Só sabe ensinar quem sabe fazer

Só sabe ensinar quem sabe fazer

O futuro do Real ABN Anro ao Santander pertence. Mas enquanto seus compradores, sob a batuta de Emílio Botín, não decidem se ele continuará sendo uma operação independente ou acabará absorvido pelos espanhóis, o banco que se tornou um ícone da sustentabilidade no Brasil segue investindo em projetos pioneiros.
O mais recente deles, denominado “Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade”, ou apenas “Práticas” como preferem chamar seus dirigentes, combina dois pontos muitas vezes tratados nessa coluna como fundamentais para o sucesso da gestão sustentável em uma empresa: a abordagem do tema sob o enfoque da oportunidade e a educação continuada de públicos de interesse para a inovação. A rigor, os conceitos se complementam. Não é possível inovar em modelos de produção verdes, cadeias produtivas engajadas, estratégias de negócio baseadas no triple bottom line ou desenvolvimento de produtos com valor socioambiental, sem que seus funcionários e parceiros estejam devidamente energizados e capacitados para o desafio, sem que a empresa enxergue nisso, mais do que um “imperativo moral”, uma boa razão de mercado.
O Real internalizou bem esse conceito. Primeiro, envolveu, mobilizou e capacitou funcionários. Depois, os fornecedores. Agora, o banco quer desenvolver os clientes, compartilhando com eles um conjunto de práticas construídas e incorporadas ao longo de oito anos de experiência no tema e também a crença de que não só é possível, como recomendável, fazer bons negócios com proteção ambiental e justiça social. O que move o Real, segundo o seu presidente, Fábio Barbosa, é a intenção de apresentar um atalho para empresas que desejam inserir a sustentabilidade nas estratégias de negócio e na cultura de gestão. “Precisamos de empresas melhores, numa sociedade melhor e num mundo melhor”, costuma repetir como um mantra.
Na prática, o esforço de educar empresas para a sustentabilidade baseia-se em uma plataforma variada  de ferramentas educacionais, que inclui portal de e-learning, cursos on-line,  conteúdos aberto na internet para o público em geral, oficinas, workshops, fóruns, blogs, espaços para intercâmbio de experiências e relatos de casos. O Portal será lançado em fevereiro de 2008. E o primeiro curso, marcado para começar hoje,  abordará o tema Edificação Sustentável, focando a agência do banco na Granja Viana, a primeira certificada em construção verde no País. Ao longo do primeiro trimestre do próximo ano, serão oferecidos também cursos sobre Direitos Humanos e Gestão Ambiental. Os presenciais destinam-se a empresas clientes, selecionadas pela equipe comercial do banco a partir do critério de maior sensibilização para o tema. Os encontros, palestras e workshops podem ser freqüentados por qualquer pessoa interessada.
Dois pontos chamam a atenção nessa iniciativa do Real. E, portanto, merecem destaque. O primeiro tem a ver com o espírito colaborativo que a permeia, inusitado para os padrões de mercados fortemente concorrenciais. Em um mundo no qual  cada ponto de share é disputado palmo a palmo, e as empresas, por essa razão, escondem a sete chaves o que consideram segredos estratégicos, o Real abre o que faz, sem reservas, na perspectiva elevada de criar um círculo virtuoso de melhoria de práticas sustentáveis. O outro ponto está relacionado ao objetivo do projeto. No lugar de “promover uma sensibilização”, o que lhe daria pretexto fácil para criar uma breve cartilha e agir com a superficialidade tão característica dos que tratam esse tema como algo subjacente, o Real criou uma ferramenta de geração e partilha de conhecimento.
Um instrumento que não se resume a ensinar “o que é sustentabilidade” ou “porque sustentabilidade é importante”. Mas que aborda o tema, de modo sistêmico e horizontal, sem o nariz empinado acadêmico, capacitando os clientes a enfrentar os seus “comos” – Como convencer a diretoria financeira do valor do tema para o desempenho da empresa? Como vencer resistências comportamentais? Como provar que é um bom investimento? Como identificar oportunidades? Como  desenvolver produtos socioambientalmente responsáveis? Como transformar o tema em um ativo da marca?
Como só sabe ensinar quem sabe fazer, o projeto tem tudo para dar certo. E ainda que o banco venha, mais adiante, a ser  incorporado pelo seu comprador espanhol, terá deixado como herança a força de um compromisso não só com a sustentabilidade mas com a sua disseminação no mundo dos negócios.

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