Como criar um ambiente de trabalho respeitoso para pessoas trans

Como criar um ambiente de trabalho respeitoso para pessoas trans

A importância da diversidade e inclusão no mercado de trabalho é um dos principais assuntos nas discussões sobre sustentabilidade empresarial, e ter um ambiente diverso já é exigência de muitos investidores. Recentemente, o banco Goldman Sachs, uma das principais empresas globais de gestão de valores e investimentos, declarou que só apoiará empresas com diversidade na diretoria do conselho, por exemplo, e vários índices de diversidade têm sido divulgados para o mercado financeiro, como o Bloomberg Gender-Equality Index (GEI).

De fato, investir na diversidade gera inúmeros benefícios para a empresa e seus negócios. Companhias mais diversas são mais lucrativas, competitivas, criativas e inovadoras. Além disso, seus funcionários são mais colaborativos e engajados, há maior senso de pertencimento e maior atração e retenção de talentos.

Saiba mais: 5 benefícios da diversidade para as empresas

A situação das pessoas trans no mercado

Apesar de todas as vantagens da diversidade e das oportunidades de investimento que ela representa, ainda há resistências nas empresas e de suas lideranças em contratar pessoas transgênero. Uma das desculpas mais comuns dos gestores, conforme aponta Maite Schneider, cofundadora do TransEmpregos, em sua palestra na Plataforma Liderança com Valores, é a visão estereotipada de que pessoas transgênero são vulgares e indecentes, por ter uma grande parcela de sua população na prostituição. Entretanto, de acordo com a própria fala de Maite, muitos desses indivíduos recorrem à prostituição pela falta de oportunidades. “Temos prostitutas com mestrado, doutorado e até trilíngues”, exclama.

Ou seja, há muitos profissionais transexuais capacitados, que por discriminação e vieses inconscientes dos gestores, não são contratados. Outros, ao assumir a transexualidade, não são aceitos por seus familiares e são expulsos de casa, além de sofrerem bullying na escola, o que dificulta a conclusão do ensino. Para essas pessoas na condição de vulnerabilidade, somando-se a situação de discriminação, a conquista de um emprego é praticamente inalcançável.

O TransEmpregos surgiu como uma ferramenta para incluir pessoas trans no mercado de trabalho. É um grande banco de dados de currículos de profissionais transgênero e plataforma de anúncio de vagas inclusivas a esses profissionais. “Não buscamos vagas exclusivas para pessoas trans, mas inclusivas, e que estas pessoas pudessem ser analisadas pelo RH das empresas sem sofrer preconceitos e discriminações neste processo só por conta de sua identidade de gênero”, explica o site da empresa.

Com o tempo, no entanto, as gestoras do TransEmpregos perceberam que apenas essa ação não era suficiente, pois havia baixa retenção desses talentos. Nas empresas, por mais que se contratassem profissionais transgêneros, o ambiente não era acolhedor e respeitoso. Portanto, elas passaram a capacitar os gestores e funcionários para construírem um ambiente de trabalho mais humano e inclusivo.

​Maite Schneider: Experiências pessoais como motivação para mudar o mercado

Assista abaixo, na íntegra, a vídeo-palestra de Maite Schneider na Plataforma Liderança com Valores:

6 passos para criar um ambiente inclusivo para pessoas trans

A consultoria Ideia Sustentável realiza treinamentos específicos para criar uma cultura empresarial inclusiva, além de ajudar companhias no desenvolvimento de uma política de diversidade e inclusão. Confira o Guia Diversidade para Empresas & Boas Práticas.

Não basta contratar profissionais trans e não promover um ambiente preparado para acolhê-los e respeitá-los. Por isso, separamos algumas dicas bastante básicas, porém importantes, para melhor receber esses profissionais.

  • 1. Sempre utilize o nome pelo qual a pessoa quer ser chamada: mesmo que não seja o nome de registro da pessoa, aquele utilizado nos documentos oficiais, é importante que o profissional seja tratado por seu nome social, aquele que representa a sua identidade como pessoa. Na dúvida, pergunte por qual o nome e gênero a pessoa prefere ser tratada. Inclusive é esse o nome que deve constar em seu crachá, holerite, cartão de ponto e demais documentos que envolvam relacionamento com o público.
  • 2. Não pergunte sobre procedimentos cirúrgicos ou estéticos. Esses procedimentos interessam apenas à própria pessoa que os realiza, e é muito deselegante e invasivo fazer perguntas do tipo. Se uma pessoa trans passou ou não por algum procedimento estético ou cirúrgico, não irá interferir em sua capacidade profissional.
  • 3. Ouvir sempre faz bem. Dê espaço e oportunidade para que a pessoa trans fale sobre como está se sentindo no ambiente de trabalho e o que é preciso melhorar. Também é importante criar um canal de comunicação seguro para essas pessoas relatarem, por exemplo, abusos sofridos de seus colegas.
  • 4. Banheiros devem ser inclusivos. Pode até não parecer, mas utilizar o banheiro e vestiário do gênero com o qual se identifica é muito importante. Muitas pessoas trans são obrigadas a utilizar o banheiro exclusivo para o gênero que lhe foi imposto ao nascer, e isso é humilhante para o profissional. Há, inclusive, muitos casos de violências cometidas contra essas pessoas nos banheiros da empresa onde trabalham.
  • 5. Reconheça o desempenho do profissional. Não adianta contratar uma pessoa transgênero sem a intenção de vê-la crescer na empresa, apenas para dizer que a corporação abraçou a diversidade. Se um profissional tem se destacado em suas funções, nada mais natural que promovê-lo, certo? Porém não é o que acontece com muitos profissionais trans, que permanecem sempre na mesma função, independente do seu desempenho. Eles também precisam chegar aos cargos de liderança.
  • 6. Treine toda a equipe. Todos os funcionários e colaboradores da empresa precisam conhecer a política de diversidade da empresa e como se relacionar de forma respeitosa com todas as pessoas. Essas regras citadas aqui são básicas, mas muitos não as conhece. Transmiti-las já é um passo. Convide pessoas engajadas e com propriedade para falar sobre diversidade para oferecer treinamentos para toda a empresa. E lembre-se: a transformação da cultura corporativa para um modelo mais inclusivo não ocorre de uma hora para outra, é preciso construí-la.

O TransEmprego criou uma cartilha para profissionais de Recursos Humanos com bastante informações e orientações para recrutar, selecionar e contratar pessoas trans. Vale a leitura.

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