Agenda de Davos 2021: capitalismo de stakeholders e métricas de ESG em alta

4 de fevereiro de 2021

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Agenda de Davos 2021: capitalismo de stakeholders e métricas de ESG em alta - Ideia Sustentável
Crédito: Fórum Econômico Mundial/Flickr/Divulgação.

A Agenda de Davos do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) reuniu cerca de 1.700 executivos, líderes da sociedade civil e mídia global e 24 chefes de estado ou de governo, entre os dias 24 e 29 de janeiro deste ano. Foi uma mobilização online pioneira com o objetivo de reconstruir a confiança para moldar os princípios, as políticas e as parcerias necessárias em 2021. No total foram 140 sessões de debates com 600 CEOs de grandes empresas, transmitidas ao vivo, dedicadas a ajudar os líderes a escolher soluções inovadoras para enfrentar os desafios atuais, como o combate à pandemia da Covid-19, a implantação de métricas ESG, a transição para o capitalismo de stakeholders, a criação de empregos de forma mais inclusiva, a mitigação das mudanças climáticas, o fortalecimento da cooperação global, entre outros. A sustentabilidade foi assunto transversal em todos os encontros, considerada como centro das recuperações econômicas no mundo.

O capitalismo de stakeholders em alta
O tom do evento foi o debate sobre o capitalismo de stakeholders, em que as empresas buscam a criação de valor de longo prazo, levando em consideração as necessidades de todas as partes interessadas (empresas, fornecedores, colaboradores, consumidores) e a sociedade em geral. “Precisamos passar de um mundo baseado apenas em objetivos materiais para um mundo muito mais consciente do bem-estar das pessoas”, afirmou Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, durante a abertura do evento. “Estamos testemunhando uma mudança de mentalidade da maximização do lucro de curto prazo para um mundo que é muito mais caracterizado pela responsabilidade de stakeholders”, complementa. Ele ainda afirmou que a pandemia mostrou que as empresas que se comprometeram com o capitalismo de stakeholders tiveram um desempenho muito melhor o ano passado.

Esses grandes debates realizados na Agenda Davos confirmam as conclusões apontadas pelo estudo 11 Tendências de Sustentabilidade Empresarial no “Outro Normal”, produzido por Ideia Sustentável, Plataforma Liderança com Valores e Rede Brasil do Pacto Global. “Essa mudança de uma noção de business unusual para o capitalismo de stakeholders reflete uma grande discussão global em se colocar o propósito à frente do lucro. Temos observado empresas americanas no início de um movimento de declarações de propósito, assinadas por conselhos de administração e apresentadas publicamente como uma espécie de compromisso público para além do lucro. É o grande valor que a empresa pretende gerar para as partes interessadas e para a sociedade”, analisa Ricardo Voltolini, CEO da Ideia Sustentável. Segundo ele, essa tendência já é forte nos Estados Unidos e ganhará força no Brasil nos próximos anos.

Foco nas métricas de ESG
Outro ponto de destaque da Agenda de Davos foi a ascensão do ESG (sigla em inglês referente a questões ambientais, sociais e de governança de empresas). Larry Fink, CEO da BlackRock – a maior gestora do mundo e uma das vozes mais atuantes na defesa do capitalismo de stakeholders – afirmou em um dos painéis do WEF que investidores e empresários devem prestar atenção à agenda ESG se quiserem ter retornos financeiros mais sustentáveis no futuro. Para ele: “cada vez mais, portfólios personalizados estão evoluindo e ajudando na mensuração das ações das empresas”.

Esse assunto também faz parte das 11 tendências de sustentabilidade empresarial e também confirma alguns pontos importantes que foram destacados em um dossiê especial sobre os grandes temas de ESG em 2021, escrito por Voltolini e publicado na revista Época Negócios neste mês.

O tema sobre ESG já vem sendo discutido desde 2019 pela Business Roundtable e pela Ceres – organizações norte-americanas formadas por investidores e empresas de grande porte. No ano passado também foi tema do WEF em janeiro, que resultou na produção de um relatório sobre definição de métricas de ESG, divulgado em setembro.

“A ascensão do ESG, como um conceito agregado a negócios, veio definitivamente para mudar a regra do jogo, conferindo valor, rigor e urgência a um tema de sustentabilidade empresarial, que antes era de métricas não tão rigorosas e, portanto, sem senso de urgência”, conclui Voltolini. E ele faz uma importante previsão: “A gente pode esperar no Brasil um ano de intensas discussões de empresas, que antes tinham apenas algumas práticas pontuais de meio ambiente e social, transformando-as em estratégias de ESG. Empresas transformarão iniciativas em políticas e adotarão métricas mais rigorosas, identificando, até por pressão de investidores, as externalidades com maior risco e procurando equacioná-las e prevení-las”.

Voltolini prevê que haverá também um movimento importante de criação de comitês de sustentabilidade, com membros independentes, para apoiar os conselhos de administração nas tomadas de decisão, políticas de remuneração variável associadas a metas de ESG.

Mitigação das mudanças climáticas e o mercado de carbono
Outra pauta que permeou as várias discussões da Agenda de Davos foi a mitigação das mudanças climáticas. A pandemia da Covid-19 evidenciou a necessidade de considerar as alterações globais do clima como fator decisivo para a definição de ações, políticas públicas e investimentos. “A gente vai ver um crescimento global de mercado de carbono. A partir de agora, o carbono vai ser um custo para a empresa. E descarbonizar será uma forma de valorizar negócios”, prevê Voltolini.

Várias iniciativas focadas no combate ao aquecimento global foram realizadas durante a Agenda de Davos. Os presidentes da COP25 e COP26, da UNFCCC e líderes empresariais se reuniram para anunciar a mobilização de uma ação público-privada sobre mudanças climáticas chamada The Race to Net Zero for COP26. O progresso dessa ação será avaliado no próximo encontro do WEF, que será realizado em Cingapura, nos dias 17 a 22 de agosto.

Outra ação de destaque foi a nova coalizão The Mission Possible Partnership. A iniciativa reuniu mais de 400 empresas para criar caminhos com o objetivo de zerar as emissões de carbono. É baseada no trabalho lançado na Cúpula de Ação Climática da ONU, em 2019, que tem a finalidade de ajudar sete setores da indústria pesada a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.

Voltolini acredita que o crescimento global de medidas de combate às mudanças climáticas ganhará mais força com o novo presidente dos Estados Unidos. “Joe Biden já deu a intenção declarada de querer protagonizar o Acordo de Paris”, tratado mundial, assinado por 195 países, que tem o objetivo de reduzir o aquecimento global.

Diversidade e inclusão racial no trabalho
Mais uma novidade importante! O Fórum Econômico Mundial lançou a iniciativa Partnering for Racial Justice in Business, uma coalizão formada por 54 organizações – que representam 13 setores e 6,5 milhões de funcionários – projetada para operacionalizar e coordenar compromissos para erradicar o racismo em locais de trabalho e definir novos padrões globais para a igualdade racial nos negócios. Haverá uma plataforma para as empresas defenderem coletivamente a mudança inclusiva nas políticas.

Voltolini vê essa iniciativa como um avanço. “Haverá um crescimento, no Brasil, de engajamento de CEOs e conselhos de administração em relação ao tema diversidade e inclusão, especialmente gênero e equidade racial, associadas a estratégias de talentos das companhias. Vale lembrar que esse nunca foi um tema importante nas empresas. Agora, com a pressão dos investidores, e o fato de que ESG pode premiar ou punir negócios, diversidade e inclusão vão ganhar força”, ele diz com olhos de esperança no futuro.

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