Investimento social privado

11 de março de 2008

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Há idéias no campo das relações entre empresas, organizações sociais e governos que, de tão boas, deveriam ser consagradas como regra. E, por estranho que pareça, continuam sendo exceções – fato que contraria o bom senso e a inteligência.
É o caso das redes entre organizações que defendem a mesma causa ou atuam em uma mesma área social. Ninguém, em sã consciência, discorda de que, em rede, as ONGs se fortalecem, aprendem umas com as outras, compartilham recursos, reforçam sinergias e, assim, podem realizar com mais eficácia suas missões. São poucos, no entanto, os exemplos de redes sociais efetivas, que ultrapassam as boas intenções acadêmicas e funcionam para valer, com resultados concretos. Uma das alegações recorrentes é que isso ocorre porque as diferenças – conceituais, ideológicas, retóricas ou meramente demagógicas – se sobrepõem às afinidades. Um importante especialista no tema costuma confidenciar – fora dos holofotes – que é mais fácil duas multinacionais se fundirem em uma joint venture transnacional do que dez organizações de terceiro setor se reunirem para trabalhar juntas, deixando de lado eventuais divergências miúdas em nome do melhor impacto para o bem comum.
Outro caso sistemático é o das tecnologias sociais. Quando o conceito começou a ser discutido no final da década passada, muita gente enxergou nele uma resposta para o velho dilema da pequena escala, sempre associado às boas soluções do terceiro setor. Ao contrário do que se imagina, não faltam soluções criativas e interessantes para alguns dos graves problemas sociais do País. O que falta é vontade política dos governos de identificá-las, fora dos seus muros, e implementá-las.
A tecnologia social nada mais faz do que juntar saberes e sistematizar os procedimentos que compõem uma boa solução social, transformando-os em método de intervenção que, manualizado, pode ser replicado por agentes sociais em qualquer realidade onde se observe o problema a ser enfrentado. Inteligente? Não só. É também uma ação sustentável na medida em que poupa os recursos, tempo e energia dos que ainda tentam construir soluções que já foram criadas, testadas e aprovadas. Há melhor solução para a seca do semi-árido brasileiro do que as cisternas?
Há outra solução tão eficaz para o combate à desnutrição infantil das regiões mais pobres do que a multimistura da Pastoral da Criança?
Essas tecnologias estão aí. É desnecessário reinventar a roda. Basta fazê-la girar. Não é difícil identificar as razões pelas quais as tecnologias sociais ainda não emplacaram: os gestores públicos, a quem cabe coordenar as políticas públicas, parecem pouco atentos às boas soluções, seja por omissão ou desinformação conveniente. Primeiro, porque, já criadas, elas não lhes renderiam os créditos político-eleitorais. Segundo, porque, por serem baratas, podem ferir interesses econômicos de aliados de ocasião.
A esta altura, o leitor deve estar se perguntando o que tem a ver os conceitos de rede e tecnologia social em uma coluna sobre sustentabilidade. Tudo. Há muitas empresas cujas fundações, institutos ou departamentos específicos desenvolvem, no âmbito do seu investimento social privado, soluções que poderiam ser transformadas em tecnologia social, ganhando maior escala pela via das políticas públicas. Afinal, possuem recursos financeiros, profissionais (planejamento e avaliação) e técnicos (contam com a parceria das organizações especializadas do terceiro setor) suficientes para criar metodologias de intervenção para mudança em realidades sociais. Não lhes faltam também força política para articular alianças estratégicas com governos e envolver gestores públicos, convocando-os para que conheçam melhor e implementem as boas soluções hoje disponíveis.
O que ainda não se observa – com raras exceções – é a atuação em rede de empresas, fundações e institutos. A ocorrência desse arranjo é menos utópica do que parece. E, apesar de complexa, merece ser tentada. Do ponto de vista dos resultados para a sociedade, o impacto seria maior se, em vez de sobreporem ações, essas organizações as alinhassem a partir, por exemplo, de critérios de sinergia por áreas, temas, públicos e regiões.
Para tanto, não precisariam abrir mão de suas conveniências institucionais. Bastaria que elegessem uma agenda comum e trabalhassem juntas. Todas ganhariam com a troca de experiência e o partilhamento de recursos. Mas, sobretudo, ganharia a sociedade.

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