Simplicidade para se reconectar

Por que o ex-CEO da Cielo trocou a agenda agitada de workaholic por um estilo de vida mais simples e desapegado

As companhias brasileiras baseiam-se muito em um modelo de gestão que, apesar de modernizar os negócios e apresentar bom retorno financeiro, criou uma cultura corporativa focada na competitividade agressiva, no lucro acima de tudo e na entrega constante de resultados. Para os executivos e lideranças, isso se traduz em uma agenda de compromissos agitada, como muitas reuniões e viagens, carga horária intensa de trabalho, disponibilidade integral para atender telefonemas e responder e-mails.

Nesse modelo de gestão, muitos “benefícios” são oferecidos às lideranças para “compensar” essa agenda, colocando à sua disposição veículos idênticos com placas diferentes para alternar no rodízio, motoristas, seguranças, celulares, entre outras vantagens incorporadas ao status da liderança que, muitas vezes, impulsionam os profissionais a trabalhar ainda mais.

A Síndrome de Burnout é um distúrbio cada vez mais comum no mercado, e pesquisas indicam que as pessoas com maior propensão a apresentar os sintomas de esgotamento são líderes empresariais, justamente pelo acúmulo de atividades e responsabilidades. Segundo dados da Nascia, uma rede espanhola de especialistas em tratamento de estresse, 60% dos casos de Burnout associados ao estresse crônico do trabalho afetam esses profissionais, que são responsáveis por pessoas e projetos nas empresas.

Eduardo Gouveia, hoje conselheiro de empresas e investidor em startups, passou por diversos cargos de liderança antes de se tornar CEO de companhias como Multiplus, Alelo, Livelo e Cielo. O líder sentiu na pele o que um estilo de vida focado integralmente no trabalho pode causar. Depois de anos de atividade profissional intensa, Gouveia percebeu o quanto estava afastado de sua família e como aquela situação de dedicação integral ao trabalho estava influenciando negativamente sua saúde física e mental.

O estalo que teve ao perceber sua situação de estresse corporativo veio, contudo, com uma enfermidade de sua esposa. O casal, então, decidiu tirar um ano sabático em Londres, abrindo mão da vida corrida – mas materialmente bem compensada – no Brasil por um padrão mais básico e desapegado. A experiência os permitiu ver a vida de modo mais descomplicado, e ambos passaram a buscar a simplicidade como forma de autoconhecimento e de conexão com a família e a sociedade.

“Em Londres, tinha uma vida confortável, mas sem empregados, motoristas e toda a estrutura com a qual estava acostumado no Brasil. E também não carregava mais o sobrenome corporativo, que muitas vezes me proporcionou momentos de privilégios. Já na Europa, utilizávamos transporte público e andávamos a pé pelas ruas. Percebemos que não precisávamos de tudo aquilo que tínhamos anteriormente. Descobrimos que dá para se viver com poucas camisetas, três calças jeans e três pares de sapato”

De volta ao Brasil, Gouveia e sua família decidiram manter o estilo de vida simples. Diminuíram a estrutura da casa, doaram parte de seus bens e aboliram o uso do próprio carro. “Estou muito melhor que antes, mais pleno. A vida vale a pena”, afirma. Agora, busca sempre equilibrar a vida profissional com a pessoal, direcionando mais tempo para a convivência em família. Hoje, o líder tem como missão influenciar outros executivos a repensar seus caminhos e a também adotar um estilo mais simples para se viver, além de se preocuparem com outras questões além da entrega de resultados e lucros, buscando um propósito para a profissão e dando mais sentido à vida.

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