Crescimento econômico ameaça o que resta dos manguezais no Brasil

Crescimento econômico ameaça o que resta dos manguezais no Brasil

Os manguezais são hoje um dos tipos de ecossistemas mais ameaçados de degradação no Brasil e podem ficar limitados a pequenos fragmentos no litoral brasileiro. A informação é de Yara Schaeffer Novelli, doutora em Ciências na área de Zoologia pela Universidade de São Paulo e livre-docente em Oceanografia Biológica pela mesma instituição.

Ela abordará o tema no final de setembro, em Curitiba (PR), durante palestra sobre conservação de ecossistemas globais, proferida no Workshop de Conservação da Biodiversidade, promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. De acordo com a pesquisadora, a grande ameaça aos manguezais é o crescimento econômico desordenado, a qualquer custo.

“As pessoas ainda têm a cultura de achar que os mangues são áreas passíveis de construção e exploração, não necessitando de conservação”, ressalta Yara, que há mais de 30 anos se dedica aos estudos dos manguezais com foco em sua conservação.

O Brasil é o terceiro país com maior cobertura de manguezais, que ocupam cerca de 9% de seu litoral, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Esses ecossistemas ocorrem de modo fragmentado ao longo dafaixa litorânea brasileira, com exceção do litoral do Rio Grande do Sul. A maior extensão de área contínua de manguezal está situada no litoral dos estados Pará e Maranhão. “Trata-se da maior extensão contínua de manguezal do mundo”, informa Yara.

Legislação e conservação

Para a especialista, recentes alterações na legislação brasileira têm contribuído para a ameaça aos manguezais do país, como anova lei que dispõe sobre a vegetação nativa (Lei Federal 12.651/2012) – também conhecida como a lei que alterou o ‘Código Florestal’). Segundo Yara, a nova lei não considera maisos apicuns, feição exclusiva do ecossistema manguezal, como Áreas de Preservação Permanentes (APPs), possibilitando que eles sejam ocupados por empreendimentos de carcinocultura (criação de camarão marinho em cativeiro) e salinas.

A parte de maior vulnerabilidade nesse ecossistema, segundo Yara, é exatamente aquela conhecida por ‘apicum’ ou ‘salgado’, que são áreas banhadas pelas marés cheias e com grande acúmulo de sal no solo. Os ‘salgados’ são comuns no Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, sendo muito usados para a instalação de tanques para a criação de camarão. “Os ’apicuns’ são ricos em nutrientes para várias espécies de fauna e flora, incluindo os caranguejos, que escolhem essas áreas para fases do seu desenvolvimento. Destruí-los compromete todo o manguezal e as regiões costeiras”, explica.

Para tentar modificar essa situação, agravada pela sanção da nova lei, foram impetradas ações de inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de que o manguezal, em toda a sua extensão, volte a ser tratado comoAPP. “Sobreviver às ameaças não deve ser a solução. Devemos desejar que os ecossistemas sejam mantidos dentro de um padrão de equilíbrio, pois somente assim seguirão ofertando as funções e os serviços ambientais dos quais somos dependentes”, alerta Yara.

A importância dos mangues

Sem o mesmo apelo das florestas tropicais, os manguezais são um dos mais importantes ecossistemas do planeta, sendo responsáveis por fazer a integração entre o mar e o continente. Para garantir seu pleno desenvolvimento, eles necessitam de muito sol, chuva e a presença das águas salgadas das marés.

Os manguezais são ambientes ricos em nutrientes e proteínas porque seu sedimento, formado por lama e lodo, é composto basicamente por matéria orgânica (restos de folha, galhos e animais em decomposição). Por conta dessa composição, tornam-se fonte de alimentos para cerca de 80% das espécies marinhas que se reproduzem nessas áreas, como crustáceos, moluscos e também para espécies de aves, peixes e até mesmo mamíferos, como o guaxinim.

Além disso, esses ecossistemas atuam, de maneira natural, como barreiras de proteção da costa litorânea e de estuários, protegendo essas áreas da erosão. Eles também servem de refúgio para aves migratórias, sobretudo os mangues do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, que costumam receber aves do Hemisfério Norte, como do Canadá e Estados Unidos.

Sobre a Fundação Grupo Boticário

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.375 projetos de 472 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis.

Mais informações:

[email protected] | (41) 3254-6077 | (41) 9235-3107

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