Artigos – Diversidade e sustentabilidade

Artigos – Diversidade e sustentabilidade

A valorização da diversidade é um tema que nos faz saltar do século XIX ao século XXI na gestão das organizações. Essa afirmação pode parecer arrogante, mas se confirma ao analisarmos os dados das empresas, por exemplo, quando recortamos a demografia interna por gênero, raça, deficiência, idade, entre outros aspectos.
Os dados demonstram uma grande dificuldade de reconhecer qualidade em quem é diferente e a diferença como uma qualidade que adiciona valor às pessoas, às organizações e à sociedade.
Esse preconceito também se reflete no relacionamento com clientes. Há profissionais que ainda se chocam diante de um casal homossexual que solicita algum produto ou serviço divulgado como “para todos” pelas empresas. Muitos negros são barrados ou desvalorizados na hora da compra e pessoas com deficiência nem sequer conseguem entrar em muitas empresas, mesmo que tenham tanta condição de pagar quanto qualquer outro cliente.
A boa notícia, pelo menos no meu modo de ver, é que o tema da diversidade humana vem ganhando importância no Brasil. Já há entre os cidadãos abertura para rever conceitos e preconceitos, ampliando o leque de possibilidades para lidar com uma sociedade plural. Ao tratar do assunto, as pessoas colocam sobre a mesa seus medos, crenças herdadas e assimiladas sem crítica alguma e começam o gostoso processo de superar limites colocados por uma gestão da própria vida levada por um “piloto automático” em vários campos fundamentais da nossa existência.
A valorização da diversidade deve estar diretamente vinculada à construção de um negócio sustentável, pois o horizonte da sustentabilidade não será completo se a estratégia não for capaz de integrar a pluralidade de vozes e demandas.
Ao incluir segmentos tradicionalmente excluídos, em situação de vulnerabilidade ou desvantagem na sociedade, podemos gerar impactos positivos na economia, principalmente com políticas voltadas à melhoria das condições no mercado de trabalho.
O momento atual, caracterizado por um profundo e rápido processo de mudança, exige profissionais com diferentes histórias, perspectivas e repertórios que possam interagir criativamente.
A valorização da diversidade deve buscar ainda impactos positivos em várias áreas de atividade da empresa. Além da gestão de pessoas, produtos, serviços, reputação, o voluntariado e o investimento social também podem considerar a diversidade e seus recortes na relação com a comunidade. Se a organização investe em educação, as ações sociais podem considerar, no mínimo, questões de gênero e raça, por exemplo, preocupação que, na maioria das vezes, não está presente nos discursos e nas práticas.
Esse diálogo entre diversidade e investimento social, voluntariado e relações com a comunidade, contribui com a formação de futuros profissionais. Muitas companhias ainda reclamam que é impossível cumprir a chamada Lei de Cotas para pessoas com deficiência porque não há profissionais preparados no mercado. Além de ser uma meia verdade, é questionável, pois essas mesmas empresas nem sempre têm cuidado em considerar esse público em seu investimento social.
A diversidade, portanto, gera aprendizados e impactos positivos na relação da empresa com seus públicos. Tem relação direta com os negócios e ganha maior relevância quando vinculada com a identidade da organização, sua missão, visão e valores. Como se vê, a valorização da diferença é condição básica para construir efetivamente um planeta sustentável, que seja para todos e com a participação de todos.
Reinaldo Bulgarelli é sócio-diretor da Txai Consultoria, especializada em sustentabilidade e responsabilidade social empresarial. É autor do livro “Diversos somos todos”, Editora de Cultura, 2008.

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