Lester Brown – No Limite

28 de outubro de 2009

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A elevação global das temperaturas pode trazer inúmeras ameaças ao mundo, incluindo o aumento do nível dos mares e fortes e inusitadas ondas de calor. Maiores temperaturas na superfície da água dos oceanos tropicais também significam mais energia para conduzir tempestades tropicais, podendo acarretar em furacões e tufões ainda mais destrutivos. A combinação entre esses componentes pode ser devastadora.
Enquanto o clima muda, mais eventos extremos de tempo podem ser esperados. Andrew Dlugolecki, consultor de alterações climáticas e seus efeitos nas instituições financeiras, notou que danos gerados pela atmosfera têm aumentado 10% ao ano. “Se esse aumento continuar indefinidamente, em 2065 os danos advindos de tempestades terão excedido o produto bruto mundial. Obviamente o mundo terá vivido sua falência muito antes disso”. Poucos dois dígitos de crescimento anual tendem a continuar por várias décadas, mas o ponto de vista básico de Dlugolecki’s é que alterações climáticas podem ser destrutívas, perturbadoras, e bastante caras.
Se permitirmos que o clima fuja de nosso controle, colocamos em risco grandes custos financeiros. Em relatório publicado no final de 2006, o antigo chefe economista do World Bank Nicholas Stern projetou que no longo prazo os custos das alterações climáticas poderiam exceder 20% do produto interno bruto mundial (GWP). Em comparação, os custos no médio prazo de corte aos gases do efeito estufa para estabilizar o clima, que Stern estima agora para aproximadamente 2% do GWP, poderia ser uma barganha.
Não são pouco os exemplos de que esse processo já está em curso. Em 2005, o mundo assistiu a fúria do Furacão Katrina, que varreu a costa norte-americana próxima da cidade de New Orleans. Em algumas cidades da costa, o poderoso Katrina não deixou nenhuma estrutura de pé. Financeiramente, também foi o furacão mais destrutivo que passou pela Terra. Como resultado dos danos sem precedentes, ações de seguro dobraram, triplicaram e, em algumas situações especialmente vulneráveis, subiram 10 vezes. Esse salto gigantesco nos custos de seguro é similar aos valores do setor imobiliário, afastando as pessoas de estados altamente requisitados como a Flórida.
Antes do Furacão Katrina, o dois maiores eventos em termos de prejuízes totais foram o Furacão Andrew em 1992, que destruiu 60.000 lares e registrou U$S 30 bilhões em perdas; e a inundação chinesa Yangtze River de 1998, que também custou cerca de U$ 30 bilhões ao país, valor comparável à colheita de arroz na China. Parte do dano crescente é devido a um maior desenvolvimento urbano e industrial nas zonas costeiras e ribeirinhas. Mas a outra parte provém de tempestades ainda mais destrutivas.
A devastação causada pelo Katrina não foi um incidente isolado. No outono de 1998, o Hurricane Mitch – uma das mais poderosas tempestades oriundas do Atlântico, com ventos de aproximadamente 200 quilômetros por hora – atingiu a costa leste da América Central. Como as condições atmosféricas no norte estagnaram a progressão da tempestade, cerca de dois metros de chuva foram despejados em Honduras e Nicarágua em questão de dias. O dilúvio desabou casas, fábricas e escolas, deixando apenas ruínas. Destruiu estradas e pontes. Setenta por cento das plantações, e grande parte do solo superficial em Honduras, foi soterrado pela água. A tempestade deixou 11.000 mortos.
Em 2004, Japão viveu a experiência recorde de sobreviver a 10 tufões que coletivamente causaram uma perda de U$S 10 bilhões. Durante a mesma época, a Flórida foi atingida por 4 dos 10 furacões mais dispendiosos da história dos EUA. Estes quatro furacões juntos geraram U$S 22 bilhões em créditos de seguro.
Neste contexto, companhias de seguro e reseguradoras encontraram-se na difícil tarefa de calcular níveis de prêmios desde que o registro histórico tradicionalmente utilizado para calcular taxas de seguro já não é um guia para o futuro. Por exemplo, o número de grandes inundações em torno do mundo tem crescido nas últimas décadas, aumentando para seis grandes desastres deste gênero nos anos 1950 para 26 na década de 1990.
Seguradoras de todo o mundo estão convictas de que com temperaturas mais altas e mais energia para os sistemas de formação de tempestades, as perdas futuras serão ainda maiores. Elas estão preocupadas se a indústria conseguirá se manter sob essas séries de danos crescentes.
Thomas Loster, especialista climático na Munich Re, companhia líder na área de resseguros, afirma que no final das contas, o balanço das catástrofes naturais é agora “dominado pelos desastres relacionados ao clima, muitos deles excepcionalmente extremos. Precisamos frear esses experimentos perigosos para a qual a humanidade está conduzindo a atmosfera terrestre”.
Munich Re publicou uma lista de desastres naturais com U$S 1 bilhão de perdas seguradas ou mais. A primeira aconteceu em 1983, quando o Furacão Alicia assolou os EUA, atingindo U$ 1,5 bilhões em perdas de seguro. Das 58 catástrofes naturais com perdas de U$S 1 bilhão ou mais registradas no final de 2006, três foram sismos, incluindo o devastador sismo relacionado ao tsunami asiático de 2004; os outros 55 foram tempestades provenientes do clima, inundações, furacões, ou incêndios florestais. Durante os anos 1980, houveram três desses eventos; nos anos 1990, foram 26; e entre 2000 e 2006, 26 desastres naturais aconteceram.
No Ocidente, as regiões mais vulneráveis às poderosas tempestades atualmente são a Costa do Atlântico e do Golfo dos EUA e Caribe. No Oriente e Sudeste da Ásia, incluindo China, Japão, Filipinas, Taiwan e Vietnam, que são suscetíveis de suportar o peso das poderosas tempestades vindas do Pacífico. Na baía do Begal, Bangladesh e a costa leste da Índia há vulnerabilidades particulares.
Na Europa ocidental, experimentando tradicionalmente danos pesados provenientes das tempestades de inverno talvez uma vez a cada cem anos, teve prejuízo de U$S 1 bilhão em sua primeira tempestade de inverno em 1987 – uma que causou U$S 3,7 bilhões em destruição, U$S 3,1 dos quais cobertos pelo seguro. Desde então, a Europa ocidental sofreu mais nove tempestades de inverno com perdas de seguro atingindo de U$S 1,3 bi a U$S 5,9 bi.
Adaptado do capítulo 3, “Rising Temperatures and Rising Seas”, em Plan B 3.0: Mobilizing to Save Civilization (New York: W.W.  Norton & Company, 2008), de Lester Brown
Lester Brown é presidente do Earth Policy Institute

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