Paul Simpson – Parte III

Paul Simpson – Parte III

I.S: Pesquisas como a do Globescan, por exemplo, revelam que o consumidor brasileiro é um dos mais preocupados do mundo com o aquecimento global, embora ainda se mostre muito resistente a mudanças de comportamento. Como as empresas devem elaborar suas estratégias considerando esse quadro?
P.S: No Brasil e no mundo, a maioria das pesquisas revela que 90% dos consumidores querem consumir produtos sustentáveis, mas apenas entre 10% e 20% de fato consomem. A responsabilidade das empresas é induzir esse processo. Não se trata apenas de vender os produtos ambientalmente corretos, mas parar de vender os outros. Ou colocar os produtos ecológicos em locais estratégicos. O papel das empresas que estão vendendo esse tipo de produto é fornecer informação para facilitar a decisão de compra do consumidor. Podemos comprar produtos sustentáveis que custem um pouco mais caro, mas precisamos saber que a recompensa virá, por exemplo, sob a forma de redução de gastos com energia.
I.S: Como o esforço de redução de emissões deve ser integrado à pesquisa e desenvolvimento de novos produtos?
P.S: Empresas gastam muito dinheiro em pesquisas para inovação. No passado, não havia nas companhias setores destinados estritamente à inteligência ambiental. Mas já estamos vendo essa mudança, particularmente nas grandes corporações de classe mundial. Li sobre uma empresa japonesa que está produzindo uma lavadora de louças que não utiliza água. É um caso de inovação preocupado com os impactos ambientais.
Se olharmos para a Toyota, primeira empresa a produzir um carro híbrido, observamos grandes volumes de venda e adição importante de valor à marca. No momento em que vivemos, é extremamente importante que as empresas se posicionem com suas inovações.
I.S: Também é papel das empresas tentar mudar o comportamento do consumidor?
P.S: Atualmente, as empresas têm se relacionado mais com diferentes stakeholders. Acredito que podem engajá-los em questões como mudanças climáticas. Oferecendo, por exemplo, produtos melhores e mais informações para consumidores. Ou criando, para funcionários, programas de incentivo a redução de seus próprios impactos, estímulo ao uso de transporte público, de carona compartilhada ou ainda bônus a quem respeitar critérios ambientais.
Cabe às empresas também a responsabilidade de comunicar, a seus investidores, os riscos, oportunidades e medidas tomadas nos negócios. Toda corporação tem o compromisso de identificar os principais stakeholders e descobrir como informar e induzir esses grupos de interesse a agir com mais responsabilidade diante das mudanças climáticas.
I.S: Qual a postura do CDP em relação ao acordo global que está sendo negociado em Copenhague? Como as empresas devem participar dessa discussão?
P.S: É muito importante que os países definam um acordo global sobre as mudanças climáticas. Precisamos que estipulem metas de longo prazo para a redução de emissões. Já as empresas devem compreender que rumo tomarão as futuras regulações, podendo assim planejar a redução de suas emissões num horizonte de prazo mais amplo. Existe, no entanto, um grande risco de não conseguirmos estabelecer um acordo forte em Copenhague. A administração de Obama deu fortes sinais de que está disposta a assumir metas de redução. No entanto, apesar de se moverem na direção de um acordo, os EUA  ainda não se mostram tão preparados para o desafio.
I.S: É crescente a busca por  ferramentas como a do  Global Reporting Initiative (GRI) para reportar resultados socioambientais. Como esse esforço pode ser integrado à comunicação das emissões de carbono, proposta pelo Carbon Disclosure Project?
P.S: Trabalhamos muito próximos do GRI para garantir que nossos esforços estejam alinhados ao que eles estão fazendo. Precisamos trabalhar o mesmo tipo de informação.
Este tipo de informação ganhará crescente importância em todo o mundo. O reporte de emissões e resultados socioambientais, hoje voluntário, se tornará  obrigatório daqui a alguns anos.  À medida que o mundo evolui e as expectativas dos stakeholders mudam, as empresas serão cada vez mais cobradas a divulgar essas informações adicionais. Aquelas que não estabelecerem tais práticas perderão suas licenças para operar.
Você sabia?
A palavra disclosure significa revelar, prestar informações, voluntariamente ou atendendo a determinada regulação.
Sugestões de janelas de texto:
“Em 2003, apenas 245 reportaram suas emissões pela plataforma Green Gas Protocol. Atualmente são 2005, o que representa 10 vezes mais em seis anos. Estamos caminhando na direção certa.”
“Não há nada de errado em pagar um preço mais alto por produtos e serviços que ofereçam novas vantagens. O que deve existir é uma comunicação adequada. O que precisamos do governo são mais incentivos a tecnologias que facilitem o ingresso rápido desses produtos no mercado.”
“Tanto no Brasil quanto no mundo, a maioria das pesquisas revela que 90% dos consumidores querem consumir produtos sustentáveis, mas apenas entre 10% e 20% de fato consomem. O papel das empresas que estão vendendo esse tipo de produto é fornecer informação e facilitar a decisão de compra do consumidor.”
“Podemos comprar produtos sustentáveis que custem um pouco mais caro, mas precisamos saber que a recompensa virá, por exemplo, sob a forma de redução de gastos com energia.”
Box: CDP Supply Chain
A análise dos dados colhidos pelo Carbon Disclosure Project mostra que 40% a 60% da pegada de carbono das empresas de bens de consumo, tecnologia e fabricantes de maneira geral provêm da sua cadeia de fornecimento (matérias-primas, transporte, processos produtivos, consumo de energia). No varejo, esse índice pode chegar a 80%. Por isso, desde 2009, o CDP conta com um programa específico para fornecedores.
A iniciativa conta com a adesão de 40 empresas dos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil. No ano de lançamento do projeto, Vale, Celesc e Bradesco aderiram ao programa. Segundo Simone Zahran, ponto focal do CDP no Brasil, o programa Supply Chain tem dois objetivos principais. “A iniciativa possibilita que as empresas preencham o escopo três do Green Gas Protocol, que diz respeito às emissões na cadeia de fornecimento, e disseminen a governança climática efetivamente”, ressalta.
Ao integrar o projeto, as empresas e seus fornecedores acabam por gerenciar riscos, uma vez que a pressão por produtos e processos menos intensivos em carbono é crescente. Trata-se também de uma oportunidade de reduzir custos, ao identificar gargalos no consumo de energia, por exemplo, e explorar novos nichos de negócio. Além disso, é possível trocar experiências com empresas líderes do mercado.
 

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