Transparência – Além do voluntarismo

Transparência – Além do voluntarismo

O papel dos governos para o avanço da prática de reporting pelas empresas
O número de organizações que relatam seu desempenho ambiental, social e de governança (do inglês environmental, social and governance – ESG) é maior do que nunca. Em 2008, foram mais de 1000 balanços publicados, globalmente, de acordo com os princípios do Global Reporting Initiative (GRI), responsável pelo modelo de relatório de sustentabilidade mais utilizado do mundo. O Brasil figura entre os líderes mundiais em relação ao número de publicações desse tipo, ficando atrás apenas da Espanha e dos Estados Unidos. Mas tanto no País, quanto no mundo, as companhias que divulgam relatórios de sustentabilidade ainda são minoria.
E o recente colapso do sistema financeiro reforça a importância da transparência. Ainda que a prática de reporting por si só não tivesse condições de evitar a crise econômica mundial, o seu exercício com a devida diligência, certamente amenizaria suas conseqüências. Além disso, a recessão – que passará em um momento oportuno – ameaça mascarar a crise do século, relacionada à sustentabilidade. Estamos cientes de que o uso de nossos recursos ultrapassou os limites que o planeta poderia suportar. Também sabemos que alguns consomem muito mais do que deveriam, enquanto outros vivem em condições mínimas de sobrevivência (uma população que, segundo estimativas da ONU, está prestes a alcançar a marca de nove bilhões em 2050).
Nossos mercados e processos democráticos seriam mais fortes no enfrentamento desses desafios com acesso à informação sobre como as empresas e seus produtos estão contribuindo para resolvê-los ou agravá-los.
Por essas razões, o GRI defende que aos governos devem exigir das companhias o reporte público das suas questões econômicas, ambientais e sociais, ou que ao menos expliquem porque não podem fazê-lo. E esse movimento deve começar na própria máquina pública, incluindo empresas estatais, fundos de pensão e agências de investimento do governo.
É preciso reconhecer a postura pró-ativa de alguns países. Na França, por exemplo, os relatórios ESG tornaram-se obrigatórios há alguns anos (essa lei está atualmente em revisão e o governo está disposto a reforçar os requisitos). A Suécia também estabeleceu que todas as empresas públicas publiquem relatórios de sustentabilidade pautados nos Princípios do GRI. A Dinamarca foi além com a aprovação da lei Social Responsibility for Large Businesses. A nova lei exigirá das 1.100 maiores companhias dinamarquesas, quer no setor privado ou no público, a divulgação pública do seu desempenho econômico, ambiental e social, ou pelo menos explicar porque não o farão.
Pouco depois da aprovação da lei dinamarquesa, a Noruega lançou um relatório intitulado Corporate Social Responsibility in a Global Economy, que descreve como as empresas norueguesas podem fazer uso das ferramentas para elaboração de relatórios de sustentabilidade já existentes (incluindo o método GRI) para informar sobre seu desempenho ESG.
Alguns avanços também podem ser vistos em outras economias líderes globais.  Em janeiro de 2008, o Chinese Assets Supervision and Administration Commission incentivou à suas empresas estatais a reportarem seu desempenho econômico, ambiental e social. O Brasil também tem feito progressos encorajadores no incentivo à publicação de relatórios de sustentabilidade, por meio do Novo Mercado. No entanto, esta continua sendo uma iniciativa privada.
E quanto ao país que, por enquanto, ainda é a maior economia do mundo? Com a recente iniciativa da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (do inglês, Environmental Protection Agency – EPA) de classificar os gases de efeito estufa como inimigos da saúde pública, muitos sentem que há oportunidades para uma mudança progressiva em outras áreas da política nos EUA. Grupos poderosos de investidores estão aproveitando o momento para convidar a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (do inglês, United States’ Securities and Exchange Commission) a exigir relatórios de sustentabilidade das empresas norte-americanas.
Companhias que não reportam seus dados de sustentabilidade começam a ser cobradas por inúmeras vozes – de investidores, consumidores e agora dos governos, bem como do próprio setor. Mas nunca é tarde para aqueles que nunca realizaram seus relatórios. Se adaptar para enfrentar os desafios do futuro representa como estão bem preparados para uma realidade em contínua mudança social, econômica e ambiental, uma condição para ser de fato sustentável, em todos os sentidos da palavra.
Ernst Ligteringen, chefe executivo do Global Reporting Initiative (GRI)

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