialistas.
As mudanças climáticas poderão elevar a temperatura no Norte e Nordeste em até 8 graus Célsius (ºC), em 2100, como consequência do desmatamento da Floresta Amazônica. Na agricultura, agravaria os problemas com culturas de subsistências no Nordeste.
Desmatamento
80% é a meta de redução no desmatamento da Amazônia até 2020, firmada pelo Brasil em Copenhague, durante a COP 15. O acordo prevê ainda redução de gases do efeito estufa entre 36% e 39%.
A opinião do especialista
Já estamos sentindo
A existência do aquecimento global e o papel humano estão cada vez mais evidentes, mesmo com toda a cortina de fumaça lançada pelo lobby das indústrias petroquímica e automobilística. A indústria do tabaco, para quem não lembra, tentou fazer o mesmo nos anos 70 a 80, lançando dúvidas na cabeça das pessoas se existia mesmo relação entre cigarro e câncer. O ano de 2010, por exemplo, tinha tudo para ser um ano mais frio do que a média, em termos globais. O El Niño desaparecendo, dando lugar à La Niña e suas águas frias, deveria contribuir para resfriar o Planeta.
Outro fator a ser levado em conta é que a atividade solar está longe de estar em um ano de pico. Fatores naturais jogando a favor de um resfriamento à parte, o que se observa é que 2010 está empatado tecnicamente com 2005 e 1998 (ano do maior El Niño que já se registrou) como o ano mais quente em pelo menos um século e meio! São 0,6 graus acima da média do século XX, com eventos extremos, como a seca da Amazônia, as enchentes no Paquistão e a onda de calor aterrorizante na Rússia, todas acontecendo ao mesmo tempo.
Gostamos muito de decantar nosso Ceará “de serra, mar e sertão”, como bem pontua uma bela música de Arlindo e Mário, do nosso Quinteto Agreste. Mas é preciso lembrar que a biodiversidade da mata de nossas serras pode ficar seriamente ameaçada com o aumento da temperatura; que nossas belas praias e cidades costeiras – Fortaleza, inclusive – podem sentir cada vez mais os impactos da elevação do nível dos oceanos; e que nosso sertão pode ficar mais seco com a tendência de maior evaporação e evapotranspiração num mundo mais quente.
Estes foram temas abordados na ICID+18, realizada em nossa Capital. Mas ainda estamos longe de realmente atingirmos e sensibilizarmos sociedade e governantes cearenses. Daí esperar que, no futuro, falemos de um ano que termine com uma conscientização ampla dos cearenses sobre as questões climática e ambiental.
Alexandre A. Costa
Prof. do Mestrado em C. Fís. Aplicadas da Uece
SAMIRA DE CASTRO
REPÓRTER
Matéria pubicada em: 8/12/2010
Veículo: Jornal do Nordeste

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