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Responsável por grande parte da produção de lixo no mundo, o setor da construção tem duas significativas oportunidades na gestão correta de seus resíduos: uma econômica, de investir no potencial de mercado da reciclagem – ainda pouco percebido pelos empresários e a própria sociedade –, e outra mais ampla, de contribuir com soluções eficazes para o problema do saneamento ambiental, ainda crítico em muitos países
Resíduos com potencial
Uma vez que a indústria da construção responde por 30% das emissões globais de gases de efeito estufa advindos do uso da energia, 12% do consumo de água e 40% da geração de resíduos, desenvolver planos de gestão ambiental em todos os seus estágios de atuação é imprescindível para minimizar significativos impactos sobre o meio ambiente e a sociedade.
Os dados do PNUMA alertam para a urgência de utilizar os recursos (terra, energia, materiais) de forma eficiente e de promover a reciclagem e a reutilização de produtos no setor, com o objetivo de diminuir o volume de lixo enviado a aterros e os custos relacionados a esse transporte.
Aumentar a eficiência no uso dos recursos em uma construção requer mudanças já no planejamento do projeto, passando pela forma como ele é operado até chegar ao descarte, reuso e reciclagem no fim da vida útil, sendo este último estágio um dos desafios mais atuais e complexos do setor.
Se na Tendência 2 deste estudo o foco recaiu sobre a escolha de materiais sustentáveis e, na Tendência 3, na concepção de obras que vão se conectar e operar de modo integrado ao seu contexto cultural, social e ecológico, esta Tendência 4 vem somar-se ao ciclo, apresentando as razões para se fazer uma gestão adequada de resíduos e exemplos de empresas como a Pedra Verde, que vêm encontrando alternativas para a questão.
Embora de baixa periculosidade – se comparados à indústria química, por exemplo –, os resíduos eliminados pela construção civil são representativos em termos de volume gerado. No Brasil, somaram 31 milhões de toneladas em 2011, segundo estimativa do Diagnóstico dos resíduos sólidos da construção civil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo com dados de 2014 da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 70% do lixo provêm de obras de pequenos geradores, como reformas, demolições e edificações menores, e 30%, da construção formal.
A Resolução Conama 307, de 2002, regulou a responsabilidade das empresas sobre a disposição final e a prevenção dos resíduos. Entre a regularização e a prática, porém, há uma distância considerável, conforme ressalta Francisco Vasconcellos, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) em entrevista ao NEXT (na página 48).
De lá para cá, o setor aprimorou muitos métodos e ações – como a escolha mais apurada de materiais, redução de desperdícios, previsão de áreas para depósito de recicláveis, uso de madeira com manejo sustentável, práticas ambientais e sociais nos canteiros de obra, entre outras. Mas ainda tem bastante trabalho pela frente.
De acordo com o Ipea, embora 72,44% dos 5.564 municípios brasileiros apresentem serviços de manejo dos resíduos gerados na construção, apenas 9,7% (392) deles têm alguma forma de processamento, conforme mostra o gráfico a seguir. A eficácia da gestão de resíduos depende de ações coordenadas entre governos, empresas e grupos de profissionais da construção, todos envolvidos na criação de incentivos e políticas públicas.
Um bom motivo para investir seriamente na gestão de resíduos diz respeito ao seu potencial econômico, apontado pela arquiteta e urbanista Rosimeire Lima e o engenheiro civil Ruy Lima em seu Guia para elaboração de projeto de gerenciamento de resíduos da construção civil. Segundo os dois especialistas, 90% dos resíduos gerados pelas obras são passíveis de reciclagem.
Contudo, enquanto o mercado não percebe o número como oportunidade de negócio, prevalece uma visão equivocada de resíduo representa sobrecarga de trabalho e até mesmo um empecilho ao bom andamento de serviços e prazos.
Além disso, ainda sem um controle oficial de qualidade, o agregado reciclado – o produto fruto da reciclagem –, enfrenta a desconfiança do consumidor, que, muitas vezes, o considera inferior em comparação aos itens de fabricação tradicional, conforme observa André Graziano, diretor de Sustentabilidade da Pedra Verde Saneamento Ambiental, empresa que enxergou potencial econômico na prestação de serviços para a gestão de resíduos (ver entrevista na próxima página).
A distância entre os pontos de entrega e as usinas de reciclagem também constituem um aspecto crítico para a captação dos resíduos da construção; afinal, quanto maior o percurso, maior o preço final. Sem contar que as usinas precisam providenciar licenciamento ambiental, em zoneamento urbano, enfrentando possível oposição de moradores do entorno.
Apesar das barreiras, a reciclagem realizada dentro do canteiro de obra precisa ser mais estimulada e desmitificada, na medida em que reduz o volume de resíduos para descarte, o consumo de materiais extraídos diretamente da natureza, os acidentes de trabalho (devido à maior limpeza e organização das obras), os problemas com passivos ambientais, entre outras vantagens.
Do ponto de vista técnico, econômico e ambiental, portanto, a gestão de resíduos da construção civil é viável e interessante ao setor. Se amparada por políticas públicas que desenvolvam leis e regulamentações específicas e fortalecida por ações educativas e apoio tecnológico, tanto as empresas quanto a sociedade têm muito a ganhar com sua expansão.
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