De olho em uma bola mais frágil

10 de junho de 2010

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De olho em uma bola mais frágil - Ideia Sustentável


Bilhões aguardam o pontapé inicial da Copa do mundo da FIFA. O mundo estará atento para ver o país que sairá de campo vitorioso. Ao mesmo tempo, muitos outros prestarão atenção em como a África do Sul responde aos desafios de sediar um grande evento esportivo a partir de uma perspectiva de sustentabilidade.
A África do Sul pode mostrar os dois lados da moeda: a riqueza dos recursos naturais inigualáveis e também uma vasta extensão de problemas sociais em curso, como desigualdade, pobreza, índices de HIV/ AIDS estatisticamente piores, assim como a significativa insegurança em torno de direitos de propriedade e segurança pessoal. Um grande evento esportivo na África do Sul apresenta uma interessante discussão sobre sua relevância para a tripla dimensão do desenvolvimento sustentável.
Eventos esportivos globais focam cada vez mais as questões socioambientais, pois muitas vezes os países que os sediam veem a oportunidade de não só realizá-los com sucesso, mas também promover um conjunto de políticas e compromissos econômicos e sociais. No entanto, a sustentabilidade de tais eventos de alto nível – em relação a aspectos ambientais, segurança, emprego justo de grupos minoritários ou uma infinidade de outras considerações – pode estar sob escrutínio público significativo. A discussão sobre a falta de neve nos Jogos Olímpicos de Inverno em Vancouver (devido a condições climáticas excepcionalmente quentes atribuída por muitos aos efeitos do aquecimento global) e o tumulto considerável em torno da segurança da pista de luge (devido a um acidente fatal) são alguns exemplos. Esse tipo de exposição mundial traz a sustentabilidade para a agenda de patrocinadores, federações desportivas e comitês como uma questão sensível para a marca.
O Comitê Olímpico Internacional foi um precursor nas questões de sustentabilidade, quando começou a incorporar práticas ambientais estruturadas na execução dos Jogos de Inverno de Lillehammer, em 1994. E a cada edição dos jogos vem aumentando o seu padrão de exigência. Mais recentemente, o Comitê Organizador para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver (VANOC) incorporou dimensões de sustentabilidade ao planejamento, execução e monitoramento.

Assim como as cidades que sediam jogos olímpicos, as empresas globais devem aplicarcritérios semelhantes para abordar as questões socioambientais. Não basta falar, é preciso agir enquanto ensina. Em primeiro lugar, a supervisão de uma entidade organizadora é indispensável para assegurar a governabilidade e a coerência em torno da implementação da estratégia de sustentabilidade.

O VANOC comunicou a sua abordagem global para a sustentabilidade em seu site. Assim, assumiu o compromisso de aplicar o conceito ao longo dos setes anos se estendendo por todo o ciclo de vida do megaprojeto. Essas medidas foram alinhadas a sua própria cultura organizacional, uma vez que a importância atribuída às questões socioambientais podem variar significativamente de um lugar para outro.
Comissões organizadoras têm a tarefa de identificar, comunicar e viver os valores que pretendem promover em um evento. Como a cultura é a soma de crenças e valores que afetam os comportamentos dentro das organizações, a chave para uma transição bem sucedida de evento para evento é garantir que todos estejam na mesma “página de valores”.
Em entrevista com executivos do IMD, a cultura é citada como o atributo organizacional mais resistente aà mudanças. Desde que esteja firmemente ancorada, a cultura transcende produtos, serviços, fundadores, dirigentes e todos os outros atributos físicos das organizações. Por isso, torna-se essencial para as empresas que desejam alinhar suas estratégias à sustentabilidade envolver os departamentos de recursos humanos para que recrutem gestores com os valores alinhados a esse conceito. Comitês organizadores de esportes também precisam recrutar o perfil correto de gerente. No entanto, devido à natureza transitória dos eventos e das suas estruturas de organização, ter gestores a bordo com a capacidade de se adaptar e demonstrar resiliência frente à mudança torna-se ainda mais um valor fundamental e por isso, deve ser elemento de uma política de contratação para a equipe responsável pelos jogos e cultura organizacional.
Quais são os outros desafios envolvidos na organização de eventos sustentáveis? Como muitos megaeventos esportivos, a Copa do Mundo terá impactos significativos em termos de emissões de carbono. Estima-se que quase meio milhão de turistas viaje para o evento (no ano passado, a África do Sul atraiu cerca de 10 milhões de turistas durante o ano inteiro). Com tal fluxo ao longo de um período de competição, os resíduos, as conseqüências do consumo de energia e água são significativas. Capacitação e apoio aos objetivos de desenvolvimento socioeconômico podem ser alcançados por meio de planejamento associado ao fornecimento, contratação, formação de competências, criação de emprego e oportunidades de negócios.
O VANOC procurou soluções para esses desafios, buscando oportunidades de voluntariado, cooperação, estágios e intercâmbio de pessoal de outras organizações, da comunidade ou região. O Comitê de Vancouver ofereceu serviços de apoio à equipe para a conclusão dos trabalhos e planejamento de remanejamento de funções nos últimos dois anos do ciclo do projeto para reduzir os impactos potencialmente negativos após o término do evento.
O VANOC considera que foi bem-sucedido pelos seguintes aspectos:
Começou cedo, buscando parcerias e colaboração com as organizações, governo e empresas. Pensar no legado duradouro ajudou a preparar um plano abrangente e compartilhado;
Mexeu com o orgulho e criatividade dos funcionários e voluntários;
Manteve a sustentabilidade como valor corporativo e mediu o desempenho individual de todos no Comitê Organizador. Com uma forte liderança e apoio do conselho de administração e gerência sênior, uma abordagem prática para a gestão dos recursos financeiros habilitou a equipe a assumir compromissos de sustentabilidade de forma inovadora e prática;
O reporte anual de desempenho, seguindo os princípios da Global Reporting Initiative (GRI), e engajamento ajudaram a definir e comunicar o âmbito das responsabilidades em matéria de sustentabilidade – tanto interna quanto externamente. Ao envolver-se regularmente com as partes interessadas e estabelecer relações sólidas, a organização foi capaz de desenvolver uma abordagem adaptativa que permite a sua resposta quando necessário.
Assim como as cidades que sediam jogos olímpicos, as empresas globais devem aplicar critérios semelhantes para abordar as questões socioambientais. Não basta falar, é preciso agir enquanto ensina. Em primeiro lugar, a supervisão de uma entidade organizadora é indispensável para assegurar a governabilidade e a coerência em torno da implementação da estratégia de sustentabilidade.
A entidade organizadora deve dar alta visibilidade aos seus compromissos de sustentabilidade, planos e desempenho real. Essa informação deve estar prontamente disponível para as partes interessadas internas e externas, por meio de ações de comunicação, incluindo websites e outros meios. Estratégias de apoio de baixo impacto ambiental, inclusão social elevado e um forte desenvolvimento econômico podem ser abordadas com consistência por meio de um planejamento integrado e sistemas de gestão, protocolos e padrões. Para melhores resultados, a comunicação corporativa, monitoramento e publicação de relatórios devem ser realizados regularmente para assegurar a transparência e responsabilidade. Tudo isso exige tempo de espera significativa para incorporar a sustentabilidade na estratégia, financeiras e planos do programa. A cooperação pode ser melhorada, buscando o diálogo com entidades e parcerias em vários níveis.
Pesquisas do IMD revelam que os maiores obstáculos para alinhar a estratégia das organizações à sustentabilidade são o pensamento de curto prazo e inflexível, bem como as lacunas de conhecimento sobre como a inovação e os processos de mudança de comportamento também podem contribuir com a identificação de novas oportunidades (e não só os riscos) que a sustentabilidade apresenta. Eventos esportivos globais enfrentam desafios semelhantes. No entanto, esses são aspectos sobre os quais cada organização tem o controle.
Aileen Ionescu-Somers dirige o Centro Para Gestão da Sustentabilidade do IMD
Ann Duffy é a diretora de Sustentabilidade Empresarial do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver (VANOC) [email protected]

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