Ponto de mutação

20 de outubro de 2009

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“Estamos próximos do ponto crucial”, sentenciou Al Gore, ex-vice-presidente norte-americano, em visita recente ao Brasil a convite da Federação das indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Banco Santander. Segundo ele, é preciso exercer pressão pela mudança até que tenhamos massa crítica suficiente para romper com o business as usual. A ideia remete a tese de Fritjof Capra no livro Ponto de mutação, que inspirou o filme de mesmo nome, cujo um dos personagens é um político, inspirado no “ex-futuro presidente dos Estados Unidos”, como costuma ironizar Gore.
Ainda no campo das coincidências, pelas mãos de outro democrata, os Estados Unidos dão sinais de que a mudança está de fato em curso. Já nos primeiros meses de governo, Barack Obama encaminhou um projeto de lei para estabelecer metas de redução de emissões de carbono, iniciativa sem precedentes naquele País.
Mas não podemos dizer que a América vai bem obrigado, muito menos o mundo, que reproduziu as extravagâncias norte-americanas. Nas palavras de Gore, “vivemos um absurdo econômico, pois calculamos entradas e saídas e ignoramos a poluição que reduz nosso futuro.”
Para ele, chegamos ao atual estágio de desequilíbrio por três razões principais: o aumento da população mundial, que há 100 anos era de 1,6 bilhão e saltou para 6,8 bilhões; o desenvolvimento de novas tecnologias, “um milhão de vezes mais poderosas”, como exemplo, cita a artilharia que foi substituída por armas nucleares; por fim, aponta o pensamento de curto prazo na política, economia, cultura e mídia.
Por outro lado, não é por falta de recursos que essa tendência ainda não foi revertida. Em sua exposição, Al Gore discorreu sobre uma série de vantagens da economia de baixo carbono, como o potencial de geração de empregos das energias renováveis e as possibilidades da área de biotecnologia, sobretudo no Brasil. Ele alertou para a urgência de conservar biomas como a Amazônia, que pelo rico material genético apresentam grandes oportunidades para a indústria farmacêutica e de cosméticos, por exemplo. “Vender a floresta pelo preço da madeira é o mesmo que vender chips pelo preço do silício”, provocou.
Apesar de reconhecer a complexidade das negociações em Copenhague, Al Gore acredita no papel do encontro para a definição da nova trajetória de crescimento. Relembrou as negociações para elaboração do Tratado de Montreal, que estabeleceu as diretrizes para combate ao buraco na camada de ozônio. Segundo ele, o primeiro acordo referente a essa questão apresentou metas pouco ambiciosas. Mas três anos depois expôs um compromisso mais rigoroso. “Copenhague pode ter um papel similar. O importante é iniciar o processo e começar a precificar o carbono”, frisou.
Mesmo diante das dificuldades que a Administração Obama enfrenta por conta da reforma do sistema de saúde, ele acredita que o presidente-norte americano chegará à Conferência do Clima, em dezembro, ao menos com a aprovação da lei de redução de emissões assegurada pelo Congresso e Senado. A efetivação de um compromisso formal de reversão do aquecimento global por aqueles que são hoje os maiores emissões de gases de efeito estufa – na opinião de Al Gore – terá um impacto positivo nas negociações.
Na avaliação ex-vice-presidente dos EUA, o copo está meio cheio. Avançamos na discussão das mudanças climáticas, mas ainda não respondemos ao desafio de rever padrões de consumo e de produção na velocidade que o tema requer. “Temos tudo para obter sucesso nessa empreitada. Só é preciso vontade política, que é um recurso renovável”, ressaltou.
A reflexão do líder político norte-americano reforça uma ideia já bastante difundida, porém, não totalmente aceita. Há um consenso cada vez maior de que a ameaça para a humanidade não está no aquecimento global, em si, mas na resistência às mudanças que, por conta desse fenômeno climático, serão inevitáveis. Diante desse cenário, vale lembrar a tese de Darwin: “Não é a mais forte das espécies que sobrevive nem a mais inteligente, mas sim aquela com maior capacidade de adaptação.”

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